Segundo o estudo publicado no jornal científico Lancet Oncology, o papilomavírus (HPV) é tão infeccioso que até 70% das mulheres sexualmente ativas devem contraí-lo em algum momento de sua vida.
“Esta morte vai ocorrer infelizmente em países em desenvolvimento porque os programas de prevenção – teste papanicolau – não têm cobertura ampla. O outro motivo é porque, infelizmente, quando envolvidas nos tumores, elas procuram auxílio médico em estágios avançados da doença, quando é difícil controlar”, afirmou a cientista.
Verrugas genitais
O HPV é uma família de uma centena de vírus, mas o objetivo da vacina é combater os quatro tipos prevalentes, que causam o câncer cervical em mulheres e as verrugas genitais nos dois sexos.
Os alvos da vacina são os vírus HPV 6 e 11 (responsáveis por mais de 90% das verrugas ânus-genitais tanto em homens quanto em mulheres) e HPV 16 e 18 (que causam quase 70% dos cânceres do colo do útero).
“A eficácia combinada dos quatro tipos de HPV incluídos na vacina é de 90% e, contra as verrugas genitais e nas lesões precussoras do câncer, a eficácia foi de 100%. Apenas mulheres que receberam placebo desenvolveram essa doença, que nenhuma das vacinadas desenvolveu.”
Villa explica que as verrugas genitais são tumores benignos, circunscritos ao local. Esses pequenos tumores são transmitidos entre os parceiros por atividade sexual e são altamente infecciosos.
Segundo a cientista, embora benignas, as verrugas genitais podem representar um problema maior “em pessoas imunodeprimidas, sejam por estar tomando drogas para controlar a manutenção de um transplante, sejam por imunodepressão causada pelo HIV (vírus que causa a Aids).”
Testes
Villa e a sua equipe examinaram 1.158 mulheres saudáveis entre 16 e 23 anos e originárias do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos.
As participantes não estavam grávidas, não tinham problemas cervicais e haviam tido até quatro parceiros sexuais.
Do total de voluntárias, foram escolhidas ao acaso 277 para receber a vacina e outras 275 para receber um placebo.
Durante 36 meses, as mulheres foram acompanhadas pela equipe de cientistas, sendo submetidas a periódicos exames ginecológicos.
A vacina é feita com base na proteína principal presente na capa do vírus HPV, que é sintetizada em laboratório.
A especialista explica que essa vacina não tem nada a ver com vacinas de vírus atenuado já que ela é totalmente destituída do material genético do vírus, cujo emprego seria muito perigoso para o paciente.
“Essas proteínas, da maneira como são sintetizadas, assemelham-se muito com o vírus que está na natureza e, portanto, são capazes de disparar uma resposta imune poderosa, potente, em altos níveis e, como demonstra o estudo, e outros estudos já publicados, eficaz para controlar essas infecções.”
Os cientistas não observaram nenhum efeito colateral sério entre as voluntárias.
Brasil
O Brasil, segundo a cientista, está em posição intermediária nos programas de prevenção e tramento do câncer cervical. Ela diz que as ações estão concentradas no Sul e no Sudeste do país, mas ainda são deficitárias em áreas rurais e nas regiões Norte e Nordeste.
“Mesmo em uma cidade como Porto Alegre, a taxa de mortalidade é uma das mais elevadas do país, refletindo questões culturais de ter uma área rural muito extensa no Estado do Rio Grande do Sul, onde o atendimento e a busca pela prevenção é muito pequeno.”
Atualmente, cerca de 40 mil mulheres contraem o câncer de colo do útero todo ano no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.
Desse total, cerca de 5 mil casos estariam em estágio terminal. Villa ressalta que o número pode ser ainda maior já que a notificação dos casos não é obrigatória.
No mundo todo, segundo a especialista, surgem 500 mil casos novos de câncer do colo do útero por ano. Desse total, mais de 70% em países em desenvolvimento, especialmente nos países africanos e na Índia.
Villa acredita que a vacina possa ser licenciada entre 2006 e 2007, mas destaca que mais testes serão necessários para que isso seja feito.
Segundo a cientista, o grupo testado foi relativamente pequeno e é preciso agora aguardar os ensaios de Fase 3, em que estão sendo vacinadas mais de 20 mil mulheres em todo o mundo.
“Se esses estudos confirmarem o nível de eficácia, eu sinto que, em algum momento, vai mudar a história dessa doença tão grave como o câncer do colo do útero, que ainda mata tantas mulheres em todo o mundo”.
BBC BRASIL