O Pará é o Estado com o maior número de ameaçados de morte, 40 no total, segundo levantamento realizado pelos agentes da CPT nos Estados e também com base em informações publicadas na imprensa.
A missionária norte-americana, Dorothy Stang, morta no último sábado, aparece na lista da CPT com registro em 9 de janeiro de 2004. Outro ameaçado da lista que também acabou executado por pistoleiros foi o funcionário público Nelson José da Silva, morto na chacina de Unaí (MG), no final de janeiro do ano passado.
Os 745 conflitos de terra ocorridos nos últimos dez anos (1994-2002) no Pará já contabilizam 212 mortos no campo. As ameaças no mesmo período atingiram 438 pessoas, sendo 78 em 2002, 61 em 2003.
Além dos números alarmantes, a situação se torna mais crítica, segundo dom Tomás, devido à lentidão da Justiça no julgamento dos crimes cometidos contra os lavradores.
Das 1.379 mortes registradas pela CPT entre 1985 e 2004, somente 75 casos foram julgados, sendo que apenas 15 mandantes e 64 executores foram condenados.
“Severa Profecia”
Para o presidente da CPT, a morte da irmã Dorothy é uma “severa profecia” sobre a gravidade dos conflitos de terra no Pará. Segundo ele, o crime organizado está instalado dentro das instituições do Estado no Pará. “Infelizmente há o envolvimento da polícia com pistoleiros”, disse.
Questionado sobre a possibilidade de federalização das investigações sobre a morte da missionária, dom Tomás disse estar certo de que a sua morte será investigada e exemplarmente punida, porque o caso já está sendo julgado pela opinião pública nacional e internacional. Mas ele alertou para a situação dos “pobres sindicalistas” que são julgados sob a influência dos fazendeiros e madeireiros. “O que importa é a raiz desse crime, dessa situação intolerável”, disse o presidente da CPT.
Proteção
Um dos coordenadores nacionais da CPT, Izidoro Revers, também criticou a postura do governo com relação ao oferecimento de proteção policial à irmã Dorothy. O governo federal informou que a irmã não recebeu proteção policial porque não quis.
Segundo ele, a proteção policial não evitou a execução do líder seringueiro Chico Mendes, no Acre, em 1988, porque a polícia é conivente com os pistoleiros. “A irmã sabia que a polícia não era confiável porque viu camponeses sendo presos em conflitos quando os autores dos crimes eram outros”, afirmou.
Dom Tomás reconheceu, no entanto, que a missionária buscava proteção e defesa para todos os trabalhadores da região e não apenas para si própria.
PATRÍCIA ZIMMERMANN
Folha Online