terça-feira que seu filme mais recente, “La Mala Educación”, poderia ser
enquadrado no gênero “noir” dos anos 1940, “no qual a intriga provém do que
há de mais profundo no ser humano”.
O novo e polêmico longa-metragem é baseado nos abusos sexuais cometidos
contra crianças num colégio católico na Espanha franquista do início dos
anos 1960.
Ganhador de dois Oscar , um de melhor filme estrangeiro por “Tudo Sobre
Minha Mãe” e outro de melhor roteiro original por “Fale Com Ela” , o
diretor disse que amadureceu como cineasta e reconheceu que seu novo
trabalho e os dois acima mencionados são testemunhos de sua evolução.
“Estou mudando”, disse ele. “Estou cada vez mais grave, ou, melhor dizendo,
mais triste. Tenho consciência dessa mudança e gosto dela”, explicou
Almodóvar numa coletiva de imprensa lotada.
que um dos projetos nos quais está trabalhando no momento faz parte desse
gênero.
Almodóvar, que estudou em colégios católicos, disse que “La Mala Educación”
não é um filme autobiográfico, mas reconheceu que aproveitou suas próprias
experiências e as de pessoas que o cercam para criar o filme, em cujo
roteiro vinha trabalhando havia mais de dez anos.
Os protagonistas do filme, o mexicano Gael García Bernal (“Amores Brutos”)
e o espanhol Fele Martínez (“Tesis”), representam a entrada na idade adulta
dos dois meninos que, no colégio, passaram medo e foram vítimas de abusos
por parte do diretor da escola, interpretado por Daniel Giménez Cacho.
Em seu 14o filme como diretor, Almodóvar se mostrou orgulhoso do elenco, do
qual também fazem parte Javier Cámara, Lluis Homar e Francisco Boira, e
destacou especialmente a “falta de preconceito” de Giménez Cacho e Homar,
que interpretam pedófilos.
A LEI DO DESEJO
Sobre o cada vez mais internacional García Bernal, que em boa parte do
filme aparece vestido de mulher, Almodóvar ressaltou que “ele precisou
afeminar-se muito e imitar Sara Montiel”.
Almodóvar reconheceu que as duas épocas em que a história acontece — a
infância dos protagonistas, em 1964, e seu reencontro, anos mais tarde, em
1980 — são as que mais marcaram sua própria vida.
Nos anos 1980, o diretor foi um dos mais importantes integrantes do
movimento cultural conhecido como “La Movida”, em Madri.
Almodóvar disse que “A Lei do Desejo”, protagonizada pelo ainda jovem
Antonio Banderas, em 1986, é o filme que mais apresenta coincidências com
“La Mala Educación”. Em documento entregue à imprensa, ele reconheceu que a
história do filme atual teve sua origem no trabalho de 1986, sobre um
transexual encarnado por Carmen Maura.
“La Mala Educación”, que vai abrir o Festival de Cannes e será o primeiro
filme espanhol escolhido para inaugurar a mostra em seus 57 anos de
história, se aventura em terrenos ambíguos ao tratar de frente da
homossexualidade e dos abusos cometidos por membros do clero.
Não obstante, Almodóvar não tem medo da rejeição. Ele explicou: “Não é por
deixarmos de falar nelas que as coisas deixam de acontecer. É preciso
contar o que acontece. A vida é assim, repleta de voltas e reviravoltas”.