A invasão do GPS

A tecnologia de localização por satélite chega aos celulares, carros, relógios de pulso e até equipamentos do tamanho de uma moeda
O GPS está saindo do gueto. Para quem não conhece a sigla, ela pode ser traduzida como Sistema de Localização Global. A partir da união de coordenadas de latitude e longitude, qualquer pessoa pode ser encontrada no globo terrestre com a ajuda de 24 satélites que ficam em órbita na Terra. A tecnologia nasceu no final dos anos 70 nos quartéis dos Estados Unidos e, em seguida, foi descoberta pela aviação civil e praticantes de esportes náuticos e radicais. Agora, o GPS está em todo lugar. Já é possível encontrá-lo em automóveis, celulares, relógios de pulso e no bolso das pessoas comuns. O caminho trilhado pela tecnologia é semelhante ao dos celulares, que começaram como um produto de elite e já são usados por 69 milhões de brasileiros. Lá atrás, ter um GPS significava modernidade e alto custo. Os equipamentos estavam na casa dos milhares de dólares. Hoje podem ser comprados por R$ 500. “Essa tecnologia está tão presente no dia-a-dia que nem temos consciência da sua importância”, diz Hélio Kuga, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Alguns táxis em São Paulo, por exemplo, já dispõem desse recurso. Daqui para frente, ninguém terá mais desculpa para errar o caminho: no bolso ou no painel do carro haverá uma tela com todas as indicações.
Quem entra hoje em alguma das 500 concessionárias da Volkswagen no País e compra um modelo Golf vai para casa com um serviço de GPS embutido no veículo. Durante um ano, o cliente terá o carro monitorado por uma central que indicará, quando necessário, as rotas nas grandes cidades. Também comunicará ao motorista a proximidade de revisão ou a ocorrência de alguma pane mecânica. Mas o principal objetivo da montadora é aumentar em 20% as vendas do Golf, que caíram em função da alta taxa de roubos e do valor do seguro, que custa, no mínimo, R$ 5 mil por ano. “Com o GPS neutralizamos o maior inibidor de vendas do modelo”, diz Marcelo Olival, gerente da Volkswagen do Brasil. O negócio promete ser tão lucrativo que a mineira Crown Telecom, detentora da tecnologia, espera faturar R$ 105 milhões neste ano e cerca de R$ 300 milhões em 2006. “Temos certificação aprovada para outros modelos Volks”, comemora José Pereira, presidente da empresa. Na mesma trajetória, a líder mundial de celulares, a finlandesa Nokia, está desenvolvendo um projeto com a Fiat no Brasil. A idéia é embutir um celular com GPS nos carros – serviço que já funciona na Europa. A Nokia espera com esta iniciativa ter condições de enfrentar a concorrência de marcas asiáticas que tomaram a dianteira do mercado com celulares dotados de áudio e vídeo. Por enquanto, os veículos brasileiros não terão mapas digitais em telas coloridas em função de uma proibição do Conselho Nacional de Trânsito, que classificou o GPS na mesma categoria de DVD automotivo. A questão é simplesmente de segurança: o equipamento pode distrair o motorista.
Em outras áreas, o GPS vive um clima de total liberdade. A empresa pernambucana Segsat lançará, em julho, um dispositivo do tamanho de uma moeda equipado com a tecnologia. O item servirá para rastrear o próprio portador. “Estamos colocando no mercado um eficiente mecanismo para combater seqüestros”, diz Sérgio Baptista, diretor da Segsat. A companhia usa um chip desenvolvido pela alemã Siemens que também pode ser colocado em qualquer lugar. Dentro do celular, em relógios, laptops e palms. Essa disseminação do GPS trouxe novos negócios. Um deles é a paulista MapLink, que oferece serviços de mapeamento e roteirização em todo o País. A companhia compra mapas digitais de empresas americanas que fazem o processamento de imagens com a ajuda de GPS e oferece o serviço aos brasileiros. Só no ano passado, a MapLink cresceu 89%. “Acreditamos muito nesse mercado”, afirma o diretor Guilherme Gomide.

Mundialmente, os serviços e produtos em torno do GPS movimentam US$ 15 bilhões. Em 2008 chegarão a US$ 22 bilhões. Das aplicações comerciais do GPS, 35% são em carros, 22% de produtos dirigidos aos consumidores finais e 5% em aviação. Nos setores marítimo e militar, apenas 2%, o que mostra que o GPS está mais popular do que nunca. Países inteiros na Europa, Japão e EUA já estão com todas as ruas de suas cidades mapeadas. No Brasil, os mapas digitais ainda engatinham. Só grandes cidades como São Paulo possuem vias reproduzidas digitalmente. São cerca de 60 mil ruas na cidade. A união entre os mapas virtuais e o GPS é tão explosiva do ponto de vista das oportunidades de negócio que já atrai as maiores marcas da internet para este campo. O serviço de buscas Google colocou em teste um serviço que permite aos seus usuários nos EUA encontrar qualquer rua no país. O Yahoo também segue a mesma direção. Ninguém quer ficar de fora.

US$ 22 bilhões será o tamanho do mercado mundial de GPS em 2008

Por eduardo PIncigher e mariana ditolvo
Isto É

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *