Inflação do IBGE cai para 0,58% em janeiro e aumenta dúvida sobre juros

A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 0,58% em janeiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em dezembro, o indicador havia apurado alta de 0,86%.
O IBGE atribui a desaceleração da inflação ao preço da gasolina, que avançou apenas 0,06% em janeiro, e às tarifas de ônibus urbano, que tiveram deflação de 0,10%. Promoções de artigos de vestuário, menores aumentos nas tarifas de água e esgoto e a redução do impacto do reajuste dos cigarros também ajudaram a conter a inflação.
O IPCA de janeiro pode ter forte influência sobre o resultado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) desta semana.

Os diretores do BC anunciarão na quarta-feira o novo valor da taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Até a semana passada o mercado esperava que o BC elevasse os juros de 18,25% para 18,75% ao ano. No entanto, com o recuo da inflação analistas e o próprio BC podem concluir que a medida seria muito drástica.

Por outro lado, também na semana passada o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a produção industrial cresceu 8,3% em 2004, o melhor resultado em 18 anos.

Por isso, o BC pode ser mesmo obrigado a aumentar os juros para esfriar a economia e evitar que o crescimento seja acompanhado de inflação.

O BC persegue neste ano uma meta de inflação ajustada de 5,1%, ainda mais apertada do que o centro da meta do ano passado, de 5,5%.

Pressões

Tradicionalmente o IPCA do início do ano é afetado por fatores sazonais, como aumento dos preços de hortaliças e legumes, em razão de fatores climáticos, e reajuste de matrículas e mensalidades escolares de acordo com definições em contratos.

O resultado de janeiro pelo IPCA mostra que as principais pressões vieram de alimentos, que tiveram alta de 0,78%. O avanço foi influenciado por produtos sensíveis ao clima, como cenoura (17,87%), batata inglesa (11%), cebola (5,70%) e frutas (2,75%).

O último Relatório de Mercado, organizado pelo Banco Central a partir de consultas a mais de uma centena de instituições financeiras, apontava uma expectativa de inflação de 0,80% em janeiro, levemente abaixo do resultado de dezembro.

O IPCA-15 já havia apurado alta de 0,68% no mês passado. O indicador funciona como uma prévia da inflação do mês, a diferença entre os índices está no período de coleta. Na metade do mês passado, já era possível verificar o efeito das altas de alimentos, energia elétrica, automóveis e educação.

Das 11 regiões metropolitanas que fazem parte da pesquisa, o maior índice do IPCA em janeiro foi verificado em Fortaleza (1,01%). São Paulo e Rio de Janeiro tiveram alta de 0,53% e 0,76%, respectivamente.

O levantamento do IBGE é realizado em São Paulo, Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Brasília, Goiânia, Fortaleza e Belém. O índice se refere a preços de produtos e serviços consumidos por família com rendimento de 1 a 40 salários mínimos.

JANAINA LAGE
Folha Online

Ministério amplia a distribuição gratuita da pílula do dia seguinte

O governo federal está ampliando em 57% a distribuição da pílula anticoncepcional de emergência no serviço público, com a intenção de fornecer, a partir do próximo mês, a chamada pílula do dia seguinte a todas as mulheres, não somente às vítimas de violência sexual. Além disso, as unidades do SUS credenciadas para cirurgias de esterilização devem aumentar em 50% até 2007.
As medidas fazem parte da nova política de direitos sexuais e reprodutivos do Ministério da Saúde, cujo foco é garantir a autonomia no planejamento familiar. O documento será lançado em março, mas já está em andamento o processo de compra das 200 mil cartelas adicionais da pílula.

Já estão sendo distribuídas pelo ministério as 352 mil cartelas deste ano para os 1.388 municípios mais populosos do país. O novo lote será distribuído a partir de março para o restante dos municípios que possuem equipes do Programa Saúde da Família.

A pílula do dia seguinte pode ser comprada em farmácias, mas na rede pública é freqüentemente limitada ao atendimento de emergência em casos de estupro.

O governo e os fabricantes consideram que esse método evita a gravidez após o sexo desprotegido. Já a Igreja Católica é contra seu uso.

A novidade é que a política do ministério determina que o medicamento seja disponibilizado de forma mais ampla, sem prejuízo da prioridade de uso dos métodos anticoncepcionais tradicionais.

O documento prevê que a pílula do dia seguinte deve ser fornecida “”de modo que não fique restrita apenas aos serviços de referência para mulheres vítimas de violência sexual”.

Segundo o secretário de Assistência à Saúde, Jorge Solla, o acesso ampliado da pílula contraceptiva de emergência visa garantir o direito reprodutivo das mulheres de camadas mais pobres, que sofrem uma dupla exclusão.

“Primeiro, não tiveram acesso à informação e ao uso de anticoncepcionais de rotina. Segundo, se encontraram em situação inesperada e precisaram do contraceptivo de emergência, mas este não estava disponível”, disse Solla.

A universalização da pílula deve encontrar resistência em parte da classe médica. Há quatro anos, pesquisa feita pela Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia) com 579 ginecologistas brasileiros mostrou que 30% deles consideravam a pílula abortiva e não a receitavam.

Na opinião do médico Jorge Andalaft Neto, presidente da comissão de violência sexual e aborto legal da Febrasgo, hoje a aceitação dos médicos é muito maior porque eles estão mais bem informados sobre o contraceptivo. Para ele, os que se posicionam contrários à pílula o fazem por convicções religiosas ou por falta de informação científica.

Por essa razão, Andalaft considera fundamental que a distribuição das pílulas esteja associada a uma maior capacitação da rede de saúde. “Fazemos hoje um trabalho de formiguinha.”

Para o médico Jefferson Drezett, assessor do consórcio latino-americano de anticoncepção de emergência, há médicos que se neguem a prescrever a pílula de emergência para mulheres da rede SUS, mas que o fazem, “sem o menor constrangimento”, às suas pacientes particulares. “Ainda há preconceito, profissionais que acham que a mulher humilde não saberá usar a pílula.”

Drezett é consultor do Ministério da Saúde e elaborou uma cartilha sobre a contracepção de emergência que será distribuída para os profissionais do SUS. “A pílula não fere o Código de Ética Médica nem o Código Penal e é um direito constitucional.”

Cirurgias de esterilização
Médicos ligados à área de reprodução humana defendem que o Ministério da Saúde ofereça métodos que permitam a concepção, como as cirurgias de reversão da laqueadura e da vasectomia, na mesma proporção que pretende investir nas cirurgias de esterilização. Hoje, são poucos os centros médicos ligados ao SUS que fazem cirurgias de reversão.

Segundo o ginecologista Nilson Donadio, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 50% dos casais esterilizados (mulheres laqueadas ou homens vasectomizados) se arrependem no prazo de um ano, independentemente ou não do desejo de ter um outro filho.

No serviço de reprodução humana da Santa Casa, três de cada dez casais na fila da fertilização in vitro ficaram estéreis em razão de laqueaduras ou de vasectomias que não puderam ser revertidas.
Para a ginecologista Claudia Gazzo, responsável pelo setor de reprodução do Hospital do Servidor Estadual, também é importante que os médicos sejam orientados a fazer a laqueadura em um local que permita a recanalização.

LEILA SUWWAN
CLÁUDIA COLLUCCI
Folha de S.Paulo

Consumidores se alimentam mais e melhor

Os consumidores ampliaram as compras de alimentos e passaram a priorizar produtos considerados mais saudáveis, mostra uma pesquisa mundial realizada pela consultoria ACNielsen.
A venda de alimentos e bebidas no mundo teve aumento de 4% no período de doze meses encerrado em julho de 2004 em relação ao anterior. A análise engloba 59 países, responsáveis por 93% do PIB do globo e onde estão 77% da população. Foi considerada a expansão em receita com vendas.
Na América Latina -em especial no México e no Brasil- e nos mercados emergentes, como Rússia e Polônia, a alta nas vendas no período foi ainda maior: de 7% e 10%, respectivamente.

Boa parte desse aumento é resultado da maior demanda por itens classificados como saudáveis pelo relatório. A pesquisa mundial informa ainda que o cardápio de duas famosas dietas, a Atkins e a South Beach, rica em proteínas e com poucos carboidratos, ajudaram a “turbinar” a demanda e o desempenho de vendas de certas categorias de produto no mundo nos últimos meses.

As mercadorias que apresentam as maiores taxas de expansão em vendas, em euros, segundo o levantamento, foram as bebidas à base de soja (sucos, leites) e os iogurtes líquidos, seguidos, em terceiro e quarto lugares, pelos ovos e cereais, nessa ordem.

No caso das bebidas fabricadas com soja, a alta mundial atingiu 31% no período entre agosto de 2003 e julho de 2004 em comparação com os 12 meses anteriores. As vendas acumuladas foram de 244 milhões (R$ 873 milhões). No Brasil, a Nielsen informou à Folha que a expansão registrada nesse segmento foi de 19%.

Essa taxa supera a verificada para o período nos Estados Unidos (17%), uma das maiores praças consumidoras do produto. No entanto, como o mercado norte-americano acumula expansões elevadas há alguns anos -ao contrário do Brasil, que registra um aumento recente-, a elevação das vendas acontece em cima de taxas já consideradas altas.

Em relação à receita com vendas de iogurtes líquidos, no Brasil foi constatada alta de 7% de agosto de 2003 a julho de 2004 sobre o período anterior. No mundo, a elevação foi bem maior, 19%.

Por ainda serem produtos de consumo restrito a classes de maior poder aquisitivo no Brasil, é natural que o resultado de venda no país -mesmo positivo- seja menor do que a média mundial.

“Os lácteos em geral tiveram alta de 6,1% em volume vendido no país em todo o ano de 2004 sobre 2003. Ao analisar só iogurtes líquidos, a expansão foi de 12% em volume”, afirma Alberto Bendicho, gerente de comunicação da Danone.

Produtos à base de soja, por exemplo, têm uma das mais baixas taxas de penetração nos domicílios brasileiros de classe média -inferior a 5% -, de acordo com dados de 2002 da LatinPanel, empresa do grupo Ibope.

Outro produto com boas vendas, tanto aqui quanto lá fora, no período analisado, foi a água mineral. Teve o quarto melhor desempenho mundial em termos de receita gerada. Foram 920 milhões (R$ 3,2 bilhões) no intervalo pesquisado pelo relatório -alta de 6% sobre o período anterior.

Crise e consumo
Ao focar a análise do relatório nos dados gerais -são 89 itens estudados-, as taxas de crescimento nas vendas são maiores nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

Entre os 89 produtos analisados, 25 registraram, na América Latina, alta de dois dígitos nas vendas. Aí estão incluídos desde itens tidos como supérfluos, como laticínios, doces e biscoitos, como os que são considerados indispensáveis para a alimentação, como carnes e peixes.

Já na América do Norte foram 12 categorias com expansão de dois dígitos nas vendas. Na região classificada pelo estudo como Ásia-Pacífico, foram 11 produtos. A Europa registrou o pior desempenho: só sete mercadorias alcançaram esse patamar. O recorde foi atingido nos chamados mercados emergentes. Neles, 34 categorias tiveram aumento nas vendas igual ou superior a 10%.

“Sem dúvida, as instabilidades econômicas em determinados países inviabilizam os investimentos, travam ganhos de renda e o aumento no consumo. Porém, independentemente desse cenário, em termos de potencial de consumo, são países como Brasil e México que estão mais à linha de frente, com mais espaço para crescer”, afirma Fatima Merlin, gerente de atendimento da LatinPanel.

Segundo Merlin, uma pesquisa em mais de 6 milhões de domicílios, feita pela empresa em 2004 e publicada em setembro, mostra que 30% das pessoas já compram itens diet e light no país. Mais de 50% consomem frutas, legumes e verduras todos os dias.

“Mesmo com as crises de 2001, 2002 e 2003, a América Latina segue as tendências de consumo mundiais voltadas para itens saudáveis”, completa Tereza Araújo, gerente de serviços ao cliente da ACNielsen.

Ditadura do prazer
Na avaliação de Araújo, é possível verificar, pela análise das categorias com crescimento mais rápido em 2004, que há tanto itens voltados para a saúde como outros que podem ser entendidos como menos saudáveis, diz, destinados ao “prazer de consumir”.

Para ela, “os consumidores, e isso inclui o brasileiro, já têm no seu imaginário a questão do “comprar o que é benéfico ao corpo”, mas, ao mesmo tempo, querem adquirir também o que lhes dá prazer”, afirma. Nesse caso, entram os chocolates e bolos e os doces. As duas categorias tiveram taxa de expansão de vendas de 8% e 7%, respectivamente, no mundo no período analisado pela pesquisa.

Nas contas feitas pela ACNielsen é preciso levar em conta que há a pressão dos preços na alta das vendas em valor (moeda). Portanto, a inflação dos produtos ajuda a puxar o resultado para cima.

ADRIANA MATTOS
Folha de S.Paulo

Gabriela, o ícone denso e tenso: raça, género e classe em Ilhéus

Gabriela é um potente símbolo literário e audiovisual do Brasil – Nação; um potente símbolo literário e audiovisual da Bahia – Região; um potente símbolo literário e audiovisual de Ilhéus – Local. Ela é mulher, pobre e mestiça. Ela não tem moral burguesa, mas não é nem prostituta (marginal) nem selvagem (pré-civilizada); ela é inocentemente sensual. Ela é um objecto de atracção por ser a encarnação da mistura específica do Brasil: a adoração de si próprio, a adoração do Povo, é encarnada numa figura feminina desejável. O segredo dessa atracção é o contributo de uma corporalidade inocente e infantil africana, sem a selvajaria e a marginalidade da negritude. Isso permitiu criar uma sociabilidade nova na Europa transplantada para o novo mundo. Ela não é herói civilizador (implicaria ser homem e ter um projecto); é a não-heroína que tempera a civilização, no maior desconhecimento da sua tripla condição subalterna. Por isso é simultaneamente uma representação do wishful thinking sobre a a-conflitualidade, a resolução de contradições, de uma nação nascida de contradições absolutas – é uma superação; e um projecto que, como todos os projectos, traz consigo o triste reconhecimento de que a realidade o contradiz. Por isso não pode ser o símbolo querido de um movimento etnopolítico identitário; mas pode ser o símbolo rentável de uma promoção turística-nacional na globalidade das diferenças culturais mercadorizadas. O problema é que o “ser nacional de” ou “membro do Povo” é o nível identitário por excelência da elisão dos níveis de diferenciação e desigualdade sociais e aquele onde o efeito de hegemonia mais influência exerce e onde mais facilmente se reproduz. Que tenha sido, afinal, um produto da imaginação literária de um autor, letrado e oriundo das elites, só confirma o papel da literatura moderna (no sentido mesmo de anterior à pós-modernidade) na criação de narrativas e símbolos sistematizadores de identidades nacionais.
É por tudo isto que ela é uma marca registada. Basta o seu nome ser enunciado para suscitar comunhões e conflitos, as identificações desejantes ou reticências críticas que todos os produtos suscitam. Mas como é a representação de uma pessoa-corpo, este produto ganha o estatuto de símbolo denso, contendo em si as tensões de ‘raça’, classe e género, que o tornam controverso e objecto de disputas pelo seu significado, na comparação com as experiências de vida.

