Na opinião do advogado Aristótenes Moreira, o governo federal está cobrando indevidamente aos produtores de cacau que aderiram ao Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira, que tiveram suas operações vencidas no último dia 15 e que agora estão sendo cobrados pelo Banco do Brasil e ameaçados de ter o nome negativado junto ao sistema bancário nacional. “Essa dívida que eles cobram é do próprio governo, gerada pelo governo, que induziu o produtor a adquirir um pacote tecnológico da Ceplac, que não deu resultado algum”, disse o advogado, ao participar ontem de uma reunião no Sindicato Rural de Ilhéus, na presença de 60 agricultores de todo o sul da Bahia. “Este valor além de ser indevido, dá possibilidade ao produtor de pedir uma indenização pelos lucros cessantes e pelos danos morais que o governo lhes causou. E eu estou à disposição de vocês”, disse Moreira.
Juros escorchantes
Produtor de cacau, João Silva é um dos mais indignados. Ele contraiu um empréstimo de R$ 17.409,08 junto ao Banco do Brasil em 21 de novembro de 95, com vencimento em julho de 2001. De acordo com o banco, este débito hoje está em torno de R$ 100 mil. Silva não concorda com o valor cobrado. Contratou recentemente uma empresa de assessoria em Defesa Rural, em São Paulo, que refez os cálculos. De acordo o a empresa, esta dívida, toda atualizada, é, na verdade, de R$ 28.523,99. “Eu já propus ao banco ficar com a minha fazenda porque não tenho como pagar. Mas eles não querem. Dizem que o débito é maior que o patrimônio”, lamenta João Silva.
Segundo o produtor, a maioria dos fazendeiros de cacau está nesta situação vexatória, sem condições de pagar as primeiras parcelas dos CNT´S (Certificado do Tesouro Nacional), porque em janeiro ocorreu uma coincidência incrível e inaceitável de vencimentos dos financiamentos do Programa de recuperação da Lavoura, com juros referentes à primeira parcela da terceira etapa do Pesa (Programa de Saneamento de Ativos) e a primeira parcela dos CNT´S.
“Esta reunião é no sentido de impedir que o Banco do Brasil coloque os produtores na lista negra”, explica o presidente do Sindicato Rural de Ilhéus, Isidoro Gesteira, salientando que a ação política que vem sendo desenvolvida principalmente pelos deputados Josias Gomes (PT/Ba) e Gedel Vieira Lima (PMDB/Ba) junto ao Governo Federal, vai continuar. O que mais preocupa neste momento as entidades ruralistas, é que, quando os produtores de cacau assinaram os contratos junto ao Banco do Brasil, autorizaram o saque automático do dinheiro disponível na conta do produtor. “Se não pagarmos, os nossos nomes irão pro Serasa”, informa Lavigne. O advogado Aristótenes Moreira garantiu que, nos próximos dias, fará um plantão da sua banca de advogados no Sindicato Rural, para atendimentos individuais aos produtores.