A expectativa é de que a técnica – até agora testada apenas em células animais – eventualmente permita aos cientistas produzir em laboratório um número ilimitado de células do cérebro de uma determinada pessoa.
Os pesquisadores acreditam que a técnica poderá beneficiar pacientes de doenças como o Mal de Parkinson ou epilepsia.
O estudo do Instituto do Cérebro McKnight foi publicado pela revista especializada americana Procedimentos da Academia Nacional de Ciências.
Esta não é a primeira vez que células-tronco imaturas são manipuladas em laboratório para se tornar neurônios.
Mas os pesquisadores afirmam que ninguém, até hoje, havia conseguido replicar o processo de maturação das células que ocorre no cérebro de forma tão completa e detalhada em um laboratório.
Eles coletaram células-tronco do sistema neurológico de camundongos em um estado primitivo de desenvolvimento e usaram substâncias químicas para induzir a maturação.
Durante o processo, eles fotografaram imagens das células a cada cinco minutos usando um microscópio especial.
Com as fotos, os cientistas criaram um “curta-metragem” mostrando o desenvolvimento das células passo a passo, até elas se tornarem neurônios.
Eles também acompanharam as mudanças fisiológicas registradas durante o processo com mais detalhes do que jamais havia sido feito.
Caminho do cérebro
Pouco mais de dez anos atrás, cientistas se deram conta de que o cérebro continua a produzir pequenas quantidades de novas células mesmo na fase adulta.
Células-tronco se desenvolvem naturalmente em neurônios ao passar por um “caminho neural” que começa na zona subventricular do cérebro e termina na região conhecida como bulbo olfativo.
Mas este estudo mostrou que é possível desenvolver essas células fora do ambiente cerebral.
O pesquisador Bjorn Scheffler disse que “basicamente, nós poderíamos congelar essas células até quando fosse preciso”.
“Nós então descongelaríamos as células, iniciaríamos o processo de geração de novas células e produziríamos uma tonelada de novos neurônios.”
O neurocirurgião Eric Holland, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York, disse que se a técnica permitir a regeneração de partes do cérebro afetadas por doenças como o Mal de Parkinson ou a Doença de Huntington, ela terá grande impacto na medicina.
Mas o médico britânico Jim Cohen, do Centro de Desenvolvimento Neurobiológico do Conselho de Pesquisa Médica, disse à BBC que “a experiência representa um avanço técnico, mas é relativamente secundária e não é particularmente uma novidade”.
“O mais importante, como é o caso para todos os modelos de cultura de tecidos, é que os cientistas ainda estão a uma grande distância de provar que essas células têm algum potencial terapêutico”.
BBC BRASIL