A notícia de que havia uma fita em que o subprocurador da prefeitura, Gerbson Moraes, o Gerbinho, tentava subornar o vereador Zerinaldo Sena (PTB), amplamente divulgada pela imprensa, caiu como uma bomba. “Se a fita aparecer, comprovando a denúncia, vamos abrir uma Comissão de Inquérito, apurar tudo e tomar as providências cabíveis”, anunciou o presidente da Câmara, Raimundo Veloso (PPS).
“Queremos apuração total, com apoio do Ministério Público e da Polícia Federal”, afirmou Magno Lavigne, líder do Movimento pela Ética na Política de Ilhéus (MEP). Todos querem saber da fita. O vereador Zerinaldo Zena, o Zeri, pivô do escândalo, sumiu. A casa dele permanece trancada desde domingo, os vizinhos dizem não saber o paradeiro e ontem, à tarde, não compareceu à sessão da Câmara de Vereadores. Motivo: estaria recebendo ameaças de morte.
“Cadê a fita? Cadê as provas? Quem são os vereadores implicados? Meus sigilos estão todos abertos para quem quiser ver. Se o prefeito tiver pagando mensalão aqui é muito burro, porque só tem levado pau”, disse o vereador Marcos Paiva (PPS). Na fita, estaria dito que dos 13 vereadores apenas três, Joabs Ribeiro (PP), Jailson Nascimento (Prona) e Carmelita Oliveira (PT), não estariam no esquema.
A grande expectativa é sobre o aparecimento da fita. Indignados, os vereadores colocados sob suspeita afirmam que em Ilhéus o escândalo está acontecendo ao inverso. Garantem que nos outros lugares primeiro a fita aparece para depois o problema se instalar. “Aqui, os nomes são apontados sem que nada prove que eles são pelo menos citados”, desabafou Paiva, assinalando que Zerinaldo é seu inimigo, por conta de disputas políticas no distrito de Inema.
Como o escândalo estourou e Zerinaldo sumiu, a confusão se instalou. O presidente da subseção da OAB em Ilhéus, Leonel Cristo Pontes, que também é delegado aposentado da Polícia Federal, contou ontem que no sábado foi convidado por um grupo de pessoas a participar de um encontro no qual Zerinaldo confirmou a existência da fita e o teor.” ‘Você está me dizendo algo grave, e, quando tomamos conhecimento de fatos que tem indícios criminosos, não podemos guardar’, adverti ele”, afirmou.
Leonel disse que se comprometeu a acompanhar Zerinaldo até a Polícia Federal para o vereador fazer a entrega e contar tudo que sabe sobre o que a fita contém, o que poderia ser feito até no domingo. “Mas no sábado mesmo ele me disse que iria viajar para o interior porque estava sendo ameaçado”, falou Leonel, explicando que o próprio Zerinaldo sugeriu que a entrega fosse feita nesta quarta-feira. Como hoje a Polícia Federal está em festa, comemorando os 40 anos de instalação em Ilhéus, o fato só poderá acontecer amanhã.
APOIO – Zerinaldo elegeu-se presidente da Câmara, cargo que ocupou até dezembro último, como integrante do grupo do ex-prefeito Jabes Ribeiro. Em outubro, após a vitória de Valderico Reis, então no PMDB, imediatamente passou para o lado do vitorioso. Embora não tenha eleito um único vereador em outubro, Valderico começou o mandato em janeiro com apoio de oito.
Zerinaldo assumiu a Secretaria de Transportes do município, deixando na Câmara o suplente, Egídio Alves (PST). Em junho, voltou para a Câmara, já na oposição. Dois outros vereadores, Raimundo Veloso, o presidente da Câmara, e Marcos Paiva, que apoiavam o prefeito, também passaram para a oposição.
Embora alguns vereadores afirmem que o mensalão não se justifica porque o prefeito não consegue aprovar os projetos, o ex-deputado Jorge Viana, que até a semana passada era secretário de Agricultura e Pesca, afirma que é exatamente aí que está o nó da questão: o prefeito passou a ter necessidade de reconquistar a maioria.
