Essas paisagens, formadas por personagens e cenários do cotidiano de Salvador, encantam, distraem e fazem lembrar outro canto de Zélia. O canto da cidade desta vez é o número 33 da Rua Alagoinhas, no Rio Vermelho. Esse não é apenas mais um logradouro, é o endereço dos melhores momentos da vida dela e de Jorge Amado. “Essa é a casa da minha felicidade, do meu amor”, disse, mostrando que esse não é um canto qualquer, “esse é o lugar mais importante de minha vida, lá vivi dias alegres e tristes, como é a vida, mas sempre os melhores”. E não poderia ser por menos, essa casa foi o palco de amor e companheirismo do casal Amado por quatro décadas.
Se essa casa guarda tantas lembranças boas para a escritora, por que mudar de endereço? A resposta é simples, mais uma vez Zélia mostra seus encantos e “abre mão” de desfrutar dos cantos de Jorge Amado, para transformar seu “palácio” em um memorial do escritor. Agora a casa não erá a residência apenas do casal Amado, e sim, um espaço aberto ao público, onde outros fãs também poderão conhecer e desfrutar lugar da casa, mas, por enquanto, o museu ainda não estar funcionando, pois está em reforma.
Quando a casa de Jorge Amado voltar a abrir suas portas, quem passar por lá poderá conhecer a mesa onde o escritor redigia sua obras, a cadeira onde ele assistia à televisão ao lado da esposa, os sapos que eram a obsessão de Jorge e estão espalhados por todos os cantos da casa, além de conhecer o quintal, protegido pelo orixá Exu, onde Zélia e seu amado passavam as tardes sentados em um banco de azulejos, sob a sombra do pé de mangueira. Nesse lugar também estão depositadas as cinzas do escritor baiano.
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Gattai prepara novo livro
Zélia Gattai não pára suas homenagens ao seu amado Jorge e trabalha 24 horas por dia em sua nova obra. “Quando estou trabalhando não faço mais nada, gosto de ficar o tempo todo empenhada no livro. Esse é meu jeito de escrever, para não ocupar a mente com outra coisa e desviar o pensamento”, disse Zélia tentando dispensar a entrevista. Mas como toda escritora, ela gosta de falar e não foi difícil conseguir uma longa entrevista dessa senhora, principalmente quando se toca no nome de Jorge. Aliás, Jorge é sempre seu personagem, como diz a apaixonada esposa. Prova disso são os livros Um baiano romântico e sensual e A casa do Rio Vermelho, onde ela conta as histórias vividas em seu lar.
A inspiração em sua própria história não é um coisa incomum para Zélia, que gosta de por em palavras e letras os momentos mais importantes de sua vida. Assim Gattai fez com os livros memórias Anarquistas graças a Deus, Um chapéu para viagem, Senhora dona do baile, Jardim de Inverno, Chão de meninos e Cittá di Roma. A escritora também já se aventurou pelo mundo infantil, produzindo obras para os jovens leitores, como Pipistrelo das mil cores e O segredo da Rua 18.
Outra aptidão de Zélia é registrar a vida em fotografias. Assim ela virou a fotógrafa oficial do escritor baiano, guardando os momentos mais importantes de sua profissão e vida pessoal. Com tanto material, não seria difícil imaginar que Zélia uniria as três vocações: escritora, fotógrafa e amada esposa, para produzir um livro de foto-reportagem, intitulado Reportagem incompleta. Qual será a nova faceta e prova de amor de Zélia Gattai Amado?
Paula Pitta
Correio da Bahia