1. Episódios inéditos de Gabriela

1977. Primeiros tempos da “normalização” da vida política portuguesa depois da revolução de 1974-75. Pela primeira vez surge uma telenovela brasileira na televisão portuguesa. Título: “Gabriela”. O país transforma-se: mais apegado à televisão e, agora, irremediavelmente apegado ao género narrativo telenovelesco, doravante inseparável das representações sociais sobre o Brasil. Diz-se que reuniões do Conselho de Ministros são interrompidas para se assistir aos últimos episódios do amor de Nacib e Gabriela. A vários níveis sociais, a novela institui-se como intermediação narrativa para discutir a vida e como ponto de encontro virtual. Algumas vozes falam, embora ironicamente, de colonização inversa. Outras denigrem intelectualmente o novo género audio-visual, outros ainda marcam-no com os ferros do desprestígio de género e classe – a novela como coisa de mulheres e iletradas.

Vinte e poucos anos depois, no ano da celebração dos 500 anos do Brasil – que em Portugal se diz “dos 500 anos do Descobrimento do Brasil”, e assim mesmo, com D maiúsculo -, cerca de dez novelas brasileiras passam em simultâneo na TV portuguesa. O aumento exponencial de oferta novelesca acompanhou igual aumento na oferta de canais, de publicidade e de possibilidades de consumo no Portugal democrático (que, neste país, é o mesmo que dizer pós-colonial), reinventado como “europeu”. Mas no qual o Brasil, no quadro do “remake neo-colonial sem colónias” chamado “lusofonia”, é o lugar de todas as projecções identitárias; genéricas umas (a alteridade exótica, a tropicalidade, a alteridade sensual – todas mercantilizáveis), especificamente portuguesas, outras (a comprovação da grandiosidade dos descobrimentos, do luso-tropicalismo, o “filho” que cumprirá o que o “pai” não foi).

No centro destas representações de alteridade/alter-ego, pode encontrar-se a figura da mulata. Triplamente subalterna, triplamente desejável, para o olhar hegemónico: porque mulher, porque nome, circulando estampado num objecto pela paisagem urbana.

Quantos personagens de livros ou novelas conseguem espalhar-se assim pelo mundo e cumprirem o desígnio de representarem simultaneamente a localidade extrema (o ancoramento em Ilhéus) e a universalidade (o suposto triunfo de um projecto de mestiçagem)? Creio que só aqueles que, à partida, são construídos a partir de tipos sociais que, em si, correspondem a quadros de interpretação socio-política das realidades coloniais, de novo-mundo ou das suas extensões pós-coloniais. No caso de Gabriela, não se trata de um tipo de personalidade, de uma encarnação de um drama humano, mas sim de um tipo de relações sociais brasileiras e das representações sobre elas feitas: nos domínios a que convencionámos chamar “classe”, “género” e “raça”.

Gabriela é um tríptico noutro sentido também: no primeiro quadro temos a harmonia social brasileira (democracia racial, cordialidade nas relações entre desiguais, sensualidade como superação das tensões de género) que nós, cientistas sociais, desmontamos como construção ideológica; no segundo quadro temos os conflitos sociais brasileiros, segundo as mesmas linhas de clivagem, que nós temos por realidade escondida, revelada graças à análise social feita com a aplicação de conceitos como ‘raça’, classe e género; no terceiro temos o projecto, humanista nuns casos, pós-moderno noutros, da transcendência dessas clivagens. Ou todos são verdadeiros, ou precisamos de ver como as pessoas os vivem na prática.

Um dia encontro, num depósito de sucata da prefeitura de Ilhéus, uma estátua abandonada. Feita com materiais metálicos reciclados, ela representa Gabriela. Terá sido obra de um artista local. Terá estado destinada a exibição em local público da cidade. Terá sido preterida pelas autoridades que não devem ter gostado de uma representação tão… metálica de uma carnalidade imaginada como curvilínea, tenra e terna. Gabriela é suposta ser nítida, transparente, simples, não um “assemblage” de objectos de proveniências diversas. Se a sua origem é o híbrido, o seu destino (ideológico) é a pureza: no seu papel de representante da especificidade brasileira. O celulóide, o suporte magnético ou digital, pelas suas semelhanças com a limpidez das representações mentais – esses sim, são tidos como os suportes correctos para representações de Gabriela.

No terreiro Tombency, sede do bloco afro Dilazenze – e sede de uma rede parental e vicinal que está na base de ambos -, os meus colaboradores de pesquisa mostram-me a cassete do documentário televisivo do realizador português Brandão Lucas, rodado em Ilhéus. Trata-se de um episódio de uma série documental sobre os lugares do mundo por onde os portugueses passaram, um produto mais do ciclo de comemorações dos Descobrimentos que inaugurou, desde os finais da década de oitenta, a produção de uma pós-colonialidade portuguesa. Gabriela, e os “lugares” de Jorge Amado (o Bataclã – que não existe -, o café Vesúvio, etc.) ocupam lugar de destaque. Os meus anfitriões sorriem, mas não comentam, perante as imagens de um documentário que foca os “landmarks” do centro de Ilhéus, que não sobe ao morro onde eles vivem e que presta culto a uma mulher de papel que não conseguiu transformar-se numa entidade com capacidade para “baixar” nos seus corpos. Mas isto é uma interpretação abusiva da minha parte, com certeza. Nada impede que os meus informantes não partilhem do efeito de hegemonia que o ícone Gabrielano comporta.

De regresso a Portugal, e passados muitos meses. Por acaso, leio o romance e crónica de viagens “Baía dos Tigres”, de Pedro Rosa Mendes, livro sobre o desastre angolano contemporâneo, itinerário por cenários de guerra, absurdos e alguma (pouca) dignidade humana. Às tantas, na página 227-8, encontro esta passagem: «Era gente refinadíssima, este grupo de Brigadas, da grande burguesia ou mesmo aristocracia, com carreiras feitas, que tinham radicalizado as suas posições e mantinham o culto das armas. O Lubango recebeu também uma contribuição basca com refugiados da ETA, e ainda elementos do Tupac Amaru, incluindo uma uruguaia quase sexagenária, cujo quarto no Hotel Continental – onde as carpetes vermelhas se tinham tornado cinza-bolor por causa das inundações – era chamado o Bataclã, nome tirado da novela brasileira “Gabriela”». A migração dos símbolos triangulava o Atlântico e os tempos.

2. Excerto do Diário de campo, 24 de Setembro de 1997.

O centro de Ilhéus é marcado por alguns edifícios representativos de uma certa identidade local, coincidente com a auto-apresentação da cidade ao exterior. Símbolos de poder e prestígio. Entre eles, a Catedral, o Teatro Municipal, o bar “Vesúvio”, e a Casa Jorge Amado, todos praticamente paredes-meias. Parte desta última é um museu, elaborado em torno do simples facto de ali ter vivido o escritor, quando jovem. A outra parte alberga a Fundação Cultural de Ilhéus, uma instituição municipal que gere a política cultural. A casa resulta de um esforço de reconstrução recente, elogiado pelo próprio escritor num vídeo que é projectado no auditório da Casa. A exposição permanente é constituída pelos seguintes elementos: capas de livros do escritor em várias edições internacionais e línguas; uma listagem dos idiomas em que a sua obra foi traduzida; painéis de fotografias biográficas, avultando os encontros do escritor com personagens ilustres; e uma galeria com figuras de orixás, em que Oxóssi, sincretado com São Jorge (padroeiro de Ilhéus), ocupa o lugar central. Produto local – da síncrese local – legitimado (só possível graças à?) projecção internacional. O conjunto é completado com uma zona de vendas, onde estão disponíveis bugigangas e produtos locais, bem como livros de autores regionais. É, pois, a própria casa, e a sua arquitectura nobre, que funciona como emblema da presença de Jorge Amado. E da sua ausência: desde a juventude que não vive em Ilhéus e desde então que mudou o lugar da acção dos seus romances, o qual, para todos os efeitos, era um mundo que Ilhéus perdeu – o da gesta do cacau.

O folheto de divulgação da Casa explicita o propósito de protecção do passado, de exaltação do que, localmente oriundo, ganhou projecção maior, ou ainda do que localmente se faz a partir do que tem prestígio global (certos desportos, ballet e dança, artes plásticas, música clássica etc.) – marca, a meu ver, um “tipo de branco” que se confunde com “um tipo de burguês”. Tanto Lindaura como a sua cunhada, presente na conversa, fizeram questão em afirmar que nunca na cidade (presume-se que falem dos seus antepassados ricos) se ligou importância à cultura, pois os locais “só queriam viajar e esbanjar dinheiro e nem aproveitaram para visitar museus”. Orgulhosa da sua filha, bailarina e professora numa academia local, e do filho, campeão de triatlo, Lindaura faz questão de referir também “o negrinho” que adoptou e que colocou “no melhor colégio”.

3. Gabriela toma duche nua numa cachoeira de água pura?

À partida, e sempre, um problema: Gabriela é uma personagem de romance. Este, sendo uma obra individual, de autoria, é também o precipitado de um contexto particular. Os mais pós-modernos diriam, ainda, que o romance é construído pelos leitores, abrindo-se a múltiplas interpretações. Uma conciliação possível entre noções centradas e descentradas de autoria, seria ver o romance como obra aberta para a apropriação social de certos símbolos bons para pensar, por ele fornecidos.

Tica Simões é professora de literatura na universidade local. Num congresso sobre literatura regional, intervém e pergunta-se se existe uma literatura da região do cacau da Bahia. Colocando em alternativa as expressões “literatura do cacau”, “literatura da região do cacau” e “literatura do sul da Bahia”, ela afirma que até há pouco usava as duas primeiras. Mas, agora, a região encontra-se “descaracterizada” e busca alternativas económicas que provocariam, elas mesmas, uma “descaracterização identitária”, contrastante com os anos trinta de riqueza e poder representados por Adonias Filho e Jorge Amado. Estes teriam, aliás, colocado “a região na literatura brasileira”.

Uma questão do domínio da economia-política (a monocultura do cacau) e uma questão do domínio das relações nação-região (a baianidade e, especificamente, a sul-baianidade) são convocadas para a compreensão da literatura. E vice-versa (faltando referir que ambas participam de uma engrenagem mais vasta, aquela que hoje dá pelo nome de globalização). Tica Simões contextualiza: entre 1930 e 1980, a região do cacau foi projectada no Brasil e no mundo. Nos anos 1970, as taxas retidas pelo governo federal eram remetidas para a região através da Ceplac, o que gerou “riqueza e escritores” (!). Mas em 1980 elas passam a ser retidas pelo governo federal e dá-se a chegada das pragas, nomeadamente a vassoura de bruxa. Segundo Tica, passa-se do “ter para o ser” ou, como diz um ditado local, “avô rico, filho nobre, neto pobre”. A situação levaria a uma procura de nova identidade, com uma aposta na dimensão histórica da região, começando a ver-se o que o “cacau não deixava ver”: a Mata Atlântica, a Costa do Descobrimento, a beleza do litoral.

De facto, o descalabro da economia cacaueira tem levado as autoridades locais a promoverem o turismo como principal aposta de desenvolvimento regional. Este turismo é especificamente apresentado – embora não o seja na realidade – como “cultural” e “ecológico”, as duas palavras-chave dos processos contemporâneos de mercadorização de duas realidades objectivadas e reificadas enquanto especificidades locais intercambiáveis num mercado universal de particulares: performances e produtos culturais, e paisagens. Normalmente estes dois universos são mediados por figuras humanas que incorporam características de ambos – daí a sua sexualização, racialização e “especificação” culturalista.

Tica Simões usa “Tocaia Grande”, de Jorge Amado como exemplo do revisionismo dos anos 80. Neste romance o autor teria abandonado a centralidade narrativa dos personagens dos coronéis a favor da perspectiva dos trabalhadores rurais, do negro, da prostituta. Nos tempos “pós-modernos” a atenção virar-se-ia para as minorias, com as temáticas da raça e do sexo, enfatizando, por exemplo, as culturas negras e indígena, num regionalismo com carácter universal – adianta a professora.

4. Dois recortes de jornal à laia de ilustração.

«FUNDACI (Fundação Cultural de Ilhéus) participa em Salvador de curso de Marketing Cultural. Participaram no primeiro curso de Negociação para Captação de Recursos em Projectos Culturais (…) a atriz Carla Mendes, diretora da Casa de Cultura Jorge Amado, e Maurício Pinheiro (diretor do teatro Municipal) (…) (que) visitaram Jorge Amado e Zélia, na residência do casal, quando receberam exemplar da recente tradução de Gabriela para o catalão. O volume fará parte do acervo da Casa» (A Região, Ilhéus, 10.11.97, nº 76)

«O aniversário de Jorge Amado. 85 anos neste Domingo, dia 10. Será comemorado pela FUNDACI com filmes projectados em telão no Largo Cultural (fronteiro ao Teatro Municipal), incluindo um vídeo especial cedido pela TV Globo do Rio, contendo reportagens sobre o romancista e a cidade de Ilhéus, (e) o filme “Tieta do Agreste” de Cacá Diegues recentemente lançado no circuito comercial e participando em festivais nacionais e internacionais, com trilha sonora de Caetano Veloso e protagonizado por Sónia Braga». O evento incluía um sorteio de camisetas com motivos retirados de romances de Jorge Amado. (A Região, Ilhéus, 11.08.97).

5. São Jorge dos Ilhéus.

No início do trabalho de campo li “São Jorge dos Ilhéus”, de Jorge Amado, e não “Gabriela” (que só leria já depois do regresso a Portugal). Tanto este romance como o anterior, “Terras do Sem Fim”, narram a história da conquista das terras cacaueiras pelos coronéis do princípio do século e a passagem daquelas para as mãos dos exportadores forasteiros, a partir da Segunda Grande Guerra. O triunfo do capital comercial e exportador é mal visto por Jorge Amado (na linha de um proteccionismo nacionalista não só recorrente no populismo latino-americano, mas sobretudo entre o comunismo da III Internacional), que prefere o modelo de masculinidade do tempo dos coronéis, mesmo que nele denunciasse o carácter de classe, nomeadamente o seu carácter explorador e a profunda desigualdade social: «…o poeta já lhes dissera algo da luta que antevia entre os grandes exportadores e os donos da terra, os grandes fazendeiros, aqueles conquistadores de matas que haviam passado, trinta anos antes, sobre tantos cadáveres para plantar a árvore do cacau, luta que arrastaria também os pequenos lavradores, que cultivavam suas rocinhas com a sua própria família (…) Os exportadores eram apenas intermediários, mas realmente estavam se tornando os donos do cacau, os que mais ganhavam com a lavoura» (p. 60). Atento às relações de produção e à forma como determinam relações sociais desiguais, num modelo marxista clássico, Amado não resiste, porém, ao elogio de uma masculinidade baseada na bravura, na honra e no combate com a Natureza.

