João Paulo 2º preparou sua sucessão até os mínimos detalhes com aprovação da Constituição Apostólica, em 1996. Após sua morte, dois prelados terão um papel primordial: o carmelengo espanhol Eduardo Martínez Somalo (cardeal que governa interinamente a igreja, entre a morte de um papa e a eleição do seguinte) e o monsenhor alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e decano do Colégio Cardinalício, por sua influência dentro da igreja.
A escolha de um pontífice é feita pelos membros do Colégio de Cardeais, onde têm direito a voto todos os religiosos com menos de 80 anos, que atualmente chegam a 117, três a menos que o número fixado pelo papa Paulo 6º. Entre os prelados que podem eleger o próximo chefe da igreja, há 58 europeus [20 italianos], 14 norte-americanos, 21 latino-americanos, 11 africanos, 11 asiáticos e dois da Oceania.
O sucessor de João Paulo 2º tem que ser escolhido por dois terços dos participantes do Conclave [assembléia de cardeais], realizado a portas fechadas na Capela Sistina e durante o qual os prelados ficam incomunicáveis com o exterior.
A tradição canônica consiste em alternar um pontificado curto com um longo e este princípio parece favorecer a escolha de um religioso mais idoso para assegurar uma transição, já que o polonês Karol Wojtyla tinha 58 anos quando assumiu o trono de Pedro.
Mas essa tradição não impede que os eleitores possam designar um prelado mais jovem para dar continuidade à obra realiza por seu predecessor.
Em relação ao futuro líder da Igreja Católica, surgem duas grandes tendências dentro do Vaticano: a volta de um papa italiano ou a eleição de um latino-americano, representante de uma região que reúne a maioria dos católicos no mundo e que assiste o crescimento das seitas pentecostais.
Dentro dessa futura assembléia de cardeais é certo o confronto de posições entre conservadores e liberais, que divergem em questões simples, como a gestão mais colegiada da Igreja, o celibato dos sacerdotes, o diaconato feminino [direito das religiosas de exercerem as mesmas funções que os homens na igreja] e os métodos de contracepção.
Entre os nomes apontados como ‘papáveis’ estão cinco prelados italianos: os cardeais-arcebispos Dionigi Tettamanzi (Milão), 70, Angelo Scola (Veneza), 63, e Tarcisio Bertone (Gênova), 70. Também o secretário de Estado do Vaticano, Angelo Sodano, 77, e o prefeito da Congregação para os Bispos, Giovanni Battista Re, 71.
Fora da Itália, os mais citados são o cardeal colombiano Darío Castrillón Buracos, 75, prefeito da Congregação para o Clero, o hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Madariaga, 62, arcebispo de Tegucigalpa, o argentino Jorge Mario Bergoglio, 67, arcebispo de Buenos Aires, e o brasileiro Cláudio Hummes, 70, arcebispo de São Paulo.
Da África, continente onde a Igreja Católica luta para ser mais influente que a religião muçulmana e as seitas tribais, surge o nome do nigeriano Francis Arinze, 72, prefeito da Congregação para o Culto Divino.
Além desses nomes, “correm por fora” dois prelados considerados muito jovens: o cardeal-arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, 60, e o cardeal indiano Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, 65.
Como “candidato secreto” surge o cardeal Ratzinger, o chamado “guardião do dogma”, 77, que tem uma personalidade forte para que a igreja não sinta falta da autoridade de João Paulo 2º.
Mas a Igreja Católica dispõe de muitas opções, entre elas um cardeal de ascendência judaica, vários árabes e africanos e até um de procedência muçulmana, para liderar um rebanho que conta com mais de 1 bilhão de fiéis.
Mas as surpresas de um conclave podem ser muitas e como diz o provérbio em Roma: “Aquele que entra papa no conclave, sai como cardeal”.
Um exemplo desse fenômeno que ocorreu com freqüência na igreja foi registrado recentemente, recordam os vaticanistas. Quando era cardeal-arcebispo de Cracóvia, o polonês Wojtyla não era favorito mas foi eleito no terceiro turno do Conclave [16 de outubro de 1978] para ser o primeiro papa não italiano em 455 anos.
CHRISTIAN SPILLMANN
France Presse