“O presidente da Câmara de Ilhéus ainda está muito jovem para que se possa dizer que está decrépito. Mas afirmar que eu participo de um complô para derrubar Valderico Reis é simplesmente uma demonstração de falta de coragem dele, do vereador Alcides Kruscheswky, e talvez também de um outro vereador que está sendo ‘pau mandado’ do governo para ficar levando notícias mentirosas para a população de nossa cidade.”
A afirmativa é do empresário e ex-secretário municipal de Administração Ozéias Gomes, indignado com as versões que circulam em Ilhéus, atribuindo a ele e ao presidente do PMDB de Ilhéus, Jorge Vianna, a participação na montagem de uma farsa para desestabilizar o governo municipal e a própria Câmara de Vereadores. Para Ozéias, o que existe na realidade é um esforço dos implicados no escândalo para distorcer a verdade dos fatos. “Como eu estaria articulando a queda de Valderico Reis, se nunca fiz nenhuma denúncia contra ele no Ministério Público ou tampouco fui à Câmara fazer qualquer acusação?”, questiona.
Para Ozéias, os vereadores que tiveram os seus nomes citados pelo subprocurador deveriam, juntamente com o presidente Raymundo Veloso, ter “coragem e a grandeza” para procurar o prefeito e o próprio Gerbson e exigir deles uma declaração pública que os eximisse de qualquer responsabilidade no episódio. “Com o que está ocorrendo, fico com a impressão de que o presidente da Câmara não tem o brio necessário para encarar o problema de frente e tenta apresentar a mim e ao Dr. Jorge Vianna como artífices de uma conspiração”, acentua.
Verdadeira
Segundo Ozéias Gomes, essa versão, de tão absurda, soa ridícula. “Jorge Vianna é um homem que trabalha de 10 a 12 horas por dia, ninguém o vê conversando em ‘ponta de rua’ ou tomando cachaça pelos botecos”, destaca, lembrando que, no seu caso, o mesmo acontece. “Minha vida é dedicada ao trabalho, jamais me prestaria a ficar pelas esquinas conspirando contra ninguém, até porque não tenho medo de ninguém e costumo encarar os problemas de frente”, garante.
Outro ponto destacado pelo ex-secretário de Administração é que jamais se omitiu nas vezes em que presenciou algo de errado na Prefeitura. E se a questão dizia respeito à sua área de atuação, procurava o gabinete do prefeito e expunha o seu ponto de vista. “Sempre fiz as minhas críticas diretamente a Valderico, quando necessário”, assegura, salientando que na última oportunidade em que esteve com o prefeito conversou justamente sobre as denúncias que pesavam sobre ele, obtendo, como resposta, a informação de que havia um “complô” contra o governo, patrocinado por Jorge Vianna e o vice-prefeito Newton Lima. O desmentido, segundo Ozéias, foi imediato: “Não há nada disso, o que existiu na verdade foi uma conversa e eu estava presente”, afirmou. Valderico também foi informado naquele momento de que o vice-prefeito sequer permanecera no local e que o deputado Geddel Vieira Lima estivera em Ilhéus no outro dia, quando pôde ver a fita gravada pelo vereador Zerinaldo Sena.
Segundo Ozéias, o prefeito Valderico Reis ouviu dele, com todas as letras: “A fita é verdadeira e você está em maus lençóis!”. Também aconselhou o prefeito a procurar resolver a questão, afirmando que a situação era “séria”, e manifestou a sua disposição de deixar o cargo de secretário de Administração. “Naquela oportunidade, disse a Valderico que não podia continuar num governo que estava apodrecendo e agora afirmo ao presidente da Câmara, que sempre se mostrou meu amigo durante 30 anos e me cobria de elogios: eu estou lhe estranhando, você está ‘amarelando’ diante do problema?”, questiona.
