É uma sociedade religiosa fundada em 22 de julho de 1961 por José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel. Hoje a UDV, como é chamada, possui 116 núcleos localizados em diversas cidades, em todos os estados do país, além de alguns núcleos no exterior (Espanha e Estados Unidos). Segundo seu censo interno, a instituição conta atualmente com 11 mil sócios.
Quem é Mestre Gabriel?
José Gabriel da Costa nasceu no dia 10 de fevereiro de 1922, na Bahia, numa fazenda em Coração de Maria, próximo a Feira de Santana. Era filho de lavradores. Em 1943 foi para a Amazônia como “soldado da borracha”. Trabalhou como seringueiro, inicialmente no Território de Guaporé (atual estado de Rondônia). Morou também em Porto Velho, onde casou-se com Raimunda Ferreira, conhecida como Pequenina. Em abril de 1959, no seringal Guarapari, na região de fronteira do Brasil com a Bolívia, José Gabriel tem contato com o chá Hoasca, e a partir dessa data inicia sua missão ligada à UDV. Juntamente com seus primeiros discípulos (alguns destes ainda hoje presentes e atuantes na direção da UDV), Mestre Gabriel começou a estruturar as bases da União do Vegetal como uma sociedade formalmente instituída. Preparou um quadro de mestres que, após o seu falecimento, em 1971, vem dando continuidade ao seu trabalho.
Toda a doutrina transmitida pelo Mestre Gabriel é fundamentalmente cristã e reencarnacionista. Os ensinamentos da UDV são transmitidos oralmente nas suas sessões, de acordo com critérios próprios, e as sessões acontecem rotineiramente em seus templos, que são as sedes dos núcleos.
Como está organizada a UDV?
A Sede Geral está situada em Brasília. Lá se reúne o Conselho da Administração Geral, órgão máximo da instituição, do qual faz parte o Mestre Geral Representante, que é a autoridade máxima do Centro, eleito para um mandato de 3 anos. Cada núcleo tem um Mestre Representante, o responsável pela distribuição do chá em sua localidade. Este também é eleito para exercer um mandato de 3 anos. O quadro de mestres da UDV responde pela transmissão fiel da doutrina e dos ensinos transmitidos originalmente pelo Mestre Gabriel.
Os adeptos da União do Vegetal bebem um chá em seus rituais? Que chá é esse?
É o chá Hoasca, também conhecido por Vegetal.
Do que é feito e como é preparado o chá Hoasca?
Do caule do cipó Mariri (Banisteriopsis caapi) e das folhas do arbusto Chacrona (Psychotria viridis). Pedaços do cipó Mariri são cozidos em água, junto com as folhas de Chacrona.
E qual a origem desse chá?
Esta origem é contada num dos ensinamentos fundamentais da UDV, transmitido exclusivamente em suas sessões. O Mariri e a Chacrona são naturalmente encontrados na Floresta Amazônica. Segundo relatos de pesquisadores, há pelo menos 150 anos o uso do chá Hoasca no Brasil é cientificamente documentado. Existem estudos antropológicos que apontam seu uso desde a era pré-colombiana na América do Sul.
Por que a União do Vegetal usa o chá Hoasca em seus rituais?
Para efeito de concentração mental. O chá facilita o auto-exame e a introspecção.
Como a UDV faz uso do chá? Exclusivamente dentro do seu ritual religioso. Os adeptos bebem o chá e se concentram para as sessões, que duram quatro horas e são realizadas a cada 15 dias.
Que efeitos o chá provoca?
Os efeitos podem variar por diversas razões. De maneira geral, ele provoca uma maior sensibilização, que pode levar ao que alguns pesquisadores chamam de um “estado ampliado” de consciência, permitindo percepções profundas a respeito de si mesmo e vivências de cunho ético, intelectual e espiritual. O chá e a doutrina da UDV, em resumo, são elementos indissociáveis na prática religiosa da UDV e conduzem seus adeptos a uma elevação do pensamento, durante as sessões, e à evolução espiritual como proposta de um caminho religioso.
Esse chá é o mesmo utilizado nos rituais do Santo Daime?
O Mariri e a Chacrona também são utilizados pelo Santo Daime em seus rituais. Pelo que sabemos, o chá é preparado a partir das mesmas plantas.
O chá provoca alucinações?
