O levantamento feito até agora demonstra os efeitos danosos provocados pela má-gestão da saúde até dezembro do ano passado. A grande maioria das 22 unidades básicas e de Saúde da Família funciona em locais inadequados e precisa passar por reformas. De acordo com a diretora do Departamento de Atenção Básica, Mônica Moura Costa, os prejuízos para a população são incalculáveis.
A Prefeitura concluiu levantamento para definir as adequações que precisam ser feitas nas unidades. Equipamentos caros e importantes, como gabinetes odontológicos, foram sucateados. Segundo a secretária Vera Jasmineiro, o programa de saúde bucal ficou paralisado por falta de remédios e em função dos equipamentos sem condições de uso.
Os ex-gestores também deixaram de cumprir o cronograma do Programa de Saúde da Família (PSF), que será reestruturado pelo atual governo. Ilhéus conta apenas com 12 equipes de PSF, mesmo tendo cerca de 250 mil habitantes. De acordo com as metas do Projeto de Expansão e Consolidação do Saúde da Família (Proesf), o município deveria ter implantado 23 equipes até dezembro do ano passado.
O orçamento deixado para o programa em 2005 é de apenas R$ 360 mil, valor bem abaixo do ideal e que compromete as políticas de ampliação do PSF. “Vamos buscar financiamento do Ministério da Saúde para que possamos ampliar o Programa”, afirma a secretária.
Prioridades
O governo estipulou como prioridades a recuperação das unidades de saúde, além da recomposição da frota. Conforme vistoria realizada por técnicos do setor, dos 36 veículos pertencentes à Secretaria de Saúde, apenas cinco estão em condição de uso, o que contribui para emperrar ainda mais os serviços prestados à população.
O descaso atingiu outros programas importantes, como o de atenção a pacientes hipertensos e de combate à dengue. A rede de atenção básica não possui, hoje, estoque de medicamentos para distribuição a pacientes que sofrem de hipertensão. Lotes de mais de 300 mil comprimidos de hipertensivos, como o propanolol, captopril e hidroclorotiazida, foram encontrados com o prazo de validade vencido.
Os remédios – que deveriam ser fornecidos gratuitamente aos pacientes – estavam armazenados na Farmácia do Povo e na Unidade de Saúde Herval Soledade, no Pontal. A caixa com 30 comprimidos de um dos medicamentos que se deixou perder tem custo superior a R$ 40,00.
Ameaças à saúde
Dentre as medidas tomadas no plano emergencial de recuperação da saúde em Ilhéus, está a contratação, através de seleção pública, de agentes para o combate à dengue e outras endemias. Segundo dados da 6ª Dires, os ex-gestores cumpriram somente um ciclo de visitações domiciliares para a eliminação de focos do mosquito transmissor da dengue, o Aedes aegypti. Havia risco de a cidade enfrentar uma epidemia da doença, pois deveriam ter sido realizados seis ciclos de visitação.
Uma auditoria levantou que os agentes de combate à dengue faziam outras funções ou tinham mais de um emprego. Vera Jasmineiro ressalta que os novos funcionários já estão sendo treinados e começarão a trabalhar logo após o Carnaval.
A Prefeitura também adotou medidas para permitir que pacientes com determinadas enfermidades sejam tratados no próprio município. É o caso dos portadores de hepatite, que antes precisavam buscar atendimento em Itabuna. “Hoje, esse tratamento é proporcionado pela própria rede básica local”, assegura a secretária.
Posto de saúde funcionava
como oficina mecânica
A população do Pontal e adjacências sempre reclamou da qualidade do atendimento oferecido na unidade de saúde Herval Soledade. Comum a toda a rede, a insatisfação dos usuários do SUS aumentou ao se descobrir que parte da unidade do Pontal era usada não para atender pacientes, mas para fazer consertos de carros não apenas da própria Secretaria, como também veículos particulares. A oficina funcionava próxima à área de almoxarifado do Herval Soledade.
“Nós já determinamos a remoção da oficina”, afirma a diretora do departamento de Atenção Básica, a médica Mônica Moura Costa. O pior é que a oficina, além de funcionar em local inadequado, não deu conta de tanta destruição. “Existem três ônibus para o serviço de atendimento móvel de saúde, mas um deles está completamente destruído e os outros dois precisam de reparos”, aponta a diretora.