fevereiro e de 10 a 28 de março, quando ocorre o fenômeno andada do
caranguejo, e os machos e as fêmeas saem das tocas para acasalamento.
Segundo informações do Ibama, os caranguejos dependem desse momento para a
sua reprodução e manutenção da espécie nos manguezais. A captura, nesses
períodos, além de ser crime ambiental, diminui a quantidade de caranguejos
nos mangues.
Antigamente, quando ninguém dependia do caranguejo para sobreviver, os bichos eram capturados só na época da “andada”, quando são menos ariscos e saem de suas tocas caminhando vagarosamente, totalmente vulneráveis. O estranho comportamento está ligado à época da reprodução. No litoral baiano, dizia-se que andavam ao atá – o mesmo que andar à toa ou às tontas. Hoje, há populações litorâneas que vivem quase exclusivamente da coleta dos caranguejos. São chamados de “povos da lama”.
Além da atividade ter se intensificado, muitos catadores passaram a coletá-los indiscriminadamente. Não se sabe com exatidão, mas há indícios de que a população de caranguejos está se ressentindo. São duas as espécies encontradas no país que têm interesse econômico, pela abundância e porte avantajado: o caranguejo-uçá e o guaiamu ou guaiamum. O primeiro vive no interior do mangue, na parte sob influência das marés; o outro, nas bordas, em locais mais secos, sombreados pelas matas ciliares. No Estado de São Paulo, o guaiamu virou uma espécie rara, devido à pesca excessiva e principalmente pela destruição de seu hábitat.
Nos mangues do Pará, há informações de que o tamanho médio dos caranguejos está diminuindo ano a ano, dificultando a vida dos catadores. Seria injusto dizer que somente a pesca indiscriminada é responsável pela diminuição dos estoques dos crustáceos. O aterro dos mangues, as indústrias que lançam o esgoto nos rios e o desmatamento contribuem para a quebra da cadeia alimentar, expulsando e eliminando espécies.
Além da pesca ser cada vez mais intensiva, novas técnicas fazem com que os animais sejam capturados durante todo o ano e sem distinção. A armadilha de ráfia é uma delas. O catador coloca na entrada da toca um emaranhado de fios. Quando o caranguejo sai para se alimentar, acaba se enroscando e fica preso, seja ele jovem, adulto, macho ou fêmea. Outra, bastante cruel, consiste em jogar uma pedra de carbureto dentro da toca.
Em contato com a água, o material libera um gás que obriga o animal a sair rapidamente, podendo até causar sua morte. Esta técnica deixou de ser usada pois o gás afeta a carne e prejudica o sabor. Alguns catadores pescam à moda indígena, retirando só a pinça. O problema é que o corte deve ser feito na articulação junto à base e, na maioria das vezes, o apêndice é retirado sem nenhum cuidado, danificando estruturas respiratórias ligadas à pinça e causando a morte do bicho.
O conhecimento científico sobre o caranguejo-uçá e o guaiamu é muito restrito, o que torna difícil estabelecer regras para a captura. Para se ter uma idéia dessa dificuldade, há uma portaria em vigência que estabelece a época de defesa, quando a captura é proibida, que vai de 1º. de setembro a 15 de dezembro, para as regiões Sul e Sudeste. Porém, esse período foi baseado em informações vindas do Nordeste.
Outra portaria proíbe a pesca de caranguejas ovadas. Pesquisadores do departamento de biologia aplicada da Unesp – Universidade Estadual Paulista de Jaboticabal estão fazendo um grande estudo sobre a biologia do caranguejo-uçá na região de Iguape, no litoral de São Paulo, o “Projeto Uçá”. Desde setembro de 1998, uma população está sendo analisada por meio das 150 amostras coletadas por mês, que são congeladas, pesadas, medidas e classificadas em grupos de interesse, para serem mensuradas.
Um maior conhecimento sobre a biologia dos caranguejos poderá ajudar os órgãos fiscalizadores a adotar critérios para regulamentar a pesca, de forma que não seja predatória. A delimitação exata da época reprodutiva, por exemplo, está sendo estabelecida pela análise do percentual de fêmeas ovadas nas amostras.