Não. Alucinações são experiências visuais ou auditivas de natureza fragmentária, desintegradora. Ao contrário disso, o uso do chá Hoasca utilizado no contexto da UDV tem caráter integrativo e muitas vezes revelador. A pessoa consegue fazer um exame de si mesma. A comunhão do Vegetal dentro do trabalho realizado na UDV tem efeitos definidos por seus adeptos como educativo e construtivo. Ou seja: o chá Hoasca conduz a um estado de lucidez. Durante as sessões, sob o efeito do chá Hoasca, a pessoa não perde a consciência. Algumas vezes o adepto vivencia, durante a sessão, o que se pode descrever como “um sonho acordado”, que chamamos de “mirações”.
O chá Hoasca não é droga? Qual a diferença dele para o LSD, por exemplo?
As diferenças são muito grandes. A mais evidente é que o Vegetal não provoca desajuste mental ou social. Pelo contrário, provoca um ajuste. São inúmeros os depoimentos de pessoas que transformaram suas vidas para melhor depois de passar a freqüentar a UDV. Além disso, ao contrário do que acontece com as chamadas drogas de abuso, o uso do Vegetal não causa os fenômenos que caracterizam dependência de substâncias, como crises de abstinência ou tolerância (Ter que usar doses cada vez maiores). E também não se observam entre seus usuários o prejuízo no trabalho e o desajustameto familiar tipicamente observados entre os dependentes de álcool e outras drogas, que passam a viver em função da obtenção e uso daquelas substâncias, manifestando assim um importante desajustamento social.
Mas esse chá não faz mal à saúde?
Não. Ele é comprovadamente inofensivo à saúde, de acordo com a palavra do Mestre Gabriel e com o que podem confirmar os milhares de associados da UDV. Ao longo do tempo, esta verdade está sendo também confirmada por estudos acadêmicos. Uma comprovação incontestável é o fato de a UDV ter mais de 40 anos de história e contar hoje com 11 mil associados, tendo já inúmeras famílias com 3 ou 4 gerações sendo geradas em contato constante com o chá Hoasca, sem qualquer prejuízo para a saúde física, mental e para a ação social dessas pessoas. Além disso, algumas pesquisas acadêmicas vêm sendo promovidas por instituições nacionais e internacionais de renome, com diversas abordagens, todas elas em alguma medida reafirmando a inofensividade do chá Hoasca. Para a UDV não existe a necessidade de a palavra do Mestre Gabriel ser confirmada através de pesquisas, mas a instituição está aberta a cooperar com centros de pesquisa que, com uma proposta bem fundamentada, se disponham a estudar criteriosamente o assunto. Nossa comunidade tem participado de diversos tipos de estudo dessa natureza. A resolução nº 5, do Conselho Nacional Antidrogas (Conad), de 4 de novembro de 2004, reconheceu que jamais foi compravado qualquer efeito prejudicial a seus usuários e admitiu o uso religioso do Chá.
Se a União do Vegetal tem convicção de que o chá é inofensivo à saúde, por que abre as portas para pesquisas científicas?
Porque estamos trabalhando em uma área (na palavra de alguns pesquisadores) que é muito pouco conhecida cientificamente. Enquanto a ciência avançou muito em algumas áreas, uma substância como a Hoasca, que existe há mais de dois mil anos, ainda é praticamente desconhecida do ponto de vista científico.
Que pesquisas já foram feitas?
Até 1991, o que se conhecia do ponto de vista científico a respeito do chá eram principalmente publicações da área de botânica, fitoquímica e da antropologia. Não se tinha um conhecimento científico mais substancial em relação à ação dele em seres humanos. Foi realizado, então, em 1993, o Projeto Hoasca, com o objetivo de responder duas perguntas básicas: O chá Hoasca utilizado no contexto da UDV é seguro? e Como ele age no cérebro? Mais de 30 pesquisadores de nove instituições participaram do projeto coordenado por Charles Grob, da Divisão de Psquiatria da Criança e do Adolescente (Los Angeles, Califórnia).
Como foi desenvolvido o projeto?
Um grupo de 15 usuários freqüentes do chá Hoasca há mais de 10 anos foi submetido a uma série de exames e avaliações físicas e psiquiátricas. Os resultados foram comparados aos de um grupo controle, composto de 15 pessoas que nunca tinham bebido o chá Hoasca.
A que conclusão chegaram os pesquisadores?
