crescendo cinco vezes mais do que a população.
Os dados referentes à produção de residuos sólidos mostram que o cenário
atual já é pra lá de preocupante. A cada ano, cada consumidor descarta em
média um volume de lixo equivalente a 10 vezes o peso do próprio corpo.
Essa informação ganha dimensão ainda maior quando aliada ao fato de que o
ritmo de produção de lixo tem sido cinco vezes superior ao do crescimento
da população brasileira.
uma produção diária de 156 mil toneladas de lixo no País, das quais apenas
1% é reciclada. Apesar de a Bahia não contar com números precisos,
especialistas do setor indicam que o Estado segue o mesmo quadro nacional
em termos de reciclagem.
“Uma das nossas demandas é justamente conseguir reunir dados confiáveis
referentes ao Estado”, comenta Maria de Fátima Espinheira, coordenadora do
Fórum Lixo & Cidadania na Bahia. Um outro desafio, destaca, é envolver
todos os segmentos da sociedade em torno da questão do lixo, por acarretar
consequências nas mais diversas áreas, como saúde, saneamento, agricultura,
meio ambiente e no social.
O evento “Construindo Cidades Sustentáveis”, realizado até ontem em
Salvador, é definido por Maria de Fátima como um marco nesse processo de
integração entre os agentes da sociedade. “Fiquei impressionada com o
resultado do seminário. Auditório lotado, público eclético e representativo
dos diferentes segmentos da sociedade”, comentou.
Mas este é apenas o primeiro passo. Os problemas ainda são inúmeros:
lixões, falta de conscientização da população, consumo desenfreado
estimulado pela cultura do descarte, resíduos industriais e falta de
articulação institucional.
Com o apoio do Instituto Ernesto Simões, no entanto, o Fórum Lixo &
Cidadania ganha novo fôlego. “Pretendemos manter a parceria para promover
atividades mobilizadoras que visem ampliar o número de parceiros e ações em
outras áreas do Estado, de forma que se consiga minimizar a produção de
resíduos, aumente a reciclagem e conscientização com relação ao trato e
manejo do lixo”, idealiza Maria de Fátima.
Segundo um dos coordenadores da comissão executiva do Seminário, Waltenn
Garrido, durante todo este ano, o Instituto Simões Filho (ISF) continuará
tratando como prioritário o tema “resíduos sólidos”. “Este é um problema
que afeta todas as classes sociais e que ameça a própria sustentabilidade
do planeta”, aponta.
O diretor de A Tarde e diretor-superintendente do ISF, Silvio Simões,
destacou a importância de se ter consciência de que o modelo vigente de
desenvolvimento está degradando o homem e a natureza. “A expectativa do
Instituto é reunir essa inquietação que vem surgindo a partir da percepção
de que precisamos mudar nossas atitudes para ajudar a começar a transformar
e criar uma nova consciência diante da vida”.
Falta legislação – Apesar da urgência de se identificar mecanismos de
combate à produção desenfreada de lixo, ainda não há no País uma política
nacional dos resíduos sólidos. Essa questão foi o foco da apresentação de
vários palestrantes que compuseram a mesa de debates durante o último dia
do Seminário “Construindo Cidades Sustentáveis”.
Representando o deputado federal do PV Leonardo Mattos, Aparecida Andrez,
mostrou o longo percurso de mais de uma década na Câmara dos Deputados do
projeto de lei que tem como objetivo integrar, articular e disciplinar
ações de gestão de resíduos. “Não é uma matéria fácil. E as divergências
são, fundamentalmente, quanto à responsabilização pós-consumo”, explica.
O presidente da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de limpeza
Pública e Resíduos Especiais), Eduardo Castagnari, também destacou a
importância prática de uma política nacional, mas ressaltou ainda o papel
das políticas estaduais. “O gerenciamento adequado dos resíduos exige
diretrizes establecidas por políticas públicas. E no Brasil se faz urgente
a adoção do princípio de poluidor-pagador”, defende.
Na Bahia, a dificuldade é ainda maior. “Temos um problema grave aqui. Não
se legisla no legislativo. Quem legisla na Bahia é o executivo”, acusa o
deputado estadual, Zilton Rocha, que faz parte da comissão do Meio Ambiente
da Assembléia Legislativa. “Mesmo assim, temos apresentado vários
projetos”, acrescenta.
Incentivo – Além de punir e penalizar as ações ambientais negativas, o
superintendente de Políticas Ambientais da Secretaria do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, Emmanuel Mendonça, ressalta a importância de se criar
incentivos para as empresas que adotam comportamento adequado com o meio
ambiente.
Por enquanto, a única iniciativa nesta linha e o Prêmio Bahia Ambiental,
que reconhece as melhores iniciativas privadas ecologicamente corretas,
cuja inscrição permanece aberta até o próximo dia 20. “É preciso também
criar fundos adequados de apoio ao meio ambiente, mas ainda não conseguimos
ter aqui”, lamenta.
Representantes de organizações não-governamentais e cooperativas de
catadores de lixo também participaram dos últimos debates do seminário, que
foi encerrado com a apresentação do Bagunçaço, um grupo formado por jovens
do subúrbio que criam instrumentos musicais a partir de materiais recicláveis.
Fonte:www.atarde.com.br