Todo final ano é a mesma coisa. Com menor ou maior intensidade, o período consegue estimular diversas reflexões e profundas análises sobre o que deu e o que não deu certo, o que foi possível e o que não foi possível realizar, o que virou realidade e o que continua insistindo em ficar apenas no papel. Uma das coisas mais engraçadas do final de ano é o conjunto de promessas que caracteriza as boas intenções de uma infinidade de pessoas. “No próximo ano vou fazer um regime”, “depois das férias, vou voltar a estudar”, “2004 vai ser diferente. Vou me dedicar mais a minha família”. “Em janeiro vou retomar a reforma lá de casa”. E por aí vai. Por conta disso, o ano que ainda não nasceu torna-se pródigo em realizações potenciais e, não raras vezes, destituídas de qualquer impulso verdadeiramente volitivo.
Se a chegada de um novo ano suscita reflexões é porque os seres humanos costumam errar e acertar. Como é óbvio, os acertos devem ser preservados. Diversamente, os erros precisam estimular mudanças de rota e repaginações existenciais. Conheço pessoas que permanecem na infelicidade porque não conseguem romper com coisas simples, viabilizar projetos factíveis ou simplesmente dar o primeiro passo em direção aos seus sonhos. São tomadas por uma inércia tão gigantesca que a mesmice acaba sendo um bom negócio. No início do século passado, o pensador americano Paul Kerner disse que “o homem que não alimenta seus sonhos não é digno do oxigênio que respira”. Exageros à parte, somos obrigados a reconhecer que sobra pouco do brilho humano quando as pessoas não mudam com as perdas, fracassos, equívocos e mazelas que caracterizam o mundo.
A existência humana é recheada de ingredientes que permitem mutações de vários tipos. Por isso, feliz do ser humano que foi melhorando com o tempo e que, estimulado pelo desejo de crescimento interior, vive diariamente essa busca. Precisamos sair do lugar, dar vazão às nossas inquietações e fornecer um pouco mais de sentido aos nossos cotidianos. Assim, que a passagem de ano não seja apenas uma festa, um mero esvaziar de gavetas ou uma relação de intenções que provavelmente continuarão apenas no plano abstrato. Que ele traga, mais do que qualquer coisa, a convicção de que não viemos aqui para sermos mais um na multidão. Fomos criados por Deus, entre outras coisas, para construirmos um mundo melhor e, principalmente, para continuarmos evoluindo mental e espiritualmente.
Alex Malta Raposo