Que existe segurança no uso ritualístico religioso da Hoasca que é feito pela UDV. Eles observam, porém, que se trata de um estudo-piloto, o primeiro desta natureza realizado no mundo, e que novas pesquisas precisam ser conduzidas para poder confirmar essa conclusão. Sendo um primeiro estudo piloto, suas observações são importantes: dos 15 usuários do chá, por exemplo, 11 tinham problemas de alcoolismo antes de começarem a freqüentar a UDV. E todos pararam de usar álcool e nunca mais voltaram a beber. Sabemos que tratar alcoolismo é algo dificílimo. Essa constatação é tão impressionante que os pesquisadores chegaram a olhar o uso do chá no contexto religioso como mais uma possível solução para o problema do alcoolismo. Pelas afirmações contidas no estudo, os aspectos farmacológicos do chá Hoasca, que possui prováveis efeitos antidepressivos, associado à prática religiosa proposta pela UDV têm importância no combate ao vício. Mas as conclusões indicam que estudos mais profundos e extensivos ainda devem ser realizados.
Como estava a saúde dos usuários de Hoasca?
O que os psiquiatras verificaram é que o grupo de pessoas da UDV demonstrava um grau de saúde física e mental muito bom. Tanto em relação às pessoas com as quais foram comparadas, como também em relação à seguinte comparação: pessoas que bebem álcool repetidamente apresentam um alto grau de deterioração da saúde. Quem bebe álcool, fuma maconha ou cheira cocaína tem problemas advindos dessas práticas. E nas pessoas que bebem o Vegetal não se detectou qualquer problema de saúde ou situação semelhante.
Mais algum trabalho científico envolvendo o uso do chá pode ser mencionado?
Sim. A pesquisa “Hoasca na Adolescência”, desenvolvida a partir de 1997, foi conduzida por uma equipe binacional da Universidade da Califórnia e da Universidade Federal de São Paulo. Seu objetivo era fazer uma avaliação neuropsicológica e social do adolescente urbano que bebe o chá regularmente na UDV, saber quem ele é, o que pensa, quais seus valores e se apresenta alguma diferença que possa indicar que o chá esteja causando dano ao desenvolvimento neuropsicomotor, quando comparado a jovens da sua idade que nunca beberam o chá. Os resultados foram entregues ao Ministério Público Federal em dezembro de 2004, concluindo a comprovação solicitada por aquele órgão sobre a inofensividade do Vegetal para crianças e adolescentes. Embora a pesquisa também não seja conclusiva, dá indícios claros de que as crianças que usam o Chá desde a tenra infância são normais em todos os aspectos.
Que trabalhos realizados pela UDV expressam seus princípios doutrinários?
A doutrina e os princípios éticos professados pela UDV transmitem equilíbrio, promovem a prática do bem e incentivam seus adeptos à conduzir sua vida dentro de um símbolo de União e de fraternidade humana: Luz, Paz e Amor. O principal trabalho realizado pela UDV pode ser testemunhado pelo equilíbrio e bem estar obtidos por seus milhares de associados, graças à assimilação dos ensinamentos e sua prática efetiva. Paralelamente à sua atividade religiosa, a UDV mantém instituições beneficentes em numerosas cidades, dirigindo sua ação preferencialmente a menores e idosos carentes, pois busca sempre integrar-se ao meio social no qual está presente. Tal atitude tornou a UDV reconhecida oficialmente como instituição de Utilidade Pública Federal. O mesmo reconhecimento oficial se repete em diversos outros estados e municípios onde mantém suas unidades administrativas. Existe também uma ONG ambientalista estruturada junto à UDV, mantida e dirigida por seus associados – A Associação Novo Encanto de Desenvolvimento Ecológico.
Qual é o trabalho realizado por essa ONG?
Além de responder pela manutenção de um seringal e de algumas áreas de reserva florestal, a Novo Encanto tem o objetivo de divulgar princípios de respeito e preservação ao meio ambiente. Os próprios núcleos da UDV costumam estar instalados em áreas de floresta, pois de acordo com as leis internas da instituição, cada núcleo deve ter seu próprio plantio de Mariri e Chacrona como forma de garantir a disponibilidade das espécies utilizadas na preparação do chá Hoasca sem causar devastação de áreas de floresta. Pela própria origem da instituição, o respeito à natureza é parte dos princípios básicos da UDV.