Para Jorge Amado, há, no início, uma terra de ninguém, uma geografia e uma história do nada. A ocupação que dela fazem os coronéis equivale a uma gesta heróica, a gesta possível, mesmo que ela estabeleça uma realidade social nova, feita de senhores e trabalhadores quase escravos. Na geração seguinte, surgirão os filhos dos senhores, empurrados para papéis de mediadores com o estado e a burocracia: «Os filhos dos coronéis, a primeira geração de Ilheenses, aquela que os pais destinavam a grandes destinos, andava, formada em advocacia, em medicina, ou em engenharia, inútil pelos cafés e pelos cabarés».

Paralelamente, Ilhéus é região de imigração, fugitivos na sua maioria à miséria sertaneja e logo feitos dependentes das relações de patrocinato e clientelismo, hegemónicas na definição e significação das trajectórias de vida «António Vítor (personagem de pequeno fazendeiro imigrante recompensado, em terra, pela sua participação em tocaias) tem vontade de dizer alguma coisa, de falar em frases mais largas, de, se isso fosse possível, levar a mão até Raimunda e fazer-lhe uma carícia. Ela também, apesar do seu rosto zangado, tem vontade de externar sua alegria com algo mais do que o sorriso com que saudou a nuvem. Mas não o sabem fazer. Como não o souberam quando nasceram os dois filhos» (p. 85). A mulata Raimunda e o caboclo António (como depois o autor os trata, racializando o seu lugar social) são beneficiários de relações patrão-cliente. Esperam ansiosos a chuva. As suas limitações de expressão emotiva, reflectem, no plano das relações de género, as limitações sentidas nas relações político-económicas.

O mundo dos imigrados, desenraizados (à semelhança dos coronéis na primeira geração), é um mundo de fronteira também no plano afectivo e sexual. As referências à falta de mulher, aos corpos femininos estragados pelo trabalho e a pobreza, à masturbação, ao bestialismo, são recorrentes. E as distracções têm o miserabilismo dos ambientes de exploração, sem o elogio da cultura popular que seria de esperar do populismo neo-realista de Amado: «Sobre o assoalho, que parece encerado, o cacau, que veio dos cochos, seca, revirado pelos pés dos homens, que dançam sobre ele uma dança inventada, que cantam uma canção ali igualmente inventada. A dança lembra outro baile que outros negros, noutros tempos, bailaram sobre a coberta dos navios negreiros e a música fala do desejo que eles abrigam de virem a ser marinheiros um dia» (p. 132). Prenuncia-se aqui o uso que Amado virá a dar, mais tarde na sua obra, à “cultura afro-brasileira” como cultura popular baiana por excelência, na ausência de outra que não seja a que resulta de relações de produção, sem um lugar de origem, uma poética própria.

Em geral, a negritude de pobres e trabalhadores vai de si e raras vezes é referida especificamente pelo autor. A “raça” está subsumida num discurso de classe. Mas a fazenda de cacau é progressivamente complementada (e, mais tarde, substituída) pela favela urbana, mais lumpen-proletarizada e marginalizadora porque, supõe-se, desprovida do valor moral do trabalho e do contacto com a natureza: «à primeira vista, somente, porque em verdade eram duas misérias diferentes. Os meninos das fazendas tinham a cor da terra, as barrigas enormes, os sexos, cedo acostumados aos contactos com os animais, precocemente desenvolvidos. Estes da Ilha das Cobras eram também amarelos, mas de um amarelo diferente, mais verdoso, não tinham barriga, o sexo era sempre pequeno. A pele sobre os ossos, escaveirados, sabidos de fazer medo» (p. 163). Se a cor é sinal de condição social, é-o também de saúde e moralidade. É na linguagem do corpo – um corpo descrito com base em critérios que remetem para o sexo e género e para a raça e condição social – que Amado pinta as diferenças e os seus leitores as compreendem. «Minha cor é do cacau / mulato de querer bem / mas ai! Mulata mas ai! / sou amarelo encapuça’ o/ cor da maleita também» (p. 118).

No extremo oposto da escala social, trata-se de lidar com a transição para um capitalismo sem romantismo. Carlos (o exportador arribado) é assim retratado: «No mais íntimo do seu ser, onde mora o adolescente que vinha da leitura de Júlio Verne para o escutar das histórias de Ilhéus, Carlos lastima que não fosse aquela uma luta heróica, de repetição, tocaias e jagunços. Era uma luta de escritório, de jogo de bolsa, de alta e baixa…» (p. 173). Neste mundo em transformação, a chegada dos forasteiros ligados ao capital transnacional é também o início de representações, no romance, dos aspectos mais facilmente objectificáveis da cultura urbana local, especialmente afro-brasileira. Numa passagem significativa, alguns brancos assistem a um candomblé e a sua atitude parece prenunciar fenómenos contemporâneos: «(…)a argentina sente no corpo o chamado da música. Não é como os tangos de toda a degradação. É música primitiva, de desejos sem desvios (…) os brancos já lhes haviam tomado tudo, tomavam por fim da sua música religiosa para com ela acender os seus desejos (…) o sueco soltou um grito áspero, pensava que assim gritavam os pretos nas macumbas…» (p. 193).

«E como não havia mais terra para conquistar – muito menos para comprar – os coronéis não sabiam o que fazer do dinheiro». s das classes sociais mais baixas. Os que são (ou supomos serem) brancos, nunca são racializados pelo autor. Alguns exemplos: «…solteironas, o coro unânime dos coronéis…comerciantes, exportadores, trabalhadores vindos do interior para a festa, carregadores, homens do mar, mulheres da vida, empregados no comércio, jogadores profissionais e malandros diversos…» (p. 29); «…as caboclinhas humildes nas pobres casas de rameiras, nos povoados» (p. 37); «(mulheres de coronéis) a esposa na cozinha, como uma negra, sem diversão» (p. 38); «O Doutor não era Doutor, o Capitão não era Capitão. Como a maior parte dos coronéis não eram coronéis» (p. 46). Aliás, as relações sociais locais são descritas em termos relacionais e interaccionais: « Como poderia Segismundo, sem cometer grave descortesia, duvidar da palavra do coronel José Antunes, rico fazendeiro, ou do comerciante Fadel, estabelecido com loja de fazendas, gozando de crédito na praça?» (p. 62); «Como a maioria da população, não media pelo nascimento o verdadeiro grapiúna e sim pelo seu trabalho em benefício da terra, pela sua coragem de entrar na selva e afrontar a morte, pelos pés de cacau plantado…» (p. 64).

Na linha dos processos de categorização pelo género, uma atenção especial é prestada à definição das mulheres, e é o personagem de Nacib que assim reflecte sobre a empregada que acaba de perder e abrirá o caminho para a chegada de Gabriela: «A verdade é que já sentia saudades dela, de sua limpeza, do café da manhã com cuscuz de milho, batata doce, banana da terra frita, beijus…De seus cuidados materiais, de sua solicitude, mesmo dos seus resmungos. Quando uma vez ele caíra com febre,… ela não arredara do quarto, dormira mesmo no chão. Onde arranjaria outra como ela?» (p. 59). Tipos femininos que cruzam as diferentes categorias de pertença social são apresentadas: «A mulher loira… formosa, bem vestida e bem pintada, ‘uma boneca estrangeira’» (p. 77); «as irmãs Dos Reis…somavam cento e vinte e oito anos de sólida virgindade indiscutida» (p. 78); «Mariazinha, os pés descalços, a pentear uns cabelos compridos, a matar piolhos. Era mulher de uns trinta… anos, gasta pela bebida, mas ainda com uns restos de graça no rosto caboclo» (p. 87).

Nacib é um dos muitos imigrantes que acorreram a Ilhéus, «zona ubérrima onde se fizera homem» (p. 61), descrito, enquanto ser masculino, da seguinte forma: «…bigodões negros de sultão destronado, a descer-lhe pelos lábios… frondosos bigodes plantados num rosto gordo e bonachão, de olhos desmesurados, fazendo-se cúpidos à passagem das mulheres. Boca gulosa, grande e de riso fácil. Um enorme brasileiro, alto e gordo, cabeça chata e farta cabeleira, ventre demasiadamente crescido…» (p. 61). Os personagens masculinos vão sendo definidos em grande parte pelas suas atitudes face às mulheres: «(Mundinho) talvez os cabelos negros, talvez os olhos rasgados, dava-lhe um toque romântico, fazia com que as mulheres logo o notassem…» (p. 65); «(os bares) hábito que se estendera a toda a população masculina» (p. 73) ou homens «cuja única ocupação era jogar póquer e pegar negrinhas no morro da Conquista» (p. 75), ou um velho coronel pensando em como «os homens precisavam daquilo (cabarés), ele também fora jovem. O que não entendia era clube para rapazes e moças conversarem até altas horas, dançarem essas tais danças modernas, onde até mulheres casadas iam rodopiar em outros braços… Mulher é para viver dentro de casa, cuidar dos filhos e do lar. Moça solteira é para esperar marido, sabendo coser, tocar piano, dirigir a cozinha» (pp. 94-5); «o ideal de cada coronel é dormir com mulher casada» (p. 103).

Se, para lá de classe, género e “raça”, a idade é um nível de identificação e diferenciação social a não esquecer, outro é a sexualidade. Amado encontra lugar para uma breve referência, pejorativa, à homossexualidade: «Tratava-se de dois invertidos oficiais da cidade. O mulato Machadinho, sempre limpo e bem arrumado, lavadeira de profissão, em cujas mãos delicadas as famílias entregavam os ternos de linho (…) E um negro medonho, servente na pensão de Caetano, cujo vulto era visto à noite na praia, em busca viciosa» (p. 111).

É neste universo de rígidas classificações sociais, hierárquicas e assimétricas, que Gabriela vai fazer a sua aparição desestabilizadora das mesmas e prenunciadora do triunfo de um projecto social “brasileiro” que não haveria ainda chegado à cultura de zona de fronteira de Ilhéus. E vai fazê-lo na Segunda parte, logo após uma série de qualificações das atitudes dos homens perante as mulheres: «Porque não culpava certos maridos que nem ligavam para as esposas, tratavam-nas como criadas, enquanto davam de um tudo, jóias e perfumes, vestidos caros e luxo, às raparigas, às mulheres da vida ou às mulatas para quem botavam casa?» (p. 144); «os coronéis reservavam a pena de morte para traição de esposa. Rapariga não merecia tanto…» (p. 149); (um coronel) eram seu luxo, sua alegria na vida, essas cabrochas, mulatinhas no verdor dos anos, que o tratavam como se ele fosse um rei» (p. 150) ou «descobria, quase sempre na sua fazenda ou nos povoados, uma caboclinha simpática» (p. 151); «Diziam que o viúvo levava à noite negrinhas do morro para sua casa» (p. 179); «Por essas e por outras, ele, Nacib, não se casava: para não ser enganado, não Ter de matar, derramar o sangue alheio» (p. 161).

Gabriela, que Nacib descobre no “mercado dos escravos” (sic) para substituir a empregada que havia perdido, vai surgir justamente em contraste com as outras figuras femininas e com as expectativas masculinas em relação às tipologias de mulheres. É através dos olhos de Nacib que ela é apresentada: «…e a viu dormida numa cadeira, os cabelos longos espalhados nos ombros. Depois de lavados e penteados tinham-se transformado em cabeleira solta, negra, encaracolada. Vestia trapos, mas limpos… Um rasgão na saia mostrava um pedaço de coxa cor de canela, os seios subiam e desciam levemente ao ritmo do sono, o rosto sorridente» (p. 180); «… dela vinha um perfume de cravo, dos cabelos talvez, quem sabe do cangote» (p. 181); «Morena e tanto, essa sua empregada. Uns olhos, meu Deus… E da cor queimada que ele gostava»; «Ela sorria, era de medo ou era para encorajar? Tudo podia ser, ela parecia uma criança, as coxas e os seios à mostra, como se não visse mal naquilo, como se nada soubesse daquelas coisas, fosse toda inocência« (p. 204).

A imagem é claramente a do bom selvagem. Mas um bom selvagem no feminino, contrária à figura da Eva pecaminosa, por um lado; e uma boa selvagem que, em vez de ser indígena (ou sequer cabocla), é apresentada como mulata (e mesmo, preferencialmente, como morena). Nestas duas vertentes, ela é genuinamente produto brasileiro, e caracterizado pelo convívio paradoxal, inovador, entre inocência infantil e sensualidade – “não existe pecado a sul do Equador”…. Nacib vai ser o agente dos sentimentos ambíguos em relação a Gabriela, começando pela “confusão” entre os afectos e a relação laboral: «Nunca fizera negócio mais vantajoso como ao contratar Gabriela no ‘mercado dos escravos’. Quem diria ser ela tão completamente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?» (p. 227); «jamais poderia querer assim, tanto desejar, tanto necessitar sem falta urgente, permanentemente, uma outra mulher, por mais branca que fosse, mais bem vestida e mais bem tratada, mais rica ou bem casada (…) afinal que sentia por Gabriela, não era uma simples cozinheira, mulata bonita, cor de canela, com quem deitava por desfastio?» (p. 233); «Mas como casar com Gabriela, cozinheira, mulata, sem família, sem cabaço, encontrada no ‘mercado dos escravos’? Casamento era com senhorita prendada, de família conhecida, de enxoval preparado, de boa educação, de recatada virgindade» (p. 275).

Gabriela, por seu lado, tem uma atitude de absoluto hedonismo, sem cálculo racional. Gosta de dormir com Nacib por o achar bonito e carinhoso, não como relação de contrato, seja de mancebia ou de casamento. Para ela, «A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio. Mastigar goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar, cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro moço sonhar» (p. 279). É esta imagem de inocência sem culpa, que Amado vai contrastar com projectos de mulher moderna, e não com os projectos, anteriores e tradicionais, de mulher recatada: «A esposa, uma gringa alta e loiríssima, de modos livres e um tanto masculinos, não suportava Ilhéus. Vivia na Bahia… corria de automóvel, fumava cigarros, constava que recebia os amantes em plena luz do dia» (p. 263) e «Mulher sem compostura, dela diziam horrores: bebia tanto ou mais que um homem, ia à praia seminua, adorava adolescentes quase meninos, corria até que gostava de mulheres» (p. 264).

