A informação é do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), que estima em quase R$ 16 bilhões o impacto financeiro da decisão dos senadores.
O governo Lula havia proposto o aumento do mínimo de R$ 260 para R$ 300 a partir de maio. A Câmara aprovou a proposta. O Senado, no entanto, aproveitou a desarticulação da base aliada com a crise política e aumentou o mínimo para R$ 384,29, em decisão retroativa a 1º de maio. O impacto desse aumento apenas neste ano é de R$ 15,966 bilhões, segundo cálculos do Ministério do Planejamento.
Para o ministro, é necessário reforçar o princípio da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) que exige que, quando haja um aumento de despesa, também exista uma receita para cobrir esse gasto.
O texto do mínimo agora voltará para a Câmara dos Deputados, onde o governo tentará restabelecer o valor do texto original. A nova votação precisa ocorrer até o dia 19.
Bernardo disse que irá procurar o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), e os líderes partidários para explicar que isso não tem sustentabilidade fiscal nem para o governo federal nem para os municípios. Os benefícios da Previdência Social são atrelados ao salário mínimo.
Caso o texto do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) aprovado ontem seja também aceito pelos deputados, Bernardo afirmou que não haverá dinheiro no Orçamento para arcar com a despesa. “É uma irresponsabilidade que não vai beneficiar ninguém.”
Ele aposta que diversos prefeitos, inclusive do PFL, irão a Brasília pedir que o valor seja restabelecido em R$ 300.
A decisão, entretanto, deve representar um desgaste para o presidente, que durante a campanha eleitoral em 2002 prometeu dobrar o poder de compra do salário mínimo em quatro anos.
Além disso, o salário mínimo, em caso de veto presidencial, irá retornar ao valor do início do ano, que era de R$ 260. “Eu acho que a Câmara vai entender isso aí e não vai querer jogar com um impasse”, avalia.
A decisão de ontem do Senado fez o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) cancelar o seminário que iria ocorrer hoje para discutir a proposta do deputado federal Delfim Netto (PP-SP), que propõe a redução do déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo os gastos com juros) até chegar a zero.
Além de Delfim, participariam do evento os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Antonio Palocci (Fazenda), os senadores Aloizio Mercadante (PT-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Rodolpho Tourinho (PFL-BA), e o presidente do Ipea, Glauco Arbix.
ANA PAULA RIBEIRO
Folha Online