Governo podre
Ozéias Gomes diz que, em relação a isso, existe um detalhe importante: se for para derrubar um governo podre, corrompido do jeito que os vereadores dizem na Câmara e a própria sociedade afirma, não haveria nenhuma necessidade de sua participação direta. “Valderico não foi eleito para fazer as badernas que todos estão vendo, para a filha dele governar Ilhéus e sim para trabalhar para o bem do município e resolver os problemas do seu povo”, assinala. Ele destaca que, a esta altura, o prefeito não conseguiu, sequer, realizar uma simples operação “tapa-buracos” na cidade. Outro ponto destacado por Ozéias Gomes é que a cidade está entregue às moscas, a saúde está totalmente desarrumada, foram roubados quase todos os equipamentos da área odontológica, a inoperância na recomposição das áreas urbanas é evidente e a própria estrutura administrativa da Prefeitura é absolutamente caótica. “Até o pessoal da Contabilidade, que ele trouxe de fora, não merece confiança e a prova disso é que eles deixaram passar uma nota de compras imoral, referente à aquisição de peças íntimas numa loja especializada em erotismo”, ressalta.
O ex-secretário de Administração destaca que quando disseram na Câmara que dois “dinossauros da política” estavam sendo ressuscitados em Ilhéus – ele próprio e o ex-deputado Jorge Vianna -, erraram completamente. “Eu e Jorge Vianna somos dois valentes guerreiros, que dedicamos tempo integral ao trabalho, mas não podemos resolver o problema de um cidadão que não tem noção do seu mandato, que ao invés de estar preocupado com os problemas do município, fica criando esse tipo de situação”, assinala. O que é preciso – prossegue – é que os vereadores apurem de fato o que aconteceu, se a gravação é autêntica ou não, se existe montagem ou não… enfim, que o povo de Ilhéus tome efetivamente conhecimento das verdades dos fatos. “A mim não deve ser cobrado nada, porque não acusei ninguém, não citei o nome de nenhum vereador, não criei dificuldades para ninguém. Saí porque estava no lugar errado, com as pessoas erradas, numa administração errada”, enfatiza.
Ainda de acordo com Ozéias, o que se sabe é que o vereador Zerinaldo Sena já acionou o Ministério Público, que deve investigar o governo por impobridade administrativa. E isso, segundo ele, vai acontecer porque a gestão é fraudulenta. “Será que todo mundo da cidade está mentindo? Por que um governo centraliza todas as suas ações numa secretaria e numa procuradoria?”, pergunta, salientando que “a Secretaria de Administração foi desmontada, o mesmo acontecendo com as secretarias de Planejamento e do Interior… “A troco de quê?”, desafia.
Comissão suspeita
Ozéias Gomes diz também que considera a Comissão Especial de Inquérito, recentemente constituída para investigar as denúncias contra o governo e vereadores, “suspeita” para realizar a investigação. “A vereadora Carmelita tem condições de realizar um trabalho sério e digno, mas os outros dois não”, diz, referindo-se aos vereadores Alcides Kruscheswky e Aldemir Almeida. Segundo Ozéias, Alcides Kruscheswky, da forma em que se esmera em denegrir a imagem de pessoas responsáveis e honradas, não é digno de crédito. “Prova disso é a forma como ele se conduziu quando administrou Olivença, comportando-se de forma absolutamente passional ao tratar dos problemas dos índios”, assegura Ozéias, que sentencia: “Ele não dignifica a memória do avô, o ilustre ilheense Alcides Kruscheswky!”. Quanto ao vereador Aldemir Almeida, o ex-secretário lembra de que ele faz parte do grupo de Valderico Reis, é freqüentador assíduo do gabinete do prefeito. “Talvez ele seja a pessoa que fica levando e trazendo as ‘fofocas’ que têm o objetivo de causar intrigas entre o presidente da Câmara e eu”, destaca Ozéias, salientando: “Vereador, o senhor é um médico e deveria ter vergonha de se prestar a um papel desses.”
Ainda de acordo com o ex-secretário, estranhável é que o presidente da Câmara tenha se deixado influenciar por essas intrigas, até porque, em conversa com ele, deixou bem claro que Zerinaldo Sena jamais citou o seu nome ou o de outros de vereadores. Quem fez isso foi o prefeito, através do seu subprocurador. Para ele, o foco da questão é um só: os vereadores devem entrar com um processo contra o prefeito e o subprocurador Gerbson Morais, e promover uma investigação realmente minuciosa e séria sobre os acontecimentos. “É isso que todos os homens de bem de Ilhéus e da própria Bahia esperam”, garante.
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