Nacib vai fazer uma derradeira tentativa de domesticar Gabriela como mulher casável e “respeitável”, depois de ela ter cometido a proeza de conseguir levar todos os convivas de um baile burguês para a rua, juntando-os a um popular cortejo de Reisados (uma alegoria da atenuação da rigidez europeia e burguesa conseguida pelo “projecto brasileiro”). Nacib acabará por desistir dessa tentativa, apercebendo-se de que fizera definhar a flor de Gabriela. Um personagem, introduzido para comentar genericamente o sentido social de Gabriela, é um autêntico porta-voz do programa de interpretação nacional de Jorge Amado. Indagando a alma de Gabriela, diz: «De criança? Pode ser. De passarinho? Besteira, Josué. Gabriela é boa, generosa, impulsiva, pura. Dela podem-se enumerar qualidades e defeitos, explicá-la jamais. Faz o que ama, recusa-se ao que não lhe agrada. Não quero explicá-la. Para mim basta vê-la, saber que existe» (p. 428). Mas a verdadeira interpretação, está no subtítulo do último capítulo: por baixo de “O Luar de Gabriela” pode ler-se, em itálico: «Talvez uma criança, ou o povo, quem sabe?».

Com a publicação, divulgação e, depois, passagem a televisão, de “Gabriela”, passámos a ter uma marca registada de uma representação. Julgava eu ter feito uma blague ao colocar o â no título – para vincar este lado de ícone e produto – quando me apercebi, na ficha técnica do livro, de que “Gabriela” e “Gabriela, Cravo e Canela”, são marcas registadas. De facto.

7. Gabrielas, para lá de Gabriela.

Como personagem literário, Gabriela pode ser entendida em relação a dois contextos: o de figuras semelhantes a ela na literatura brasileira, e o de outras figuras na obra do seu criador Jorge Amado. Começando por este último aspecto, relembre-se o episódio da reivindicação, feita por parte de uma pessoa real, de ter sido a fonte de inspiração para um personagem de Amado. Trata-se de Severiano Manoel de Abreu, um pai de santo que recebia o encantado caboclo Jubiabá. Ambos, pai de santo e escritor, se envolveram em polémica, na época em que a definição de uma cultura popular de base afro-baiana estava na ordem do dia, nomeadamente com os congressos afro-brasileiros. Amado, que reivindicou para si, nesses anos 30, os elogios de Gilberto Freyre e Edson Carneiro por “Jubiabá”, é bastante forte na sua reacção contra o protesto do pai de santo. Cita-o Brookshaw, numa entrevista concedida ao Estado da Bahia em 1936, no seu livro sobre o negro na literatura brasileira: «Ora, calcule você que eu pretendi criar um tipo de macumbeiro que fosse um verdadeiro sacerdote na sua religião, um homem bom, um tipo nobre e sereno, verdadeira figura de pai espiritual, de mentor (…) Pois de repente me aparece o mulato Severiano a afirmar que ele é que fora o tipo real sobre o qual eu moldara o meu personagem. Se você conhecesse a história do mulato Severiano, haverá de compreender porque o meu personagem está tão humilhado» (Brookshaw 1983:116). Curioso conundrum: o escritor (esse especialista letrado na criação de representações do povo) supostamente inspira-se num personagem real, ou simplesmente num tipo social; o personagem real (ou alguém que se reconhece no tipo social) reage à qualificação de si feita; e o escritor afirma a superioridade do tipo social à realidade vivida de uma pessoa concreta…. Pena que não tenha surgido nenhuma Gabriela.

Os primeiros romances de Amado, localizados em Ilhéus (“Cacau” e “Suor”, respectivamente de 1933 e 1934), podem ser incluídos no que em Portugal ficou conhecido como neo-realismo (corrente sobre a qual, aliás, Jorge Amado exerceu fortíssima influência), com uma preocupação com a condição das classes trabalhadoras. É o trabalho e a experiência da exploração que constituem o nó central, em relativa independência da questão ‘racial’. Mas a partir dos anos cinquenta, o escritor inaugura uma nova fase da sua obra, após o regresso do exílio, em que começa a focar a cultura negra baiana enquanto cultura regional tornada património da sociedade em geral (negra ou branca), com forte expressão nas camadas populares. Se nesta mudança há sinais positivos – pois um programa político universal é substituído por uma atenção à especificidade cultural – esta é, no entanto, o resultado directo do triunfo de um culturalismo Freyriano, desvinculador das relações de desigualdade baseadas no logro da ‘raça’. Regionalista, nativista, ou mesmo populista, consoante as vontades de classificar a sua obra, o que é certo é que ela depende fortemente, para a sua prossecução, da reprodução dos estereótipos sociais dominantes. Brookshaw analisa Jubiabá, Gabriela e Tenda dos Milagres, como um tríptico em que surgem personagens racializados representando o espectro das “personalidades sociais” afro-brasileiras possíveis. Assim, em Jubiabá teríamos o Herói Negro, em Gabriela a Heroína Mulata, em Tenda dos Milagres o Herói Mulato – a síntese da filosofia do “mesticismo” (Brookshaw 1983) proposta por Amado e espelhando as percepções da época.

Tanto Balduíno como Gabriela são marcados por uma forte sensualidade, por uma capacidade de seduzir que, porém, é desprovida de ambição. Marotti (1975), recorrendo à ética da negritude de Senghor, nota a ignorância da noção de pecado sexual, ausência de noções claras de passado e futuro, vitalidade e recusa da intelectualização. Em Tenda dos Milagres, Archanjo é, tal como Balduíno, um fanático de carnaval e candomblé, mas não se deixa ficar pela cultura popular, antes sendo um auto-didacta que, enquanto bedel da Faculdade de Medicina, defende os africanos das teorias racistas dos académicos com quem convive. No entanto, uma leitura atenta de Gabriela, não permite detectar elementos nem do carnaval nem do candomblé, pois Gabriela não é um romance regionalista afro-baiano, marcado pela vivência de Salvador, mas um romance de “lugar”, marcado pela experiência social ilheense

Onde Brookshaw parece ter mais razão é na qualificação da obra de Amado como populista, ou seja, como preservadora de mitos. Todavia, parece-me que esses mitos estavam, à época, ainda em construção, contrapondo-se à ideia da decadência brasileira por razões raciais. Assim, o mito da mulata sensual, o papel de mulatos como intermediários entre negros em extinção e brancos modificados pela negritude, a caminho do fenótipo e tipo cultural brasileiros ideais (mais branco na cor, mais negro na cultura), era um projecto em construção. E, neste projecto, Gabriela aparece como representante do “povo brasileiro em construção” – daí a sua não conotação directa com a especificidade cultural do mundo afro-brasileiro.

Brookshaw, ao defender a sua ideia de “mesticismo”, fá-lo por oposição à teoria do branqueamento: «O branqueamento está intimamente ligado à política racial e social que não nega a mobilidade de pessoas de descendência mista, mas preferia que elas não tivessem muito sangue negro. O mesticismo, por outro lado, é um posicionamento cultural, uma espécie de nacionalismo dirigido contra a completa hegemonia cultural da Europa enquanto, ao mesmo tempo, considera-se superior às influências culturais puramente afro-ameríndias…» (1983:225). Brookshaw adianta: «na verdade o morenismo não é nada mais do que um equivalente neocolonial do branqueamento» (1983:227). O problema é que esta distinção categorial entre projectos para os corpos e descendências, e projectos para os valores, não colhe na análise do real, feita de conflito entre a naturalização dos atributos pessoais, sociais e culturais, por um lado, e a individuação da pessoa humana própria dos projectos de cidadania. Menos ainda se aplicaria, no contexto pós-moderno, à fragmentação e descentramento das noções de pessoas subjacentes aos dois projectos.

Mas é Mariza Corrêa quem aborda, explicitamente, a figura mítica da mulata, numa discussão sobre a relação entre raça e género. Partindo da passagem do pólo negativo (a miscigenação como o mal do país) para o positivo (a apologia da mestiçagem), nos discursos médicos, literários e carnavalescos (p37). Também ela detecta a recorrência das imagens de uma corporalidade sensual e amoral nas mulatas de Aluísio de Azevedo, João Felício dos Santos ou Jorge Amado. Mas Corrêa detecta o que Brookshaw nem divisou: que o mulato contem um potencial de ascensão social, ao passo que a mulata provoca declínio ou mesmo desordem (p40).

Tentando estabelecer correlações entre o pensamento sobre o sexo e o pensamento sobre a ‘raça’ (ver Stepan), Corrêa relembra como foi no contexto dos estudos sobre candomblé que se começou a falar de homossexualidade, numa atitude próxima da acusação de efeminação feita aos mestiços. Diz ela que, assim como há masculino e Masculino, há também Feminina e feminina, e tanto o negro como a negra precisam branquear para aproximarem-se do pólo idealizado (M e F): «No terreno onde se inaugurou o debate sobre relações raciais, o da evocação de desigualdades biológicas ou orgânicas para explicar desigualdades sociais, as diferenças sexuais parecem ter oferecido um parâmetro implícito para analisá-las» (p. 45; ver Haraway).

Aceitando que o modelo brasileiro privilegiaria um contínuum e não categorias polares, dando prioridade a alocações situacionais e relacionais numa escala cromática, Corrêa faz notar como, no campo do género, as coisas passam-se de maneira diferente: as categorias Masculino e Feminina seriam discretas, definidas por oposição e contraste mais do que por relação (p. 46).

Segundo ela, a figura da mulata poria em xeque ambas as propostas. Na classificação racial, a sua situação no continuum é fixa – apesar de ambígua, está a meio caminho. Tem um lugar certo no encontro das raças. No plano do género, é definitivamente feminina: «Acredito que a mulata construída em nosso imaginário social contribui, no âmbito das classificações raciais, para expor a contradição entre a afirmação de nossa democracia racial e a flagrante desigualdade social entre brancos e não brancos em nosso país. Mas no âmbito das classificações de género, ao encarnar de maneira tão explícita o desejo do Masculino Branco, a mulata também revela a rejeição que essa encarnação esconde: a rejeição à negra preta» (p. 49)

Creio haver em ambos estes contributos uma falha interpretativa que assenta em duas questões metodológicas: a primeira é a concentração nos discursos (literários e outros) em detrimento da sua actualização e da observação etnográfica de situações de acção e relação; a segunda é a utilização, num caso, de argumentações culturalistas e, no outro, de uma focagem de cariz estruturalista. Com algumas reflexões a partir da etnografia de Ilhéus, e o contributo de uma síntese teórica com que concordo (Wade 1997), poderemos retornar à pertinência simbólica de Gabriela.

8. Presente Etnográfico

Um dia encontro Vânia, uma moça negra que dança no grupo de ballet afro do Dilazenze. Está a conversar com Ana, antropóloga do Rio. Conta-lhe que escreveu um trabalho para a universidade sobre o personagem do negro Jeremias, feiticeiro da floresta, em Jorge Amado. Ela compara a sua consciência ecológica e profecias com as memórias dos velhos de hoje que trabalharam no cacau. Também estes acham que os problemas actuais – a vassoura de bruxa – são uma vingança da natureza. Também para ela é claro que a religiosidade afro-brasileira e os seus guardiães, os negros, são preservadores da ecologia e que isso se opõe /os opõe ao racionalismo ocidental.

Esta visão é recorrente nas elites dirigentes do movimento negro local. Moacir Pinho, à altura do trabalho de campo responsável pelo sector de produção cultural na FUNDACI, cargo para que foi indicado por o seu partido, o PT, ter participado na aliança eleitoral municipal, está ligado ao sindicato dos trabalhadores rurais, às comunidades eclesiais de base, ao candomblé, e é lider local do MNU. Estuda filosofia na universidade, debruçando-se sobre a oposição entre a cosmogonia de origem africana e o racionalismo e cartesianismo ocidentais. Nos planos, por ele propostos, de actividade cultural e cívica ligada à problemática dos negros, inclui-se a preservação das zonas de mata por razões ecológicas e para recolha de ervas por parte de pais e mães de santo; a promoção social das comunidades mais pobres, sobretudo marcadas pela etnicidade (negra ou de remanescentes de indígenas); e a promoção de uma especificidade cultural da comunidade negra, não só como baiana, mas como sul-baiana, isto é, praticante de um candomblé “Angola”. O chapéu de chuva destas acções é coincidente com os projectos municipais: a promoção de um turismo ecológico e cultural, criador de especificidades locais.

Outros agentes locais – por exemplo, responsáveis pela agência municipal de promoção turística ou pela organização do carnaval – reforçam também estes aspectos, mas, quanto mais forem ligados às elites “brancas”, mais reforçam a importância (e o capital) simbólico do universo mítico do cacau e da obra de Jorge Amado. Sectores mais críticos – Moacir Pinho incluído – inclinam-se mais para um revisionismo histórico, que dê conta dos processos de exploração das minorias étnicas, e não se reconhecem na simbólica da obra de Jorge Amado. A figura de Gabriela poderia ser justamente um campo de disputa político-simbólica: reforça-se o seu poder de ícone da mestiçagem brasileira, ou denuncia-se o carácter construído dessa figura que elide a reprodução das desigualdades sociais actualizadas racialmente?

Numa coisa todos concordam: o fim do período áureo do cacau, a necessidade de encontrar alternativas, o crescimento urbano concomitante com o aumento da pobreza, e a importância crescente de uma agenda étnica, muitas vezes em confronto com uma agenda de luta de classes mais clássica e estabelecida. Muitas áreas de conflito surgem em torno disto: por exemplo, a existência de dois carnavais, o oficial ou cultural e o antecipado, opondo blocos afro subsidiados municipalmente a blocos de trio empresariais e promotores de lucro. E muitos universos discursivos e de relações sociais reproduzem velhas síncreses de diferenciação à margem das discussões pós-modernas sobre política identitária: basta pensar nas páginas de crimes nos jornais locais e nas fotos em que os corpos pobres, negros e seminús são exibidos como troféus.

Fala Moacir. «Porque na verdade o cacau….porque na verdade o que é que a comunidade negra ou indígena teria com a chamada civilização do cacau? A chamada civilização do cacau… seria equivocado eu dizer assim ‘representou a negação dessas comunidades’. Não é… mas a verdade, o que é que aconteceu com índios e negros com a civilização do cacau? Eles foram…os negros a mão de obra, e os índios definitivamente dizimados… Aí você tem uma história…uma história dos trabalhadores rurais aqui, que são na realidade esses negros, que…as histórias mais escabrosas, de gente que recebia o salário na ponta da cartucheira e essas histórias de jagunços, toda uma violência que é transformada em prosa, num lirismo que acaba desvirtuando da própria realidade, que é feito por Jorge Amado, que acaba sendo a grande referência dessa região, aonde… a comunidade negra não se sente contemplada na literatura regional. A não ser naquela parte mais exótica, da prostituição, da jagunçada…»

Um dos blocos-afro ilheenses mais importantes é o Dilazenze atrás referido. Ligado ao terreiro Tombency e sua linhagem, ao bairro da Conquista e suas redes vicinais e às famílias de sangue e de santo que lhe correspondem, o seu líder (e filho da mãe de santo) está ocupando um papel político-cultural cada vez mais relevante. Uma das chaves do sucesso é a incorporação, na política do bloco, de algo mais do que a preparação do desfile carnavalesco: uma agenda de intervenção cívica, de “conscientização” e de procura de espaços para alianças e intervenção políticas ao nível municipal. Durante umas jornadas sobre cultura negra, uma das sessões foi dedicada às mulheres. Pouco participada – estas sessões e actividades têm uma função fática muito grande, criam “discurso para dentro”, limitando-se a exteriorização à imprensa ou alguns “mediadores autorizados”, como os antropólogos.

Na sessão, Gleide, coreógrafa do grupo de dança e neta carnal da mãe de santo, afirma a sua feminilidade como dirigente do mesmo e Mãe Hilza, mãe de santo do terreiro, relembra a importância das mulheres na direcção espiritual. Qualquer uma delas fala da sua experiência, conta a sua vida e participação, sem explicitação de uma agenda feminista ou para-feminista. Mas quando Dino, um homem, funcionário da prefeitura e responsável pelas relações públicas do Dilazenze, intervém, o seu discurso é programático, ou não tivesse sido iniciativa dos dirigentes masculinos a introdução de um evento “feminista”: «Aqui no Dilazenze há muita democracia. Olha-se as mulheres como companheiras com sexo diferente. A ousadia, a garra de trabalhar também se traduz no homem…No Dilazenze, com mais iluminação dos orixás e Mãe como conselheira, temos mais facilidade. Temos uma maioria de pessoas que não são da família dentro do corpo de baile. A gente vê a discriminação com a mulher, o homossexual, o idoso, a criança – a gente procura ser diferente na cultura da gente. Porquê dar só espaço para os homens? As mulheres não são objecto, objecto sexual. O mesmo sangue que elas têm, da cor vermelha, a gente tem, os homens, a mesma garra que nós temos. Nós por sermos do sexo masculino temos vergonha. Acho que o homem é mais sexo fraco porque não assume que sem uma mulher do lado não chega a lado nenhum. O homem vem de dentro de uma mulher, o homem não pode até ao momento conceber outro homem. A Bíblia tudo bem, fala da costela, a gente não vai discutir isso. A visão do Dilazenze é essa: essas caras bonitas, com ou sem maquilhagem, os corpos suados … o contacto delas, a maneira de sorrir, de pentear, a culinária, a ousadia de discutir, de pesquisar a coreografia, de permitir que a outra colega… O homem é mais durão. Ele necessita daquilo, da lágrima de mulher, para ver que ele também é ser humano (…) A gente percebe que outras entidades não têm tanta participação feminina. Talvez seja essa a razão de tanta ciumeira. Tem um monte de menina virgem no Dilazenze, mas nenhuma delas pode abrir a boca e dizer que os homens do Dilazenze passam a mão no seio, nas coxas, no bumbum…Há paquera, de namorado, claro que existe, mas existe respeito. E a gente sempre debate. O respeito pela mulher».

Marinho, líder do Dilazenze, lança uma pergunta sobre a assunção da identidade de mulher negra. E a mulher negra como símbolo sexual? – pergunta -, acrescentando que nos primeiros anos, em 1981, foram para a rua com vestuários nativos, tribais, mostrar a beleza negra, a sensualidade, mas as pessoas não entenderam a mensagem e olharam as mulheres do ponto de vista sexual. O mesmo problema parece ter acontecido nos Concursos de Beleza Negra: onde começava a afirmação de auto-estima ‘racial’ e acabava a objectificação do corpo feminino, e vice-versa?

A esta dica, Gleide responde: «…naquela época os homens viam (a mulher) como objecto. Um símbolo sexual para mim é uma coisa, um objecto outra. Para mim a mulher negra é um símbolo sexual, porque não mostrar sua beleza? A mulher negra é bonita. Dizem que sou convencida…A gente pode mostrar beleza exterior e interior…»

E Dino interpreta: «…o seu convencimento está no seu interior, você é uma figura iluminada. Se é convencida é porque quando se mostra bonita não é exibicionismo barato, vulgar, é natural. Seja sempre convencida como mulher, sabendo-se colocar no seu lugar, mulher pura, limpa, que luta».

Esta discussão para consumo interno no grupo, marcada por uma agenda politicamente correcta, releva de uma atitude política propositiva: a conscientização e criação de auto-estima negra, da mulher negra enquanto não mulata apenas e do empowerment de comunidades pobres, como ficou explícito durante o trabalho de campo noutras situações. Em Ilhéus é por demais evidente o domínio do poder económico por uma elite branca (embora crescentemente deslocalizada, com transferências de capital para outras partes do país e do mundo), do poder político pela mesma ainda que cada vez mais pelos sectores branqueados através da educação e do funcionalismo; a submissão da ‘raça’ à classe é parte das interpretações correntes (“discriminação social e racial”, é comum ouvir-se) só contrariada pelo movimento negro e os sectores activos no movimento afro-cultural; a assimetria simbólica do género e as desigualdades com base nele reproduzem-se no seio das populações definidas como “pobres e/ou negras”, a não ser nos sectores politizados. Em todos os casos, e perante imensas dificuldades, as movimentações são nos sentido da promoção de igualdade com respeito à diferença, e da recusa da desigualdade e da semelhança. Tal como o género, com os processos de naturalização (ver Yanagisako e Delaney 1995) a ele subjacentes, também a raça se reproduz como categoria naturalizada apesar da desconstrução do seu carácter aleatório com base em sinais diacríticos da percepção visual dos corpos humanos.

9. Compreendendo classe, género e ‘raça’

O fim das teorias raciais como explicativas das desigualdades sociais e nacionais, e a correspondente sagração da cultura explicativa das diferenças, coincidiu com a passagem do horror pela mestiçagem racial ao elogio da mestiçagem cultural, permanecendo incólume o desejo de branqueamento progressivo. Simultaneamente, o triunfo do culturalismo vai abrir as portas a dois tipos de formulação conceptual: a supremacia de explicações de fundo marxista sobre a desigualdade, explicando ‘raça’ através de classe, e a abertura – avant la lettre – de uma retórica do híbrido pós-colonial com Freyre, com a diferença de que se quedou pelos aspectos expressivos da cultura, elidindo as relações sociais subjacentes, nomeadamente as de desigualdade. É compreensível que, neste quadro, as figuras simbólicas de mulatos representem transição, ponto de encontro, ponto de passagem. Esta imagem racializada metaforiza as possibilidades de ascensão (ou o seu obverso, a queda) social, num reconhecimento implícito e/ou pragmático dos privilégios de cor no Brasil, e sexualiza necessariamente estas mobilidades e tendências – já que um fenótipo novo é o resultado de cruzamentos genéticos inesperados.

O que triunfou no Brasil foi um composto de teorias racistas, elogios da mestiçagem, o pano de fundo de um desejo de branqueamento, uma ordem social em que as linhas de privilégio de classe seguem em grande medida divisões ‘raciais’, e uma ideologia de democracia racial correspondente a uma ideia novo-mundista de possibilidades de progresso, transformação e mobilidade garantidas por um carácter nacional cordial, festivo, comunicativo, simbolizado em formas corporais performativas (festa, carnaval, dança etc.) que instauram zonas de comunicação sexualizadas e afectivizadas. É sobre este complexo – sistematizado discursivamente em vários campos do saber e actualizado em certas arenas de interacção social interpretadas como as mais relevantes – que, com a democratização e a globalização, as agendas da política da identidade vão ganhar ímpeto e introduzir a negritude como factor nunca antes explicitado. E isto vai acontecer em diferentes meios sociais (uma coisa é o movimento afro-cultural, outra o movimento político negro, outra ainda as manifestações de auto-estima da classe média negra emergente) e com diferentes agendas cruzadas (a política tradicional de esquerda, sindicalista e classista, as preocupações ecológicas e mesmo new age, ou os movimentos feminista e/ou gay).

Gabriela, enquanto símbolo, poderia ser um pretexto para discutir estas agendas cruzadas: que significa ela para diferentes actores (incluindo, a meu ver, o “interno”) como uma desiring machine.

É justamente na análise – não aplicada ao Brasil – da situação pós-moderna, que Wade nos pode ajudar a ultrapassar certos vícios do debate interno brasileiro nas ciências sociais (ligados, a meu ver, à comparação Brasil-EUA, às análises baseadas na classe ou, alternativamente, demasiado culturalistas). Wade diz que o feminismo teve uma influência crucial ao abordar claramente a identidade como algo de construído através de processos de relacionalidade e representação, enquanto processo e não coisa; que a reificação e essencialização da identidade foi desafiada pelo descentramento dos indivíduos; que as identidades múltiplas e o desafio às metanarrativas tornam menos importante responder a perguntas sobre a primazia de classe, raça ou outro nível; e que a cultura e mais exactamente a política da cultura tornou-se num assunto central, junto com a mercadorização da cultura e os movimentos sociais.

Estes elementos permitem a subscrição das ideias de Brackette Williams (1991, cit. in Wade 1997) sobre como as tentativas nacionalistas no sentido de criar unidade cultural se fizeram através da assimilação de “elements of that heterogeneity through appropriations that devalue them or that deny the source of their contribution”, o que constituiria uma hegemonia transformista na qual a dominação funciona em parte através da apropriação e resignificação. É isto que permite que o ênfase na mestiçagem na nação veja o branqueamento como um mecanismo fundamental do racismo na América Latina. É possível, assim, aceitar diferentes formas de racismo, sem que estas – digo eu – tenham que ser vistas do ponto de vista da excepcionalidade qualificada (como aconteceu com o lusotropicalismo)

Finalmente, um conjunto de dimensões político-culturais da identidade são perdidas quando se centra a análise no viés politico-económico das abordagens instrumentalistas, desde os aspectos sexuais, de música, dança, ou performance. Por exemplo, a ambivalente atracção sexual de brancos por negros é um tema recorrente dos contextos coloniais (Young 1995). Não perdendo de vista processos político-económicos, a análise simbólica das representações é importante (se não nos cingirmos a ela – um dos problemas de grande parte dos estudos pós-coloniais -, mas para isso ajuda a etnografia). As duas podem juntar-se na análise de processos concretos de política da representação cultural. Precisamos ver como as essências são construidas, assim como hoje é impensável subscrever o construccionismo social sem abordarmos como as categorias naturalizadoras são elas mesmas construídas.

Bibliografia

Amado, Jorge, 1986, São Jorge dos Ilhéus. Lisboa: Europa-América

Amado, Jorge, 1998, Gabriela, Cravo e Canela. Lisboa: Europa-América

Brookshaw, David, 1983, Raça e Cor na Literatura Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto.

Corrêa, Mariza, 1996, “Sobre a Invenção da Mulata”, Cadernos Pagu, 6-7: 35-50.

Haraway, Donna, 1991, Simians, Cyborgs and Women – the Reinvention of Nature. New York: Routledge

Hollanda, Heloisa, org., Tendências e Impasses – o Feminismo como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco.

Marotti, Giorgio, 1975, Perfil Sociológico da Literatura Brasileira. Porto: Paisagem.

Stepan, Nancy, 1994, “Raça e Gênero: o Papel da Analogia na Ciência”, in Buarque de

Wade, Peter, 1997, Race and Ethnicity in Latin America. Londres: Pluto Press.

Williams, Brackette, 1991, Stains on my name, War in my veins: Guyana and the Politics of Cultural Struggle. Durham: Duke University Press.

Yanagisako, S. and C. Delaney, orgs., 1995, Naturalizing Power. Essays in Feminist Cultural Analysis. New York: Routledge.

Young, Robert, 1995, Colonial Desire: Hybridity in Theory, Culture and Race. Londres: Routledge.

Miguel Vale de Almeida
Professor Auxiliar do Deptº de Antropologia do ISCTE, em Lisboa. Nasceu em 1960. Publicou, entre outros, “Senhores de Si, Uma Interpretação Antropológica da Masculinidade” (1995, com versão inglesa “The Hegemonic Male”) e editou “Corpo Presente: Treze Reflexões Antropológicas sobre o Corpo”, 1996). Desde 1997 começou a estudar questões de “raça” e etnicidade, com trabalho de campo em Ilhéus, BA . Presentemente redige o livro sobre essa pesquisa e estreou o documentário O Espelho de África. Áreas: Portugal, Brasil, Pós-Colonial Lusófono; “Raça”, Etnicidade, Género, Sexualidade, Estudos Pós-Coloniais. É também autor de ficção, cronista da imprensa e activista político e de movimentos sociais.

Governo do Brasil cede a protestos e reabre a exploração de madeira na Amazônia

Para desânimo dos grupos ambientalistas daqui e do exterior, o governo brasileiro restaurou as licenças de exploração de madeira que foram suspensas no ano passado, como parte de um esforço para impedir o desmatamento em áreas de fronteira da Amazônia, onde a floresta está desaparecendo rapidamente.
A mudança ocorreu depois que madeireiros e seus aliados bloquearam uma importante estrada que cruza o coração da floresta e um grande afluente do Rio Amazonas, queimaram ônibus, ameaçaram poluir as águas com produtos químicos e tomaram um aeroporto.
Mas os grupos ambientalistas descreveram a mudança inesperada da política do governo como um revés aos esforços de preservação da Amazônia e disseram que ela apenas encorajará uma maior desobediência da lei em uma área já conhecida pela violência.
“Ceder a chantagem é sempre um perigoso precedente, e eu acho que este é o caso aqui”, disse Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, um importante grupo de pesquisa e advocacia. “Não vai demorar muito até outra pessoa aparecer, também querendo forçar negociações unilaterais, então é importante que o governo não enfraqueça a implementação da lei.”

Esta disputa é a mais recente de várias desde que Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores, de esquerda, assumiram o governo dois anos atrás, e nas quais se curvaram a atos organizados de desobediência civil.

Latifundiários, produtores de arroz e agricultores que bloquearam as estradas no ano passado para impedir a criação de uma reserva indígena no norte da Amazônia também conseguiram o que queriam, e os camponeses sem-terra regularmente invadem e ocupam fazendas sem que nenhuma ação legal seja movida contra eles.

Em 27 de janeiro, uma alta autoridade ambiental no Estado do Pará, no leste da Amazônia, prometeu que o governo “não cederá a chantagens”. Mas quando o líder da associação dos madeireiros foi citado como alertando que correria sangue a menos que as exigências do grupo fossem atendidas, e líderes empresariais e políticos nas cidades ao longo da bloqueada rodovia BR-163 começaram a se queixar de que seus suprimentos estavam se esgotando e o comércio normal está quase parando, as autoridades em Brasília aparentemente mudaram de idéia.

