Não apenas após o fim trágico e precoce da carreira da carioca Cássia Rejane Eller, vítima de quatro paradas cardiorrespiratórias após sofrer fortes crises nervosa e depressiva, mas também durante sua vida, a cantora era tida por fãs e imprensa como agressiva, de personalidade forte. É essa imagem que cai por terra com o trabalho dos jornalistas Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi.
“Apenas uma Garotinha” chega hoje às livrarias. No final do ano, outra obra sobre um nome da música brasileira, também pela editora Planeta, ganha o mercado: uma gigantesca análise da trajetória artística de Roberto Carlos feita pelo historiador Paulo César de Araújo, que escreveu o obrigatório “Eu Não Sou Cachorro, Não”.
A vida de Cássia Eller foi exposta após sua morte. Havia usado drogas, mas passou por tratamento de desintoxicação. Sua companheira de mais de 14 anos, Maria Eugênia Martins, e o pai da cantora, Altair Eller, lutaram na Justiça pela guarda de Chicão, filho de Cássia que, na época de sua morte, tinha oito anos. Após acordo, o menino ficou com Eugênia.
Desde setembro de 2003, Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi realizaram mais de 50 entrevistas –dez das fontes preferiram permanecer anônimas. Da família de Cássia, duas de suas irmãs –ela tinha ainda um irmão– e alguns integrantes da banda que a acompanhava não quiseram falar. “Tivemos uma longa negociação com Maria Eugênia e com o empresário da Cássia, Ronaldo Villas. A única restrição foi em relação à privacidade do Chicão”, diz Belo. “Esta não é uma obra sensacionalista, apenas reveladora.”
Nascida no Rio, Cássia Eller descobriu a homossexualidade com pouco mais de dez anos. Incomodada, a família mudou-se para Brasília. “Sua infância foi difícil, devido às mudanças de endereço, de doenças”, conta o autor. “Ela era travessa, gostava de jogar futebol e andar de carrinho de rolimã. Com dois anos ganhou um rádio da mãe. A vida dela sempre girou em torno da música.”
Ainda adolescente, Cássia passou a se apresentar em bares de Brasília. Freqüentava rodas de atores e fez teste para participar de um musical de Oswaldo Montenegro, “Veja Você Brasília” –depois batizado como “Cristal”. “Ali chegou à conclusão de que era isso que queria e passou a se apresentar profissionalmente.”
Lançou o primeiro álbum, homônimo, em 1990. Vieram discos ao vivo, parcerias com Nando Reis e, em 2001, estrelou o ultradiluidor “Acústico MTV”.
“A Cássia estava no auge. Não que tenha sido decisivo para sua morte, mas ela ficava incomodada com o sucesso, pois jamais se considerou merecedora desse assédio”, afirma Belo. E o assédio continua.
Apenas uma Garotinha – A História de Cássia Eller
Autores: Eduardo Belo e Ana Cláudia Landi
Editora: Planeta
Quanto: R$ 35 (296 págs.)
THIAGO NEY
Folha de S. Paulo