REFERÊNCIA – O administrador do Bataclan, Pawlo Cidade, avalia como extremamente positiva a movimentação de um público de dez mil pessoas, evidenciando que o local é hoje uma importante opção e uma referência cultural de Ilhéus, “é um espaço diferente, ímpar, onde o passado foi resgatado numa dimensão atual. Aqui, temos um café, áreas para ouvir boa música, dançar e que oferece uma programação ampla e diversificada”.
Esta semana, por exemplo, ele observa que o espaço oferece ao lado de eventos diversos um exposição coletiva com a participação de sete artistas emergentes ilheenses. Um outro detalhe para o qual chama a atenção, é que a maior movimentação de visitantes tem sido no período da tarde e da noite, embora durante a manhã sejam registradas visitas de grupos de estudantes e turistas que viajam em excursão, “mas o que é também importante é que a própria comunidade ilheense tem visitado e utilizado este equipamento cultural”, complementou.
MARIA MACHADÃO – Hoje, o espaço mais procurado pelos turistas tem sido o Quarto de Maria Machadão e o memorial que funciona num anexo, e eles, segundo o administrador do Bataclan, procuram saber sobre tudo, inclusive se a personagem existiu, “há mesmo quem queira até ver uma foto da cafetina que explorava no romance o bordel e a casa de jogos.” O Bataclan está localizado no centro histórico, na praça José Marcelino e avenida 2 de Julho, que era no passado a antiga praça da feira da cidade e um ponto de desembarque de pescadores e moradores de áreas ribeirinhas e da costa ilheense, que tem quase 100 quilômetros de praias.
Durante a Semana Jorge Amado de Cultura e Arte, o Bataclan foi visitado pela filha de Jorge Amado, Paloma Amado, que fez o lançamento do seu livro “A Comida Baiana de Jorge Amado”, numa noite de autógrafos ao lado da historiadora Maria Luiza Heine, autora “Jorge Amado e os Coronéis do Cacau”, que compara o conteúdo histórico e o ficcional na obra do maior escritor baiano e que revelou Ilhéus para o Brasil e para o mundo, com livros publicados em mais de 50 idiomas.
RECONSTRUÇÃO – Responsável por cada detalhe do projeto de reconstrução do Bataclan, a arquiteta Tatyana Bomfim, o considera como resultado de um esforço que consumiu três anos de trabalho intenso e resultado de uma pesquisa documental, de entrevistas e até mesmo com a realização de escavações no local, uma vez que não havia planta original e nem o registro fotográfico dos espaços. Ela explica que obra literária de Jorge Amado serviu como uma referência conhecida para uma ilheense e se orgulha de ter participado de um projeto que lhe abriu novos horizontes na área profissional.
Ela compara o trabalho com um esforço arqueológico, aproveitando as linhas básicas da alvenaria e com a montagem de um grande quebra-cabeças, pois até as paredes estavam comprometidas em consequência de infiltrações e de sua contínua exposição à chuva e à própria erosão provocada pelo tempo. Elogiou a preocupação do prefeito Jabes Ribeiro que apoiou integralmente o projeto de reconstrução do Bataclan e em projetos como o do Quarteirão Jorge Amado, que resgata o centro histórico da cidade, “até porque Ilhéus tem muitas construções bonitas, muitas das quais sendo preservadas e recuperadas, enriquecendo ainda mais o próprio projeto do Quarteirão Jorge Amado, uma proposta válida e um trabalho que precisa ser continuado”.
Em sua estrutura atual, o Bataclan comporta espaços diversos como um cyber-café, lanchonete, loja de artesanato e de lembranças de Ilhéus, além de um espaço temático, o quarto de Maria Machadão, que funciona como uma espécie de museu, que fica ao lado de um memorial com fotos e textos sobre Ilhéus, com citações extraídas da obra de Jorge Amado.
HISTÓRIA – O Bataclan está localizado estrategicamente próximo ao antigo porto e junto ao cais da antiga feira de Ilhéus, local de maior movimentação da cidade, onde atracavam os saveiros que chegavam de toda a região, ponto de passagem obrigatória de boêmios, coronéis do cacau, jagunços, marinheiros e intelectuais atraídos pelas belas mulheres. A casa noturna funcionava como um borde, cassino e era um importante centro de lazer, negócios e mesmo de decisões políticas que influenciavam na vida da cidade, mas acabou imortalizado como um dos cenários do romance “Gabriela, cravo e canela”.