O anúncio oficial da mudança foi feito pouco antes do Carnaval, um momento em que a atenção do Brasil está concentrada nas festividades. Os porta-vozes da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, uma ex-seringueira, disseram que ela não estava disponível para entrevistas. Silva foi amiga e aliada do líder ambientalista Chico Mendes, que foi assassinado em 1988 por homens contratados por fazendeiros.

Mas em uma declaração divulgada em Brasília, o governo disse que “não cedeu a nenhuma pressão ou recuou em qualquer uma de suas decisões anteriores”. A restauração das licenças para exploração de madeira foi descrita como uma medida “temporária” que visa acabar com “o impasse enfrentado pelos setores produtivos” na Amazônia.

O que está por trás da disputa madeireira é outra questão ainda mais importante: a propriedade de terras na Amazônia. Por toda a selva, mas especialmente na área do Pará ao redor da cidade de Novo Progresso, onde os madeireiros praticaram a desobediência civil, terras de propriedade do governo federal foram ocupadas ilegalmente, subdivididas e então vendidas repetidamente sem títulos de propriedade legais, freqüentemente de um grupo madeireiro para outro.

Segundo a regulamentação anunciada no ano passado, o governo cancelou o registro de grandes propriedades na região. Os requerentes tinham até 31 de janeiro para fornecer documentação apropriada para um novo registro ou enfrentariam uma eventual expulsão das propriedades que ocupam, um prazo que o governo concordou em prorrogar no acordo que negociou com os madeireiros rebeldes.

Os madeireiros também foram acusados de empregar trabalho escravo, não pagar impostos sobre seus lucros e subornar burocratas para obtenção de licenças de exportação. “Se propriamente implementada, a regulamentação de terras poderá ser um instrumento importante no enfraquecimento de todo o sistema que predomina na região”, disse Ramos.

O governo Lula disse que pretende introduzir uma legislação neste mês que praticamente encerrará a prática de permitir que terras públicas na Amazônia sejam ocupadas por interesses privados e então vendidas. Em vez disto, as empresas e indivíduos receberiam concessões de lotes por períodos fixos, durante os quais a extração de madeira e outras atividades seriam permitidas, mas rigidamente monitoradas e controladas.

“Obviamente, não é possível colocar um policial sob cada árvore”, disse Paulo Adario, o coordenador de campanha para Amazônia do Greenpeace, em uma entrevista por telefone, em Manaus. “Mas é possível dar passos para colocar atividades que atualmente são clandestinas em um sistema regulamentado, legalizado, se for possível passar esta proposta pelo Congresso sem que seja modificada demais.”

Leis não cumpridas

Um esboço inicial da proposta do governo vazou para a imprensa brasileira no ano passado e foi retratada como uma entrega da selva para empreendimentos comerciais predatórios, a maioria estrangeiros. Grupos ambientalistas disseram que foi uma descaracterização da medida com motivação política, cujo sucesso final dependeria da capacidade e disposição do governo de manter seu cumprimento.

“A intenção é ser capaz de governar a extração de madeira, mas não está claro para mim que um sistema de concessão será capaz de fazer isto”, disse Stephan Schwartzman da Environmental Defense, que visitou a área de conflito no mês passado. “Nós sabemos, por exemplo, que as concessões de madeira na Indonésia não fizeram nada pela floresta ou pelas comunidades nativas.”

O órgão de defesa ambiental do governo sempre se queixou que a falta crônica de dinheiro e pessoal a impede de aplicar as leis que, apesar de parecerem duras no papel, são amplamente ignoradas.

“A extração de madeira começa em junho”, com a chegada da estação seca da Amazônia, disse Adario, “então teremos que esperar para ver se teremos uma extração legal neste ano”.

“Todos estão posicionando seus tanques”, disse ele. “O verdadeiro combate ocorrerá daqui para frente.”

The New York Times
LARRY ROHTER
Tradução: George El Khouri Andolfato

Fundação oferece bolsas de estudo na Espanha

São mais de 170 opções de especializações, pós-graduações e pesquisas em 14 áreas de conhecimento

A Fundação Carolina, instituição do governo espanhol, está selecionando candidatos para seu programa permanente de bolsas de estudo naquele país, destinadas a cursos de especialização, pós-graduação, pesquisa e formação de professores. Podem concorrer jovens graduados, profissionais e pesquisadores dos países que integram a comunidade ibero-americana, Brasil incluído. São bolsas para mais de 170 opções de cursos em 14 áreas de conhecimento. Para a maior parte dos cursos, as inscrições se encerram no dia 15 de março e devem ser efetuadas exclusivamente através do site www.fundacioncarolina.es – clicar no link “Becas”, escolher a área de estudos e a opção desejada; depois, clicar em “Solicitud on-line”, criar uma identificação de usuário e senha, acessar o sistema e incluir o currículo. Não há taxa de inscrição.

As áreas de conhecimento, com o respectivo número de cursos ofertados, são as seguintes: para especialização e pós-graduação – ciências exatas e experimentais, física e química (dois cursos); tecnologias da informação e das comunicações (dez); energia e abastecimento energético sustentável (dez); biotecnologia, ciências biomédicas, saúde e genética, tecnologia dos alimentos (18); infra-estruturas territoriais (quatro); meio ambiente, conservação da terra, ecologia, biodiversidade e qualidade da água (13); economia e finanças, organização e inovação empresarial, desenvolvimento econômico e integração regional, cooperação internacional (34); bem-estar social, desigualdade, inclusão social (nove); modernização jurídica e política, democracia, governabilidade, direitos humanos e relações internacionais (25); sociedade do conhecimento, educação e desenvolvimento dos recursos humanos (oito); humanidades, cultura, artes, língua e história (18); e ciências sociais e da comunicação (16).

Além dessas, há opções para doutorado e pesquisa: formação docente de doutores (dois cursos e inscrições até 15 de maio) e pesquisa e formação permanente (um curso e inscrições até 10 de setembro). A Fundação Carolina oferece várias modalidades de bolsas de estudos, com valores e coberturas diversificadas – consultar, no site, o item “Dotación Económica”, com a descrição de cada curso (dados em espanhol). Os bolsistas também podem ter acesso a créditos educativos em condições especiais, para o pagamento de taxas escolares que não são cobertas integralmente pelas bolsas. A instituição exige dos candidatos de língua portuguesa a comprovação do grau de competência e domínio do idioma espanhol, outorgado pelo Instituto Cervantes em nome do Ministério da Educação, Cultura e Esportes da Espanha, com o Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira (Dele). Informações no endereço eletrônico http://cvc.cervantes.es/aula/dele.

Toni Vasconcelos

Atualiza oferece 17 alternativas em Pós-graduação

O Centro de Estudos Atualiza está com inscrições abertas para 17 cursos de pós-graduação na área da saúde. Desses, oito são novas formações, inauguradas com o programa de especialização de 2005: enfermagem em centro cirúrgico, enfermagem em saúde pública, enfermagem em cardiologia, biologia marinha e aqüicultura, farmácia magistral, tratamento de feridas, estomias e incontinências, fisioterapia em UTI e fisioterapia oncológica.
Cada um dos cursos oferece 30 vagas e todos têm duração de um ano e meio. As aulas serão ministradas de acordo com os horários mostrados no quadro, nas amplas e bem equipadas salas do Centro de Estudos Atualiza, por onde já passaram cerca de seis mil alunos em sete anos. As inscrições podem ser feitas até o preenchimento das vagas, na sede do centro, localizada na Avenida Manoel Dias da Silva, Pituba. Outras informações através do site www.atualizacursos.com.br ou pelos telefones: 240-7171 e 248-5029.
De acordo com o presidente do Atualiza, Leonardo Gomes, o diferencial da instituição, fundada há sete anos, é estar focada na área da saúde, além de firmar parcerias com as grandes universidades do Sul e Sudeste do país, de onde traz professores convidados para ministrar os cursos. Além disso, o centro procura avançar na oferta de cursos inéditos. Entre as novas opções, por exemplo, há os cursos de biologia marinha e fisioterapia oncológica, ofertados no Nordeste pela primeira vez. “Esses novos cursos foram definidos a partir de uma pesquisa que fizemos com alunos para saber quais eram suas necessidades. Em alguns casos, o profissional tinha que sair daqui para fazer os cursos fora e hoje não mais”, comentou.

Márcia Luz

Proposta de reforma universitária opõe instituições federais e privadas

O projeto de reforma universitária proposto pelo MEC está colocando em lados bem distintos (e opostos) as universidades federais e as instituições privadas. O documento ainda está em fase de discussão e o governo estipulou um prazo até o dia 28 deste mês para recolher contribuições e críticas ao projeto.
Se o governo é acusado por alguns setores à esquerda de ser uma mera continuação do anterior na área econômica, na educação o projeto apresentado pelo MEC tenta ser coerente, ao menos no discurso, com o que o PT sempre defendeu enquanto esteve na oposição. Essa constatação, dependendo de quem a faz, ganha ares de elogio ou crítica.
É muito fácil entender por que a reforma provocou reações tão distintas no setor federal e no privado. Ao apresentar as razões da reforma, o MEC deixa claro que seu objetivo com o projeto foi “fortalecer a universidade pública” e “impedir a mercantilização do ensino superior”.

Se o projeto for aprovado no Congresso exatamente da maneira que o governo sugeriu, as universidades federais terão ampliado de 70% para 75% o gasto mínimo que o MEC terá de ter com elas em seu orçamento. Terão ainda a garantia de que não receberão menos recursos de um ano para o outro.

Ainda mais significativo do ponto de vista dos recursos será a retirada dos gastos com funcionários e professores aposentados da conta de custeio da educação.

Do lado das instituições privadas, as notícias não geraram entusiasmo -ao contrário. Pela proposta, criam-se critérios muito mais rígidos para o credenciamento de uma universidade, que terá de preencher índices de excelência em ensino e pesquisa. A não-observância desses pré-requisitos poderá levar ao descredenciamento da universidade.

Também aumentam as ingerências externas sobre as privadas. Será obrigatória a criação de um conselho comunitário social, onde sindicatos, associações de classe e entidades corporativas terão assento garantido. Esses conselhos poderão opinar e fazer relatórios sobre o desempenho da instituição que terão, pela lei, de ser levados em conta no processo de avaliação daquela entidade.

O projeto fala ainda de um conselho superior com “representação de docentes, discentes, funcionários e da comunidade responsável pela elaboração das normas e diretrizes acadêmico-administrativas”. Nesse conselho, os administradores da instituição e integrantes da entidade mantenedora terão direito a ocupar, no máximo, 20% das vagas.

Outro artigo determina que pelo menos um dos pró-reitores da instituição seja escolhido por eleição direta “pela comunidade”.
Como o projeto não entra em mais detalhes sobre o grau de interferência desses conselhos na administração direta da instituição, eles poderão ter caráter quase que meramente figurativo ou representar uma instância de interferência direta nas decisões dos administradores.

Em documento entregue ao ministro Tarso Genro (Educação), o Fórum Nacional da Livre Iniciativa na Educação (entidade que reúne 24 associações que representam instituições privadas) não poupa críticas ao projeto.

“No que concerne ao sistema privado, o anteprojeto se mostra intervencionista, inconstitucional e nocivo ao esforço da livre iniciativa em aprimorar os seus projetos e programas educacionais. (…) O MEC procura estender às instituições privadas sua postura de mantenedor, impondo regras e procedimentos para os quais não possui prerrogativas constitucionais ou legais”, diz o documento.

As entidades reclamam ainda que o PT, ao propor a reforma, está fazendo da educação “um projeto de governo, e não uma política de Estado”.
Para o cientista político Edson Nunes, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, o projeto apresentado pelo MEC tem realmente a cara do PT, mas ele dificilmente ficará com a mesma cara quando for discutido na Casa Civil e no Congresso.

“A reforma começou com a discussão de um projeto doutrinário, onde estão claras as preferências do partido eleito e das forças associadas a ele. Mas, passada essa fase, virá a da realpolitik, onde as políticas doutrinárias serão substituídas pelas pragmáticas. A área econômica, por exemplo, ainda não foi consultada”, afirma.
Para ele, o projeto tem a cara do PT também nos artigos que falam da participação da comunidade.

O ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, que ocupou o cargo durante os dois mandatos de FHC, viu no projeto a influência de sindicatos e das universidades federais: “O projeto foi escrito pelos sindicatos, pela UNE e pelas entidades corporativistas das federais para aumentar seus recursos sem serem cobrados”.

Para o senador Cristovam Buarque (PT-DF), também ex-ministro da Educação, o principal defeito do projeto está justamente nos pontos em que ele não toca. “O projeto não toca na estrutura da universidade. Ela não pode mais ser uma mera soma de departamentos. É preciso criar centros permanentes de formação para que o formado volte regularmente para se atualizar. Essa proposta não leva em conta que, hoje em dia, os diplomas ficam obsoletos muito depressa”, diz Cristovam, que afirma que apresentará uma outra proposta de reforma no Senado.

Expansão
Nos últimos dez anos, o setor privado cresceu num ritmo muito maior do que o público. De 1994 a 2003, o número de matrículas no setor particular aumentou 183%, enquanto essa porcentagem foi de 65% no setor público.

Esse crescimento do setor privado foi reflexo da política do governo anterior, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que estabeleceu novas regras para a abertura de cursos e instituições de ensino superior.
Com a expansão maior do setor privado, a proporção de alunos matriculados nessas instituições, que já era grande em 1994 (58% do total), chegou a 71% em 2003.

Comparação feita pelos pesquisadores Edson Nunes, Enrico Martignoni e Leandro Ribeiro, do Observatório Universitário da Universidade Candido Mendes, mostra que esse padrão de “privatização” do setor foge à média verificada em 14 países desenvolvidos da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nesses países, pouco mais de um terço (36%) dos estudantes está na rede privada.

Apesar de o Brasil destoar dessa média, a comparação internacional mostra também que não é o grau de “privatização” que determina, necessariamente, o sucesso ou fracasso. Japão, Coréia do Sul e Israel têm percentuais de alunos na rede particular ainda maiores do que o Brasil. Essas proporções são de, respectivamente, 73%, 77% e 88%. Esses países, com freqüência, são apontados como modelos de nações que investiram na qualidade da educação.

ANTÔNIO GOIS
Folha de S.Paulo

Caso de HIV resistente a drogas alarma médicos

Para especialista em pesquisa sobre Aids, o fenômeno é assustador

Uma rara variante do HIV, altamente resistente a quase todas as drogas anti-retrovirais e que provoca o rápido aparecimento da Aids, foi detectada em um nova-iorquino na semana passada, anunciaram autoridades da saúde, nesta sexta-feira (11/02).
Foi a primeira vez que se encontrou uma variante do HIV com alta resistência a múltiplas drogas e que leva ao início da síndrome da Aids tão rapidamente, disseram as autoridades. Apesar da extensão da disseminação da doença ser desconhecida, as autoridades reuniram a imprensa para dizer que a situação era alarmante.