“Fui leal até sexta-feira”, garante prefeito
Homem de pouca cultura, fala truncada, rico e com fama de mulherengo, Valderico Reis reinava absoluto explorando os transportes coletivos de Ilhéus com a empresa Gabriela até o dia em que o seu antecessor, Jabes Ribeiro (PFL), decidiu licitar de duas vezes, em 2000 e 2003, a exploração das linhas de transportes urbanos.
As empresas São Miguel e Viametro venceram as licitações e pagaram respectivamente R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões à prefeitura pelo direito de explorar a concessão. Doído com a perda e aproveitando-se do grande desgaste que Jabes Ribeiro, com oito anos de mandato, enfrentava, Valderico decidiu se candidatar a prefeito e venceu com mais de 35 mil votos.
“Ele chegou a prender meus ônibus”, diz o prefeito, referindo-se ao fato de que, após as licitações, ainda tentou insistir na exploração e foi reprimido pela polícia. “Queria mesmo era dar minha contribuição para Ilhéus”, diz ele, que ganhou a legenda do PMDB, dada pelo deputado Geddel Vieira Lima.
Quando Valderico recepcionou festivamente ACM Neto em Ilhéus, ganhou a ira de Geddel. “ACM Neto chegou e me disse que não queria saber de política, só do que ele poderia fazer pelo município”, justifica-se o prefeito.
Valderico quer mesmo é fazer a dobradinha de ACM Neto com a filha dele, Luciana Reis, a quem acusam de ser a mandatária de fato da prefeitura. “Eu não traí o PMDB. Fui leal até sexta-feira, quando soube que ele pretende me expulsar”, queixou-se dizendo que agora vai procurar um partido no qual não sofra mais tais situações.
É a essa circunstância que Valderico atribui a origem do escândalo em Ilhéus. Alguns vereadores afirmam que a idéia era cassar o prefeito para entregar o cargo ao vice Nilton Lima (PMDB). De fato, Nilton participou de algumas articulações com adversários peemedebistas do prefeito, mas ontem, almoçando com o Valderico, estava com outra postura.”O anúncio da expulsão de Valderico do PMDB me alcançou. Por isso resolvi me desfiliar também”, anunciou ele, que é secretário de Esportes do município.(L.V.)
Diálogos da corrupção, segundo Jorge Viana
O ex-deputado Jorge Viana reafirmou ontem que, na quinta-feira passada, ao lado do deputado federal Geddel Vieira Lima, do secretário Ozéias Gomes (que está demissionário), de Ricardo Gomes, filho de Ozéias, de Zerinaldo e uma assessora dele, além de outra pessoa que não lembra, assistiu às imagens da tentativa de suborno gravadas em três CDs. Veja trechos da gravação reproduzidos segundo relato de Jorge Viana.
z Cena 1 (primeiro CD) – Gerbinho aparece, ao lado do secretário Jorge Cunha, e diz:
– Vim aqui em nome do prefeito fechar um acordo com você.
Zeri responde:
– Você sabe que eu não faço política por dinheiro.
Gerbinho afirma:
– Todos recebem, por que você não recebe?
– Quem recebe?
E a partir daí nomes são citados e só três vereadores poupados.
z Cena 2 (segundo CD) – Gerbinho aparece:
– Vim trazer o dinheiro (R$ 6 mil). Mas cobro comissão de R$ 500. E estou precisando de R$ 150.
Tirou os R$ 150 e entregou R$ 5.350.
z Cena 3 (terceiro CD) – Gerbinho aparece e Zerinaldo se espanta:
– Foi você quem veio? Eu pensei que fosse Valderico.
Queria devolver o dinheiro a ele pessoalmente.
As três cenas, segundo Jorge Viana, ocorrem numa sala de visitas de uma casa onde fica sofá e uma poltrona amarelos. Na primeira cena Gerbinho senta numa ponta e Zerinaldo noutra.
Levi Vasconcelos
A TARDE