Sem festa, mas funcionando

Não há mais justificativa plausível para a UTI do São José permanecer fechada. A precária estrutura física e os equipamentos quebrados que serviram como principal motivo para o seu fechamento em janeiro, foram recuperados e bancados pela própria direção da Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus há pelo menos 90 dias. O treinamento dos médicos e funcionários – que seria o segundo grande passo para a reabertura – já aconteceu semana passada. O apoio financeiro para garantir gratuitamente os seus leitos à população carente de Ilhéus acaba de ser anunciado pelo prefeito Valderico Reis.
Somente uma coisa pode justificar a demora para a volta do serviço na UTI do São José: a UTI do Hospital Geral Luiz Vianna Filho ainda não está pronta e a festa com direito a fogos de artifício não pode acontecer pela metade.
Os governos do Estado e Municipal querem construir, com a inauguração simultânea das duas UTIs, um gesto de grandeza, de presença contínua e ações públicas rápidas, num momento em que, principalmente o Estado, se mostra ausente de Ilhéus. Já o governo municipal não pode perder a oportunidade de construir “o quanto pior, melhor”. De lembrar “o caos administrativo deixado pela administração anterior”, mesmo que para isso custe um angustiante período de cinco meses sem este importante serviço. Inaugurar com festa um serviço que já faz tanta falta à população é uma forma de dizer à cidade que os seus governos estão atentos às suas principais necessidades, mesmo que, na prática, muitas vezes não estejam.

Sob o ponto de vista do marketing, é perfeito. Na prática do respeito à cidadania, não. Há um fato importante a ser levantado. Não se brinca com vida. Repito: não há mais justificativa plausível para a UTI do São José permanecer fechada. A não ser a festa que querem fazer com a sua reabertura. O problema é que enquanto se aguarda a conclusão da UTI do Luiz Viana e se prepara o “momento cívico” da inauguração simultânea dos 14 leitos presenteados pelo Estado, inúmeras pessoas perdem a vida por falta deste atendimento na cidade. E isso é, na minha opinião, um ato criminoso.

A UTI do São José precisa ser reaberta imediatamente porque não há mais motivos técnicos para mantê-la fechada. Só políticos. A população clama pelo serviço, porque este é fundamental para salvar vidas. Porque não se sabe quantos doentes, a partir de hoje, resistirão aguardar pela comemoração que ora se planeja mas que ainda não tem dada para ser realizada. Até porque como alguém disse um dia, “a vida é uma festa. A gente chega depois que começou e sai antes que acabe”. UTI funcionando sem festa é mais importante do que uma comemoração grandiosa diante de inúmeras mortes anunciadas e dos leitos que poderiam salvar vidas, vazios.

Maurício Maron (maron@click21.com.br), jornalista

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