Uesc ganha Prêmio Bahia Ambiental com o “Projeto Biota da Conquista”

O Projeto Biota da Conquista, do Departamento de Ciências Biológicas, da Universidade Estadual de Santa Cruz – Uesc, em Ilhéus – BA, foi um dos ganhadores da terceira edição do Prêmio Bahia Ambiental. O prêmio criado pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado para estimular iniciativas para a preservação ambiental.
A professora Sofia Campiolo, coordenadora do Projeto recebeu o prêmio do Governador Paulo Souto que destacou a importância da luta que está sendo empreendida desde a pequena organização não-governamental e instituições de Ensino Superior até a grande empresa. Isso mostra o grau de envolvimento de toda a sociedade neste desafio que é o desenvolvimento sustentável.
O Projeto Biota se desenvolve numa das áreas florestais mais ameaçadas e menos conhecidas da Bahia, que são as florestas estacionais do Planalto de Conquista, na região Sudoeste do Estado. Por sua importância o Planalto de Conquista é considerado pelo Governo Brasileiro como área prioritária para a conservação da Biodiversidade na Mata Atlântica brasileira.

Os professores responsáveis pelo projeto Sofia Campiolo (Coordenadora), Leandro Baumgarten, Eduardo Mariano Neto, Antônio Argôlo, Binael Soares Santos, Luis Fábio Silveira, Gustavo Acaccio, Fábio de Carvalho Falcão e Cristiana Sousa Vieira afirmam que a situação da cobertura vegetal no Planalto Sul Baiano é crítica. Essas florestas vêm sendo dizimadas pela pecuária e cafeicultura. Há 30 anos os remanescentes florestais não ultrapassavam 7% da cobertura original e já era difícil a obtenção de madeira para as cercas das próprias fazendas, atualmente restam apenas 2,3 %.

Sem proteção

Apesar da situação singular da sua fauna e flora, não existe uma única reserva para proteção dos maciços florestais do Planalto Sul Baiano. Com a intenção de preencher esta lacuna decorrente da falta de conhecimento e promover a conservação da região, a Universidade Estadual de Santa Cruz e o Instituto Dríades de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade realizaram um extenso inventário biológico no Planalto de Conquista de forma a embasar ações de conservação na região e alertar quanto a sua urgência.

A professora Sofia explica que o primeiro passo foi levantar, através da análise de imagens de satélite, os fragmentos florestais restantes e avaliar o estado de preservação da região. “Apesar da reconhecida importância da Mata Atlântica da Bahia, a atenção sempre se dirige às matas litorâneas. Este trabalho representa a primeira iniciativa coordenada de estudo da biodiversidade nas Matas de Cipó e Matas Interioranas do Planalto de Conquista e regiões adjacentes”.

Os inventários biológicos realizados nos fragmentos que restaram, registraram 254 espécies de plantas arbóreas, entre elas diversas espécies registradas como ameaçadas de extinção, 76 espécies de borboletas, 196 espécies de formigas e 302 espécies de vertebrados. As maiores riquezas de borboletas frugívoras foram encontradas nos fragmentos de serra. Nessas matas é que estão as assembléias verdadeiramente mistas, com espécies de caatinga, florestas pluviais montanas e de planícies, florestas estacionais e caatinga. Entre as formigas, foram registradas espécies nunca descritas pela ciência e outras conhecidas apenas em localidades da Argentina.

O conjunto de espécies da herpetofauna inclui tanto formas típicas de matas úmidas como de áreas mais secas, revelando o caráter ecotonal dessas florestas. O estudo acusou a ocorrência de 34 espécies de serpentes, entre elas elementos típicos de matas úmidas ou de ambientes xerofíticos, a depender da umidade a que o local está exposto. Mais notável ainda é que, pelo menos seis espécies de serpentes e um quelônio que ocorrem no planalto, eram conhecidas anteriormente apenas no sul e sudeste brasileiros.

Extinção de espécies

Dentre as 267 espécies de aves encontradas, destacam-se o expressivo número de espécies endêmicas dos biomas Mata Atlântica e Caatinga, 11 e 13, respectivamente. Além disso, foram registradas diversas espécies ameaçadas de extinção, segundo o Ibama, e endêmicas do Brasil. A destruição das florestas na região está afetando drasticamente a comunidade de morcegos, podendo inclusive estar levando a extinção local de várias espécies de morcegos. Para os mamíferos terrestres, considerando todo o conjunto de registros por unidade de esforço amostral, foi o menor resultado na literatura e a menor riqueza encontrada em trabalhos desenvolvidos na Mata Atlântica.

Os professores destacam que “durante a coleta de dados foi comum encontrar moradores da região portando espingardas de caça de maneira despreocupada. A caça de subsistência é comum na região e este fator, associado com o grau de perturbação dos fragmentos, pode explicar a baixa abundância de animais silvestres”.

A perda pode ser total

Os pesquisadores apontam como a primeira medida, a ser tomada para a conservação da Mata Atlântica no Planalto de Vitória da Conquista e regiões adjacentes, a proteção dos fragmentos remanescentes. Como a área restante é pequena parece factível convencer representantes do poder público e os próprios proprietários a executar ações que reduzam a intensidade de caça, perda do habitat, corte seletivo e queimadas nessas matas.

Os professores advertem “que atualmente, todos os recursos para implementação de ações de conservação estão sendo direcionados para a área do Corredor Central da Mata Atlântica. Este fato, aliado à inexistência de unidades de conservação e aos apenas 2,3 % de cobertura florestal restante na região, pode significar a perda total desta importante fisionomia florestal baiana”.

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