“Consideramos este um problema potencial importante”, disse Thomas R. Frieden, comissário do Departamento de Saúde e Higiene Mental da Cidade de Nova York. O departamento emitiu um alerta a todos os hospitais e médicos na cidade, para que examinassem os casos recém-detectados de HIV em busca de sinais da rara variante.

O vírus foi encontrado em um homem nova-iorquino de 40 e poucos anos, que fez sexo anal sem proteção com outros homens em várias ocasiões, sob o efeito da metanfetamina cristal. Por evitar inibições e ter efeito estimulante, há muito a droga é responsabilizada pelas autoridades por maratonas de sexo que aumentaram a disseminação do HIV.

Acredita-se que o paciente, que não foi identificado pelas autoridades para proteger sua privacidade, praticou sexo desprotegido com centenas de parceiros, de acordo com uma pessoa que conhece o caso e insistiu no anonimato para preservar as investigações.

“Esse caso serve de alerta”, disse Frieden. “Primeiro, é uma advertência para os homens que fazem sexo com homens, particularmente os que usam a metanfetamina cristal.”

A variante viral apresentou resistência a três de quatro classes de drogas usadas para tratar as pessoas a partir de sua infecção pelo HIV. A resistência à droga é associada ao rápido desenvolvimento da Aids. Esses dois aspectos já foram observados antes, mas não juntos.

David Ho, diretor do Centro de Pesquisa de Aids Aaron Diamond, responsável pelos testes que identificaram a rara variante, descreveu a convergência dos dois problemas como um “fenômeno assustador”.

Mas nem todos concordam. Robert C. Gallo, co-descobridor do vírus do HIV e diretor do Instituto de Virologia Humana da Universidade de Maryland, foi céptico em relação ao anúncio de sexta-feira.

“Tenho a impressão de que é muita tempestade em um copo de água”, disse.

Marc Santora e
Lawrence K. Altman
Em Nova York
Tradução: Deborah Weinberg

BATACLAN PROMOVE VERNISSAGE DE 14 A 27 DE FEVEREIRO

A artista plástica, Nair Rodrigues de Andrade, expõe no Centro Cultural Bataclan de 14 a 27 de fevereiro “Os Corais do Sul Baiano”.
A arte é um dom da vida e pode ser descoberto a qualquer momento em uma pessoa. Foi assim que iniciei a minha história. Nair Rodrigues de Andrade, piauiense, redicada em Brasília deste 1961. Formada em Artes Plásticas pela Faculdade Brasileira de Teatro – Brasília
Fui professora na Rede Oficial do DF por 27 anos. Grande parte desse período exerci como professora e coordenadora no setor de Artes Plásticas, atendendo aos interesses das crianças, adolescentes e clubes de mães.
O Litoral Sul da Bahia
No Litoral sul do Estado da Bahia estão localizados os maiores e mais ricos recifes de coral de todo o Atlântico Sul, favorecidos pelas ótimas condições de temparatura, salinidade e profundidade de suas águas.

GOVERNO FEDERAL DÁ SEIS MESES PARA CACAUICUTORES QUITAREM DIVIDAS

Referentes a todo e qualquer financiamento feito pelos cacauicultores, incluindo as etapas 1, 2, 3 e 4 do Programa de Recuperação da Lavoura Cacueira e o Pesa.
O Coordenador do Grupo Temático 2, Joaquim Cardoso, recebeu telefonema de Brasília na tarde de sexta-feira, de Geraldo Fontelles, avisando que o Banco Central tinha recebido instruções do Ministro Antonio Palocci para encaminhar o pedido da cacauicultura.
Dentro deste período de 180 dias, o governo federal vai analisar o pedido feito pelo GT2, de que as dívidas sejam adiadas por quatro anos, e que o financiamento das etapas 1 e 2 do Plano de Recuperação seja anistiado, já que laudos técnicos provam sua ineficiência.
Com a decisão do ministro, fica anulada a correspondência enviada aos produtores rurais da região pelo Banco do Brasil, onde dava 15 dias, contados a partir da data da emissão da carta, para o pagamento da dívida, sob pena de enviar os processos para a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e colocar os cacauicultores na Dívida Ativa da União.

Sem débitos
O cacauicultores buscam provar a inexistência desse débito, já que as etapas um e dois do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira não funcionaram de fato e os investimentos não resolveram o problema da vassoura-de-bruxa.
Além de toda a documentação que comprova os prejuízos e a ineficiência das etapas, os cacaicultores possuem um laudo técnico da Ceplac que comprova a ausência dos efeitos previstos no plano.
Para o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus, Izidoro Gesteira, essas dívidas não existem e os produtores estão enviando cartas ao Banco do Brasil para comprovar isso. Além disso, eles buscam uma solução política para o problema.
Gesteira destaca que os cacauicultores não são maus pagadores nem se recusam a pagar suas dívidas. No entanto, não podem arcar com um financiamento no qual foram induzidos a adotar medidas que não combateram a vassoura-de-bruxa como prometido.
“A própria Ceplac, em seu laudo técnico, confirma que houve erros na primeira e segunda etapas do programa”, afirma.
Com relação à 3ª e 4ª etapas do Plano de Recuperação da Lavoura Cacaueira, o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus reconhece que eles são legítimos e os produtores vão arcar com suas responsabilidades. Porém estas etapas, que venceriam em março, foram incluídas na decisão de Palocci.
Segundo ele, os cacaucicultores, que tanto contribuíram com o desenvolvimento regional, não podem ser colocados na lista dos maus pagadores, perder vantagens e até as prerrogativas de ser considerados produtores rurais. “Seria uma grande injustiça”.

Pânico
As cartas ameaçadoras enviadas pelo BB acabaram causando pânico na região. Izidoro Gesteira citou casos como o de um antigo cacauicultor, que chegou ao Sindicato Rural de Ilhéus “tremendo por receber a correspondência”.
Outro caso foi o do representante de uma antiga propriedade rural, onde está sendo desenvolvido um arrojado projeto de turismo ecológico.
A propriedade já foi apontada como referência nacional mas, se os donos forem incluídos na dívida ativa, o projeto será extinto.
O produtor Renato Cunha comemorou a decisão de Brasília e considera que foi uma grande vitória para o Grupo Temático 2, que ganhou prazo suficiente para convencer o governo federal da necessidade de tratar o cacau de forma diferenciada.
“Vamos mostrar o governo que até sua entidade técnica, a Ceplac, concorda que as primeiras etapas do Plano de Recuperação foram inúteis. Estou confiante”.

A REGIÃO

Adão Negro dia 17 no TMI

A banda de reggae Baiana, Adão Negro, se apresenta no Teatro Municipal, dia 18, às 21 horas, no Projeto MPB Petrobrás, o maior projeto musical do país, com sucesso de público em todas as apresentações realizadas até hoje. No ano passado, grandes estrelas do cenário musical brasileiro passaram pela região através deste projeto, a exemplo de Belchior, Chico César e Geraldo Azevedo.

Governo destina R$204 milhões este ano para telecentros

Uma das principais metas para 2005 do governo é a inclusão digital – no Orçamento Geral da União para este ano, 204 milhões de reais estão destinados apenas à criação de mil Casas Brasil, telecentros com acesso à web, pontos de cultura e rádios comunitárias para a população das classes D e E.
O governo também promete tirar do papel este ano o programa PC Conectado, que vai permitir a aquisição de computadores por cerca de 24 parcelas mensais de 50 reais (um total de 1,2 mil reais). Outras três medidas estão previstas para o que o governo federal chama de Plano Brasileiro da Inclusão Digital. Duas delas têm a ver com a internet: uma para aumentar o número de escolas públicas conectadas (hoje, das 173 mil escolas do ensino fundamental, só 20 mil possuem PCs); a outra inclui ações para a melhoria da infra-estrutura de telecomunicações para massificar o acesso à web em todo o país.
Em entrevista à Agência Brasil, o secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Rogério Santanna, disse que a exclusão digital é a filha mais nova da exclusão social. “Para a classe C particularmente, a barreira de entrada à internet está no acesso ao computador. Nós vimos que a presença de computadores nos lares da classe C está muito aquém da classe B ou A. Por isso, o governo está trabalhando no programa PC Conectado, que visa levar a essa classe o acesso ao computador com juros mais baixos e com subsídio governamental no montante dos impostos envolvidos na compra de PCs”, explicou à Agência, acrescentando que o Ministério da Fazenda ainda avalia qual seria o melhor mecanismo para este tipo de promoção.

Santanna deixou claro que as máquinas não serão adquiridas pelo governo antes de serem oferecidas à população. “O governo vai isentar de impostos e oferecer uma linha de crédito a juros baratos. Diversos consórcios organizar-se e apresentar projetos a esse programa. A exigência é que haja o processo básico de fabricação do computador (PTB – Processo Produtivo Básico), o que significa que a empresa para candidatar-se vai ter que ter a fabricação no país auditada. Visa também fazer com que os PCs fornecidos nesse programa não provenham do mercado cinza, sejam legais, recolham os impostos, tenham o seu processo produtivo aprovado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Há mais de 66 empresas habilitadas hoje no Brasil para a produção de PCs”, informou o secretário.

Brasil Open: quatro brasileiros entram na chave principal

A organização do Brasil Open divulgou, nesta sexta-feira, os nomes dos quatro brasileiros confirmados na chave principal da competição, que começa na próxima segunda-feira, na Bahia. Além de Ricardo Mello, que já estava garantido por ranking (56º em entradas), participarão os paulistas Flávio Saretta e Júlio Silva e o mineiro André Sá.
A lista de brasileiros no torneio disputado em piso de saibro ainda pode crescer: o qualifying começa neste sábado e dá direito a mais quatro vagas na chave principal.
Saretta conseguiu a vaga através da falta de um special exempt (regra que dá o direito ao jogador a disputar o torneio sem passar pelo qualifying por competir em outro evento na semana anterior). André Sá e Júlio Silva entraram na chave principal como convidados da organização (Wild Cards).

Saretta, 114° do mundo, e Ricardo Mello tornam-se os únicos brasileiros a disputar todas as cinco edições do Brasil Open. Saretta tem como melhor resultado a chegada às quartas-de-final em 2001, ano em que eliminou Gustavo Kuerten na estréia, e Mello ficou no máximo entre os oito melhores da competição em 2001 e 2003.

Para André Sá, será a oportunidade de voltar a jogar o mais importante torneio no país. Atual 179 do ranking, ele ficou fora da competição no ano passado e nas três primeiras participações teve como principais campanhas as quartas-de-final em simples e o vice de duplas, com Gustavo Kuerten, ambas em 2002.

Júlio Silva, 186 do mundo, comemorou a oportunidade:

– A ansiedade era grande e estou dando pulos de felicidade. Fico muito contente por jogar a chave principal de um grande torneio em meu país – disse ele, que disputa o torneio pela segunda vez.

Em 2002, Júlio Silva perdeu logo na estréia depois de passar pelo qualifying. O Brasil open será o terceiro ATP disputado pelo tenista: ele também competiu em Viña del Mar, no Chile, em 2002, quando foi derrotado na 2ª rodada.

O Brasil Open dá ao vencedor US$ 52 mil em prêmios, além de 35 pontos na Corrida dos Campeões e outros 175 no ranking de entradas. Em 2004, Guga venceu o argentino Agustin Calleri (3/6, 6/2 e 6/3) na final e ficou com o título.

Fernando de Noronha mostrará novidades do WQS

Já tradicional, o Hang Loose Pro Contest, segunda etapa do World Qualifying Series (WQS), Segunda Divisão do surfe mundial, vai mostrar as novidades do circuito para 2005. O início da competição será no dia 14, em Fernando de Noronha (PE).
Os eventos com status cinco e seis estrelas (no caso de Noronha, cinco) terá número de competidores limitados a 192. Além disso, o formato da competição será diferente. Antes, as baterias eram do início ao fim compostas de quatro competidores, com os principais cabeças-de-chave entrando somente entre os 64 melhores, precisando disputar apenas cinco fases até a decisão, enquanto alguns surfistas disputavam nove e até dez fases.
A partir de 2005, as três primeiras fases terão 24 baterias com quatro surfistas em cada. Os 48 cabeças-de-chave entrarão na terceira, com outros 48 pré-selecionados para a segunda fase e os 96 restantes na primeira. Em cada uma delas, os dois melhores se classificam.

Na quarta fase, restarão 48 e eles também serão divididos em baterias de quatro surfistas, com os dois melhores avançando. Na quinta, os 24 disputarão seis baterias de quatro, também com os dois melhores garantindo vaga na sexta fase. Nesta, serão quatro baterias com três surfistas cada, com os dois melhores seguindo em frente para as quartas-de-final. A partir daí, a disputa será homem-a-homem, até a decisão.

Como alguns dos principais surfistas do World Championship Tour (WCT), Primeira Divisão do Circuito Mundial, não participarão, metade dos 48 cabeças-de-chave são brasileiros. Entre eles, estão seis dos sete brasileiros que fazem parte da elite do surfe: o pernambucano Paulo Moura, o carioca Raoni Monteiro, o catarinense Neco Padaratz, o potiguar Marcelo Nunes, o paulista Renan Rocha e o cabo-friense Victor Ribas.

A grande ausência entre os brasileiros é o paranaense Peterson Rosa, que, a exemplo do ano passado, preferiu ir para a Austrália, para iniciar a preparação para o WCT, que começará dia 1º de março, na praia de Gold Coast, em Queensland.

Playboy elege Paris Hilton a personalidade mais sexy do ano

Paris Hilton, estrela da televisão e conhecida pelas noitadas que promove, é a personalidade mais sexy do ano segundo a revista mensal Playboy, que nesta sexta-feira exibe sua foto no pôster da edição de março.



Modelo preferida da marca de moda casual Guess e animadora de “reality-shows” televisivos, “Paris exerce o tipo de atração à qual nossos leitores não conseguem resistir. Eles apreciam sua capacidade de usar a sexualidade para se sobrepor a qualquer polêmica e usá-la a seu favor”, disse Hugh Hefner, dono da Playboy.

A escolha das 25 personalidades mais sexies começou com uma pesquisa no site da revista. Os resultados foram posteriormente discutidos pelos encarregados da publicação, que elegeram a vencedora.

Entre as outras personalidades selecionadas estão as atrizes Halle Berry, Cameron Diaz e Charlize Theron, a modelo Pamela Anderson, a estrela pornô Jenna Hameson, além das cantoras Jessica Simpson, Beyoncé e Britney Spears.

Paris aparece no poster da revista equilibrando-se numa cadeira de bar, com uma chamativa peruca vermelha, meias bordadas, de salto alto e corpete vermelho, em uma pose sensual.

