O evento é raro e acontece apenas duas vezes em cada século, aproximadamente. A última ocorreu em 1882. A próxima, em 2012, não será visível do Brasil. E, depois dela, novas oportunidades só voltarão a surgir no século 22.
“Esse é o primeiro trânsito de Vênus na frente do Sol desde que a espectroscopia astronômica quantitativa foi inventada, então é nossa primeira chance de usar a tecnologia para observar de perto o trânsito de um planeta com atmosfera”, explica o cientista.
O mesmo processo pode ser aplicado também a trânsitos de planetas extra-solares na frente de suas respectivas estrelas –mas, nesse caso, os desafios para a coleta de dados, dada a enorme distância, são hercúleos.
“Observações de planetas extra-solares tão precisas e interessantes quanto as de Vênus não vão acontecer em meu tempo de vida ou no de meus filhos”, diz Brown. “O que podemos ver em Vênus hoje antecipa o que será visto em planetas longínquos muito depois de eu ter morrido. Pode-se dizer que estou tapeando o tempo.”
Em seu estudo original do planeta ao redor da estrela HD209248, localizada a 150 anos-luz da Terra, Brown detectou traços de sódio. Na continuação desse estudo, ele está à caça da “assinatura” do dióxido de carbono. Para tanto, usará novamente o Telescópio Espacial Hubble.
Passagem solar de Vênus pode indicar vapor d’água no planeta
Amanhã, quando Vênus começar a passar sobre o disco solar, Timothy Brown usará essa rara oportunidade para procurar vapor d’água na atmosfera daquele planeta. Num evento com sabor mais histórico que científico, o cientista americano espera coletar novos dados sobre o vizinho planetário mais próximo e, paradoxalmente, inspirar estudos de astros muito mais longínquos.
Não que ele já não tenha provocado coisa parecida no passado; o pesquisador, que trabalha no Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos EUA, fez parte da equipe que, usando o Telescópio Espacial Hubble, pela primeira vez detectou traços de uma atmosfera num planeta localizado nas imediações de outra estrela que não o Sol. Usando método similar, ele agora tentará desvendar os mistérios do ar venusiano.
“Eu espero fazer um acréscimo substancial ao conhecimento de uma região atmosférica não muito bem observada no passado”, afirma o pesquisador,. “Mas o experimento também será fonte de grande inspiração e motivação para a investigação de atmosferas de planetas extra-solares.”
SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo