Em primeiro lugar, Marta não atingiu o peso ideal e continua obesa. Hoje, pesa 120 kg. Também desenvolveu osteoporose nos joelhos, teve queda de cabelo e seus dentes começaram a quebrar e a apresentar cáries.
Ela é apenas um exemplo de um universo de pacientes que desenvolvem distúrbios ainda pouco explicados depois da cirurgia. Um levantamento feito pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, com pessoas que reduziram o estômago há mais de cinco anos, revelou alguns reflexos que estão preocupando os especialistas.
Após a cirurgia, espera-se que o paciente emagreça a quantidade almejada e volte a engordar, no máximo, dez quilos. Somente 7,84% deles mantiveram o peso.
Houve casos de pessoas que se endividaram comprando coisas sem necessidade porque não conseguiam mais comer e 18% se envolveram com álcool. “Eles passaram a aproveitar o benefício social do emagrecimento e começaram a beber excessivamente”, diz a psicóloga Marlene Monteiro.
Segundo a dentista do HC Vera Lúcia Kogler, 80% estavam com os dentes quebradiços e 60% se queixaram do aumento no número de cáries. “Acreditamos que haja uma descalcificação dos dentes porque o paciente deixa de ingerir alimentos fundamentais.”
A queda de cabelo, constatada em alguns casos, também tem relação com a alimentação inadequada. Pelo menos 120 mulheres operadas procuraram o Instituto do Cabelo, em São Paulo.
“Como há pouca absorção de nutrientes fundamentais para o folículo capilar, por exemplo, a vitamina B, as células capilares não se multiplicam de maneira saudável e o cabelo pára de nascer”, explica o geneticista e tricologista (especialista em cabelos) Luciano Barsanti.
O cirurgião Nilton Kawahara, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, afirmou que, apesar de a amostragem ser restrita, os números preocupam.
As conseqüências pós-cirúrgicas esperadas, segundo ele, seriam alguns casos de anemia, osteoporose e enfraquecimento das unhas. “Geralmente, os pacientes não fazem o acompanhamento correto depois da operação. Acham que só a cirurgia basta. Por isso estamos buscando alternativas para corrigir esses problemas e tratar essas pessoas.”
FERNANDA BASSETTE
Folha de S.Paulo