Patrocinada pelo próprio governo e amparada pela lei, a “reforma branca” também foi um tiro no pé do ponto de vista da Receita Federal. As mudanças deixaram livres da cobrança de impostos cerca de R$ 10,5 bilhões anuais ganhos por autônomos no Brasil.
“O Brasil fez uma reforma trabalhista ‘Frankenstein’ ao longo dos anos 90. Ela redundou em baixos salários, elevadas jornadas de trabalho, alta rotatividade e pouca segurança para o empregado”, diz o economista Marcio Pochmann, autor do estudo.
Segundo Pochmann, a recuperação do emprego formal em 2004 ainda não foi suficiente para alterar esse quadro.
Precariedade
As mudanças na legislação visaram atender às empresas em um novo ambiente competitivo. O resultado, porém, foi aumento da distorção, já que companhias de um mesmo setor acabaram usando a desregulamentação em níveis diferenciados. Segundo o estudo, o elemento mais negativo da reforma é que ela não resultou em mais empregos, mas em mais precariedade no trabalho.
As maiores mudanças na legislação trabalhista ocorreram entre 1994 e 2000, com a criação de figuras jurídicas como cooperados (1994), terceirizados (95) e temporários (96). Além disso, foi “flexibilizado” o poder das empresas e do setor público para demitir, contratar e corrigir salários.
Antes da reforma, a relação entre o total de ocupados e população com 10 anos ou mais era de 55%. Ao final do período de mudanças, o percentual permaneceu estático. Já o número total de desempregados (desemprego aberto) no país saltou de 1,9 milhão para 7,6 milhões.
O aumento do desemprego ressalta o longo período de crise na área do trabalho no correr dos anos 90 e no início da atual década. Mas mostra também que a forte flexibilização não foi capaz de absorver um novo contingente de pessoas que tentou ingressar no mercado de trabalho.
A maior parte dos que conseguiram entrar o fizeram precariamente. No setor de cooperativas de trabalhadores, por exemplo, a “reforma” levou a um salto de 55,7% entre 1997 e 2002, de 4.800 cooperativas para 7.500.
Segundo Lewton Verri, presidente da Abracoop, que reúne o setor no país, apesar dos avanços, o cooperativismo vive uma situação “precária”, com vários problemas que vão da sonegação de impostos e baixa qualidade dos serviços à transgressão das próprias leis que regem a área.
Paula Montagner, assessora do ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) e coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, diz que, após a reforma dos anos 90, “o grande desafio é regularizar e dar representatividade às formas de trabalho existentes”.
“Os direitos dos trabalhadores foram fragilizados de tal forma que acabaram por implodir, em termos de financiamento, as políticas públicas que poderiam melhorar a capacitação do trabalhador. Isso tem significado salários menores e maiores chances de desemprego”, diz Montagner.
Ela acredita que o intuito da reforma sindical em gestão é o de aumentar a representatividade.
Um dos pontos de maior pressão contra a reforma por parte dos empresários, no entanto, é impedir a criação da figura do representante dos trabalhadores” dentro de empresas que tenham mais de 30 funcionários.
FERNANDO CANZIAN
Folha de S.Paulo