Sabe-se que o uçá se reproduz na época quente do ano. Por enquanto, os pesquisadores encontraram fêmeas ovadas de novembro a março, com maior porcentagem em dezembro. Espera-se que, com os resultados finais do projeto, as leis de defesa sofram modificações.
Outra maneira de diminuir a pressão sobre a população de caranguejos seria a criação em cativeiro. Muita gente tem se interessado por isso. Porém, ainda há empecilhos que inviabilizam esse tipo de criação. Quando os ovos do caranguejo-uçá eclodem, as larvas seguem para o mar. À medida que se desenvolvem, vão voltando ao mangue. Em uma criação, a salinidade tem que ir se modificando de acordo com os estágios das larvas. Assim também acontece com a alimentação, específica para cada estágio larval.
Acrescenta-se a isso a grande mortalidade natural das larvas, extremamente frágeis. Pesquisadores da Unesp conseguiram, em laboratório, passar por todos os estágios de larva em pequena escala. Mas uma criação comercial ainda não é viável. Há uma tradição caiçara de criar guaiamus, a outra espécie procurada pelos pescadores, em chiqueiros, alimentando-os de restos de comida. Porém, aí eles não procriam, só engordam.
Nomes científicos: Ucides cordatus (caranguejo-uçá) e Cardisoma guanhumi (guaiamu) são os caranguejos de importância econômica encontrados no país.
Classificação: pertencem ao subfilo dos crustáceos e infraordem dos braquiúros (Brachiura). Esse grupo compreende os caranguejos e os siris. O que diferencia o siri é a última pata, em forma de remo, que dá capacidade para ele nadar. Os braquiúros litorâneos compreendem cerca de 30 famílias, 700 gêneros e 5.000 espécies. O caranguejo-uçá pertence à família dos ocipodídeos, e o guaiamu, à dos gecarcinídeos.
Características: crustáceos com dez patas e abdômen completamente dobrado por baixo do cefalotórax, a parte central do corpo revestida por uma carapaça. O primeiro par de patas tem uma grande pinça móvel, usada para captura de presas e defesa. Em geral, as fêmeas são menores que os machos. A diferença mais evidente entre o uçá e o guaiamu é que o primeiro é menor e tem patas avermelhadas e muito peludas. Já o guaiamu á azulado e possui uma das pinças bem mais desenvolvidas que as do uçá.
Reprodução: após o acasalamento, a massa de ovos é carregada sob o abdômen da fêmea, externamente. A desova é feita na água, coincidindo com as maiores marés em dias de lua cheia ou nova. Assim, as larvas são carregadas para o oceano na vazante e aproveitam as águas mais salinas, ideais para o seu desenvolvimento. Tornam-se adultas aos 10 ou 12 meses.
Crescimento: o desenvolvimento dos caranguejos ocorre com as mudas de sua casca. A carapaça dura que envolve o corpo impede o crescimento. Periodicamente, o animal sai da carapaça antiga e produz uma nova. Nessa fase, fica com o corpo mole, recoberto por uma camada de quitina (substância que reveste os artrópodes). É quando se dá o crescimento. Em um curto espaço de tempo, começa a aumentar de tamanho até que a película de quitina endureça, impedindo que continue crescendo.
Hábitat: a maior parte dos caranguejos é de ambientes marinhos. Há também caranguejos de água doce e terrestres. O guaiamu vive nas bordas do mangue, e o uçá, no interior, fazendo tocas entre as raízes.
Distribuição geográfica: o guaiamu e o caranguejo-uçá ocorrem no Atlântico Ocidental, da Flórida, Sul dos Estados Unidos, ao Brasil. No litoral brasileiro, o guaiamu é encontrado do Nordeste a São Paulo, e o uçá, do Pará a Santa Catarina.
Alimentação: o guaiamu é onívoro, ou seja, come de tudo – vegetais e animais; o uçá é herbívoro.
Usos: a carne é apreciada na culinária, a quitina do exoesqueleto tem vários usos médicos, cosméticos e alimentares, e as vísceras podem ser processadas para aproveitamento em rações para animais.