“Essa é uma outra forma de entender nossa sociedade atual. Por que esperar anos para estudar o material que já está ali? Vamos fazer agora a análise de dados para as gerações futuras”, afirma o engenheiro André Wagner Oliani Andrade, autor da pesquisa.
Cerca de 1,4 tonelada de lixo foi coletada por meio de escavações em diversos pontos do aterro, que possui uma área total de 150 mil m2. A análise preliminar desse material leva a dois resultados, afirma Andrade: entre 80% e 90% dos objetos coletados não precisariam estar ali, pois eram passíveis de reutilização ou reciclagem, e o tempo necessário para a decomposição dos resíduos não corresponde ao previsto.
O trabalho reuniu uma equipe de aproximadamente 40 pessoas e corresponde à tese de doutorado de Andrade, que deve ser concluída até o fim deste ano. Dos 14.693 itens encontrados no local, a maioria era feita de plástico. O material é reciclável, mas, em Mogi das Cruzes, onde o aterro está instalado, a coleta seletiva foi instituída há apenas 18 meses.
O aterro de Volta Fria começou a ser utilizado em 1994, como um lixão –solução mais freqüente para o despejo de resíduos no país: são 4.642 lixões, 1.231 aterros controlados -nos quais o lixo é enterrado– e 931 aterros sanitários –onde há captação de chorume e gases–, segundo dados de 2000 da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, do IBGE.
Em 1998, o aterro de Volta Fria foi transformado num aterro controlado, em que só poderia ser despejado lixo doméstico. Entretanto, a pesquisa encontrou material hospitalar e industrial no local, que foi desativado em janeiro do ano passado e o lixo da cidade passou a ser levado para o aterro sanitário de Itaquaquecetuba.
De acordo com André Saraiva, engenheiro ambiental da Prefeitura de Mogi das Cruzes, o município tem poucas áreas disponíveis para a instalação de um aterro, já que grande parte do seu território é região de mananciais.
AMARÍLIS LAGE
Folha de S. Paulo