Como impedir os navios de lançarem dejetos no mar?

O paradoxo é curioso. Todos os dias, os baianos
Fabiano Prado Barretto e Davi Neves caminham por
algumas das praias mais belas do Brasil, em busca do
que elas têm de mais feio. Enquanto avançam pelas
areias quentes de Imbassaí ou Massarandupió, por
exemplo, a dupla só tem olhos para o lixo, um tipo
muito específico dele: milhares de garrafas plásticas,
tambores (à esquerda), latas e outros dejetos que
chegam ao litoral norte da Bahia no embalo das
correntes. Barretto encabeça um movimento pela coleta
e identificação dos resíduos, que podem levar centenas
de anos para se desintegrar e ameaçam a rica fauna da
região – berço de desova de tartarugas marinhas.
Uma convenção internacional de 1973, a Marpol,
determina que todas as embarcações devam ser
responsável pelo armazenamento do lixo a bordo. Só
que, com a fiscalização difícil e as circunstâncias de
uma viagem, o descarte se tornou um crime comum. “Nas
longas viagens – do sul da Ásia ao Brasil são cerca de
40 dias –, o lixo se acumula. Um navio com 14 pessoas
consome 70 garrafas de água mineral de
1,5 litro por dia. E existem a burocracia e os custos
para a descarga do lixo inorgânico nos portos do
país”, conta Barretto.
A jornada quixotesca desse ecologista sui generis
começou
em 2001, e só foi mudar dois anos depois, quando
obteve patrocínio da instituição alemã Lighthouse
Foundation, por meio do qual criou o projeto Praia
Local, Lixo Global (www.globalgarbage.org), com
recursos para contratação
de novos caminhantes ambientalistas, estudos – os
pesquisadores divergem sobre a distância que cada
embalagem pode percorrer com as correntes do Atlântico
–, catalogação do lixo e programas de educação
ambiental, sobretudo nas mais isoladas comunidades
costeiras.
Nelas, nenhum dejeto tem sido mais nocivo do que os
lightsticks, luminosos usados para sinalização por
barcos de pesca industrial (abaixo, na mão de
Barretto). Trata-se de um tubo plástico com um
reagente químico fluorescente cuja vida útil é de 12
horas. Abandonados na praia, já sem efeito, os
tubinhos causam assombro entre os moradores, que quase
sempre desconhecem o seu uso. “Há pessoas que beberam
o líquido ou o usaram como bronzeador”, diz o
ecologista.
Por ora, o que Barretto mais quer é isso: alertar. Em
2005 e 2006, ele pretende começar a caminhar por
outras regiões da costa brasileira. No futuro, almeja
até mesmo devolver o lixo, em contêineres, às
autoridades ambientais dos países de origem das
embalagens. “Alguém precisa ser responsabilizado por
isso.
É preciso, e é possível, criar um sistema para que os
navios não se sintam livres para jogar o lixo no mar.”

– Por Ronaldo Ribeiro

ONG relacionada: www.globalgarbage.org

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