Faculdades Jorge Amado inscreve para pós em Produção Cultural e Mídia

As Faculdades Jorge Amado têm inscrições abertas para a pós-graduação em Produção Cultural e Mídia. A proposta é estimular a percepção do produtor cultural para a dinâmica da informação, o funcionamento do sistema cultural e sua relação com a Mídia. A inscrição custa R$ 50,00 e a mensalidade R$ 480,00, com desconto de 10% para pagamento à vista. O curso abrange as criações ou iniciativas culturais e artísticas que venham a se transformar em projetos culturais e produtos diversos, nas áreas de música, teatro, dança, cinema, audiovisual, artes plásticas, performances, instalações, entre outras.
Os especialistas formados podem atuar na produção cultural e da mídia, exercendo o trabalho executivo de direção de produção, criação, organização, realização e comunicação de produtos culturais, artísticos e midiáticos, lidando com todas as etapas implicadas no processo de produção cultural e no relacionamento com a Mídia. Na área de planejamento, o produtor cultural pode ainda estabelecer metas e estratégias para o fomento e a promoção de políticas culturais, tanto em instituições públicas federais, estaduais e municipais, como na iniciativa privada, ou nas instituições do Terceiros Setor. O público alvo do curso de Produção Cultural e Mídia são artistas em geral, artistas multimídia, produtores, promotores de eventos, diretores, curadores, comunicadores, jornalistas, escritores, publicitários e formadores de opinião.
www.fja.edu.br

INFORMES – ASCOM – PREFEITURA MUNICIPAL DE ILHÉUS

Prefeitura de Ilhéus garante a reabertura da UTI do São José;

Governo e sociedade definem política habitacional de Ilhéus;

Casa dos Artistas de Ilhéus tem programação no fim de semana;

27 mil alunos voltam às aulas na rede municipal em Ilhéus.

Prefeitura de Ilhéus garante a reabertura da UTI do São José

A Prefeitura de Ilhéus efetuou nesta sexta-feira (11) o pagamento da diferença que vinha sendo cobrada pelo Hospital São José, referente à fatura do mês de dezembro. Mesmo com as contas da instituição ainda em processo de auditoria pela Secretaria de Saúde, o governo municipal decidiu antecipar o depósito de R$ 73.521,06 e pôr fim à polêmica em torno do fechamento da UTI do hospital.

O prefeito Valderico Reis garantiu que “desde o início o governo buscou de todas as formas resolver o problema” e chegou a antecipar ao hospital R$ 361.961,36 no dia 24 de janeiro. De acordo com a secretária de Saúde, Vera Jasmineiro, “com a medida tomada hoje não há mais justificativa para que o hospital interrompa o funcionamento da UTI”. Ela esclarece que a diferença da fatura ficou retida em função de uma elevação nas contas do hospital no segundo semestre de 2004, principalmente entre setembro e dezembro. “A iniciativa do prefeito demonstra a sua preocupação com a crise que o São José já enfrenta há muitos anos”, considera a secretária.

O prefeito teria reunião para discutir a questão do hospital, nesta sexta-feira, mas foi impossibilitado devido a problemas de saúde. Valderico Reis sofreu uma indisposição na noite de ontem e foi aconselhado pelo seu médico particular a se submeter a exames clínicos. Ele foi atendido na manhã de hoje pela médica Maria Helena Andrade e só obteve alta durante a tarde, com recomendação de repouso. “Infelizmente, o prefeito não pôde comparecer à reunião, mas já havia determinado previamente as medidas para solucionar a crise”, afirma Vera Jasmineiro.

Governo e sociedade definem política habitacional de Ilhéus

A adequação do Plano Diretor Urbano (PDU) ao Estatuto das Cidades e uma nova política habitacional para o município de Ilhéus serão discutidos, conjuntamente, entre governo e sociedade, a partir deste sábado (12). O seminário organizado pela Prefeitura, através da Secretaria de Planejamento, começará às 8 horas, no Teatro Municipal, com a presença do prefeito Valderico Reis e secretários municipais. O Plano Diretor Urbano de Ilhéus foi formulado em 2001 e, cumprindo uma exigência federal, deve se adequar ao Estatuto das Cidades até 2006.

De acordo com o secretário de Planejamento e Controle Orçamentário, Selem Rachid Asmar, as discussões serão importantes também para se decidir qual a melhor política habitacional para o município. “Essa política será definida com ampla participação popular, mobilizando governo, Câmara de Vereadores, entidades e comunidade em geral”, diz. A diretora de Planejamento Urbano, Solange Valladão, afirma que uma das exigências para adequar o Plano ao Estatuto das Cidades é a “participação da comunidade”.

Ela afirma que essa definição da política de moradia ocorrerá em dois momentos. No primeiro, a comunidade vai apontar quais os problemas que impedem que Ilhéus tenha uma política habitacional de qualidade. Logo após, sociedade e governo “traçam as estratégias para sanar déficit habitacional”. A previsão do secretário de Planejamento é de que essas adequações sejam feitas até agosto deste ano.

Com a série de discussões com a comunidade, os governos municipal e federal buscam combater a especulação imobiliária e democratizar o acesso à habitação de qualidade. Dados da Secretaria Municipal de Planejamento mostram que Ilhéus apresenta um déficit de 14.082 habitações, 9.898 na zona urbana e 4.184, na área rural. “Nesse debate com a sociedade, vamos discutir todos os aspectos que envolvem habitação e qualidade de vida, como infra-estrutura, água e acesso aos serviços públicos”.

Casa dos Artistas de Ilhéus tem programação no fim de semana

A comédia “Miloca não quer dar” continua em cartaz este mês no Teatro Pedro Mattos, da Casa dos Artistas, espaço localizado na rua Jorge Amado, centro histórico de Ilhéus. Dirigido por Franklin Costa, o espetáculo que tem o humor como principal característica, será reapresentado às 20h30min de hoje (11) e amanhã (12), pelo grupo do Teatro Popular de llhéus. Dentro da programação de verão da Casa dos Artistas constam ainda os espetáculos “Pega pra Capá” e “O contador de histórias”.

De quinta a sábado das últimas semanas de fevereiro (de 17 a 19 e de 24 a 26), o espetáculo “Pega pa Capá” voltará ao palco do Teatro Pedro Mattos. A abertura é feita pelo personagem “Toinho”, retirado das crônicas do diretor Romualdo Lisboa. “Um pega pra capar dos bons, daqueles de voar tampa de panela, não acontece sem uma boa quantidade de sopapos, xingamentos e a língua de bisbilhoteiros. Juntando a isso uma boa cachaça, um forrozinho pé-de-serra e o Teatro Popular de Ilhéus, a mistura resulta na essência dessa peça”, explicou Romualdo.

Interpretado pelo ator José Delmo, “O contador de histórias grapiúnas” traz crônicas e poesias dos mais expressivos escritores regionais, como Adonias Filho, Jorge Amado, Hélio Pólvora, Valdelice Pinheiro e Sosígenes Costa. O monólogo tem músicas de José Antônio e a organização de texto leva a assinatura do próprio José Delmo e de Romualdo Lisboa. Fica em cartaz de segunda a quarta-feira da próxima semana (14 e 16), igualmente a partir das 20h30min. Todos os espetáculos são encenados pelo grupo do Teatro Popular de Ilhéus.

27 mil alunos voltam às aulas na rede municipal em Ilhéus

As aulas na rede municipal em Ilhéus começam na próxima segunda-feira (14) mobilizando mais de 30 mil alunos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Para recebê-los, a Prefeitura está concluindo os reparos feitos em todas as unidades escolares. A secretária de Educação, Maria Carolina Brito Cunha, disse que “tudo está sendo feito para garantir conforto aos alunos e ensino de qualidade”. Antes de ir para sala de aula, os educadores municipais participaram de uma jornada pedagógica.

A jornada foi aberta ontem (10) e se encerrou nesta sexta com as atividades de planejamento pedagógico nas escolas. Maria Carolina explicou que a quinta-feira foi dedicada à apresentação da nova política no setor e dos novos dirigentes educacionais do município. Já o período da tarde e a sexta-feira foram reservados para que professores e coordenadores definissem o planejamento pedagógico adequado à realidade da unidade escolar a que estão vinculados.

A secretária de Educação enfatizou a necessidade de se desenvolver ações mais flexíveis com o alunado, como forma de alcançar melhores resultados na aprendizagem. Maria Carolina Brito ressaltou que a educação está entre as maiores prioridades da administração do prefeito Valderico Reis. “Nós vamos desenvolver um grande esforço para que juntos, administração, educadores e comunidade escolar, possamos mudar para melhor a qualidade do ensino em Ilhéus”.

Maria Carolina disse que em pouco tempo foi possível resolver problemas de estrutura em várias unidades escolares e também garantiu novo espaço para as aulas da rede municipal no Salobrinho. Com o encerramento do contrato entre a Secretaria e a Uesc, no final do ano passado, mais de 500 alunos corriam o risco de ficar sem estudar. “A avaliação que podemos fazer de todo o trabalho é positiva e isso nos dá confiança para promover as melhorias de que a educação do município tanto precisa”, afirma.

Câmara de Ilhéus condena atitude de Valderico Reis

A crise entre os Poderes Executivo e Legislativo ganhou mais um episódio ontem pela manhã, em Ilhéus. O prefeito Valderico Reis (PMDB) não recebeu em audiência, pela segunda vez em menos de uma semana, o presidente da Câmara, Raimundo Veloso (PDT), que desta vez foi ao Palácio Paranaguá acompanhado de mais oito vereadores e dos diretores da Santa Casa de Misericórdia, para buscar uma solução para a crise que toma conta do Hospital São José e que resultou no fechamento da única Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do município. A primeira audiência – programada para antes do carnaval – não havia acontecido e o presidente, naquela oportunidade, se irritou com o que considerou “falta de respeito com o Legislativo”, por não ter sido avisado previamente do cancelamento. “Fiquei sabendo porque a minha secretária ligou e foi informada da mudança de data”. O encontro voltou a ser remarcado para ontem e, mais uma vez, Veloso foi comunicado do cancelamento, quando já se encontrava no Palácio Paranaguá, ao lado de toda a comitiva.
Segundo assessores do prefeito, o novo cancelamento deveu-se ao fato de Valderico Reis já ter, anteriormente, agendado exames médicos de rotina em Itabuna. A notícia provocou uma reação de revolta entre os vereadores e serviu para alimentar a primeira grande crise política em Ilhéus, desde o início do atual mandato. “Se o prefeito não tem competência pra governar, que renuncie”, declarou o presidente Raimundo Veloso. Para o vereador Joabs Ribeiro (PP), a postura do prefeito representa um total desrespeito com o Poder Legislativo e com parte importante da sociedade civil organizada. “Uma vergonha”, na avaliação dele. “A partir de hoje estaremos viabilizando um movimento suprapartidário, no sentido de permitir a reabertura da UTI, que é um patrimônio de Ilhéus e da região sul da Bahia”, avalia a vereadora Carmelita Ângela (PT). “A solução tem que ser urgente. Este problema não pode ser encarado como uma questão política”, completa Alcides Kurschewsky (PMN). Já o vereador Marcus Paiva (PSDB) e Reinaldo Oliveira (PPS) condenaram a atitude do prefeito e disseram que o assunto tem que ser logo resolvido, diante da gravidade do fechamento da UTI. Ainda formavam a comitiva do Legislativo, os vereadores Egídio Alves (PRP), Maria de Lourdes (PL) e Antônio Edson (PPS).
O presidente da Câmara, Raimundo Veloso, disse, em seu gabinete, que já está tentando viabilizar uma audiência em Salvador, com o governador Paulo Souto e com o secretário estadual de Saúde, José Antônio Rodrigues Alves. “Não podemos permitir que uma cidade com 250 mil habitantes fique sem a sua UTI. Seria uma irresponsabilidade da nossa parte, como representantes legítimos desta população, permitir este fechamento”, afirma. A Câmara de Ilhéus vai promover ainda este mês, uma Sessão Especial para debater a crise na saúde pública de Ilhéus. Um requerimento nesse sentido será assinado por todos os 13 vereadores que compõem o atual legislativo

Orçamento 2005 prevê R$ 82 milhões para reformas no Congresso

Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado terão, neste ano, R$ 82 milhões para tocar um pacote de reformas no Congresso Nacional e nos apartamentos funcionais ocupados pelos congressistas. A verba está garantida no Orçamento da União de 2005.
A obra mais cara será a construção do quinto prédio anexo ao edifício central da Câmara. Com desenho assinado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a construção terá 21 mil metros quadrados e custará aos cofres do governo neste ano R$ 15,3 milhões, valor suficiente para a construção de três hospitais de alta complexidade para o tratamento do câncer. O prédio terá quatro andares subterrâneos, que servirão de garagem para os carros de deputados e funcionários e comportará a biblioteca da Câmara e o espaço cultural da Casa.
Os senadores também ganharão um novo prédio para se somar aos outros três edifícios do Senado. O anexo 3 terá 42.500 metros quadrados e custará R$ 9,306 milhões, com direito a um túnel subterrâneo de 144 metros quadrados ao custo de R$ 250 mil. A obra resolverá alguns problemas enfrentados na Casa. Os funcionários contratados pelo Senado para fazer a tradução de textos, por exemplo, não têm espaço para trabalhar. O espaço reservado para a TV Senado também é considerado inadequado pelo departamento que cuida das obras no Senado.

Outro problema é o espaço destinado às obras de arte do Congresso. Parte delas está guardada na sala de patrimônio, longe do museu do Senado, que não tem mais espaço. O orçamento reserva, para resolver esse problema, R$ 1,9 milhão, dinheiro para arcar com a construção de mais um prédio de 1.550 metros quadrados.

Outras cinco obras de construção, reforma ou ampliação estão previstas dentro do valor total. Mas o que vai gerar maior polêmica entre os deputados são as obras de reforma e conservação dos apartamentos funcionais. Em 2003, os deputados discutiram uma forma de obrigar os deputados a ocuparem os imóveis funcionais, mas diante da polêmica da suspensão do auxílio-moradia –de R$ 3 mil a cada um dos 513 deputados –, a discussão foi suspensa.

Os deputados argumentavam que os apartamentos eram grandes demais –225 metros quadrados. A metragem servia aos parlamentares que vinham a Brasília, trazendo a família inteira. Atualmente, os deputados dividem o tempo na ponte aérea. Por isso, o orçamento reserva agora R$ 23,9 milhões para dividir 144 apartamentos em unidades menores, de 62 metros quadrados.

Se as obras forem tocadas, a despeito da polêmica entre os deputados, o valor do auxílio-moradia pode diminuir ou mesmo ser suspenso. Essa, ao menos, era a idéia do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP). Quem assumir na segunda-feira a cadeira da presidência terá de resolver essa polêmica.

FELIPE RECONDO
Folha Online