Na praia, Brasil forma primeiros heróis dos Jogos Olímpicos

A conquista brota de um paradoxo. Uma modalidade recente, que só estreou nos Jogos cem anos após a primeira edição, deu ao Brasil os primeiros competidores que o Comitê Olímpico Internacional classifica como “heróis”.
A entidade elegeu nesta semana três atletas vôlei de praia – Adriana Behar, Shelda e Ricardo- para integrarem um grupo que hoje abriga 318 nomes. Tratam-se dos representantes da nata esportiva entre as Olimpíadas de Atenas-1896 e Atenas-2004.
A lista contempla desde campeões consagrados, como Mark Spitz, nadador que obteve sete medalhas de ouro em Munique-1972, até competidores retardatários, como Gabriele Andersen-Scheiss, que quase desmaiou na pista antes de ficar em último na maratona de Los Angeles-1984.
Concebida na década de 70 e atualizada desde então, a compilação pode ser visualizada no site da entidade (www.olympic.org).
As brasileiras escolhidas para integrá-la nunca subiram ao topo do pódio olímpico, mas guardam em seu currículo medalhas de todos os eventos que disputaram.

Adriana Behar e Shelda, juntas há dez anos, são as maiores vencedoras do Circuito Mundial (seis títulos) e foram as primeiras a obter medalha em duas edições consecutivas dos Jogos -prata em Sydney-2000 e Atenas-2004. O vôlei de praia só passou a integrar o programa olímpico em 1996.

“Tem gente que acha que somos uma pessoa só”, brinca Behar. “Todos só pensam em medalhas. Acho que o legal é que passamos uma imagem de união, amizade.”

Para legitimar a inclusão dos atletas, o COI apresenta uma pequena biografia de cada um. Ao descrever a parceria, destaca a superação de Shelda. Além de ser uma das mais baixas –1,65 m–, ela sofreu um acidente de carro em 1991, machucou a mão direita e ouviu dos médicos que não poderia jogar. A atleta não deu ouvidos, aprendeu a ser canhota e, em 1997, levou seu primeiro Mundial.

Já Ricardo não traçou sua história só com uma “cara metade”. Conhecido como “The Block Machine” (a máquina de bloquear), ganhou a primeira medalha olímpica em 2000 (prata) ao lado de Zé Marco, seu parceiro também na conquista do Circuito Mundial.

Mas foi com Emanuel que obteve seus maiores feitos: o bi mundial (2003 e 2004) e o ouro em Atenas. Juntos, só não penduraram no pescoço o ouro do Circuito Brasileiro do ano passado.

GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
Folha de S.Paulo

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